domingo, 18 de março de 2018

MEMORIA & LEMBRANÇAS (ao ex-senador Jefferson Peres, in memorian)


Em 1978 quando retornei à capital em um motor regional cheia de passageiros e cargas, a embarcação atracou no porto ainda improvisado da capital, fui recebido pela voz potente do locutor Kimura falado por duas bocas de “ferro” (autofalantes) apontadas para à margem do rio, fazendo seus avisos e propagandas de lojas que funcionavam, na época! Era a voz que se ouvia pelas “bocas de ferro”, na “Voz Praiana” instalada no segundo andar da varanda de um comércio de produtos também destinados aos municípios do Amazonas.


Encantei-me com carroças e me perdi vendo-me pela primeira vez o meu rosto na calota magica de taxi fusca: aproximava e engordava; afastava, emagrecia, mais magro do que aparentava meus 22 quilos que possuía aos 8 anos de idade. Também no porto de Manaus, ao trocar a comunidade do Varre-Vento pela capital, fui recebido por carroças e seus “cheira-peidos” puxei do bolso da bermuda que usava na ocasião e. Antes de entrar no táxi, entreguei ao motorista um bilhete com o endereço. Entrei em seguida para que me levasse até o local. Era o da casa de madrinha Natércia Januário Calado, no Morro da Liberdade, tudo como minha mãe recomendara e aonde passaria a residir com vários outros "Calados" e decidi vender picolé pelas ruas da cidade. Não queria ser mais um. O mais velho dos filhos da minha madrinha, era o Doca, concursado e nomeado como fiscal do município de Manaus! Lembro-me dele entrando em casa para o almoço e cumprimentando-me "e aí meu vestibulando". Eu lá sabia o que era "vestibulando", mas sorria para ele

As carroças desfilavam com elegância pelas ruas de paralelepípedos Manaus, transportando todo tipo de mercadoria e, às vezes, alguns passageiros também. 


Talvez tenha sido o prefeito Jorge Teixeira de Oliveira, chamado de "arboricida" no púlpito da ALE/AM pela então deputada estadual Beth Aziz, antiga colunista do Jornal A Crítica. Ele também tomou a decisão de derrubar as mangueiras da hoje Constantino Nery, antiga João Coelho e também todas as palmeiras imperais que existiam na antiga praça da Matriz, por onde pisei em cima de trilhos de bonde circularam pelas ruas em Manaus da saudade e decidiu abrir novas ruas, e construir a estação de ônibus que existe até hoje!

Jorge Teixeira teve a coragem também de autorizar a derrubada dos pés de seringueiras do antigo Seringal Mirim, para construir a Subestação da hoje Amazonas Energia e abrir a primeira rua de oito pistas em Manaus, a hoje congestionada Avenida Djalma Batista, coisa impensada para uma cidade de poucos automóveis...”Teixeira para que isso se poucos carros circulam em Manaus? ” A deputada Beth Aziz poderia ter lhe perguntado, antes de acusa-lo de ser um “arboricida” mas não o fez. Hoje, provavelmente, à crítica fosse elogiada porque não se consegue se circular de carro por falta de novas pistas na cidade!

A cidade de Manaus atingiu o progresso a partir do ano em que desembarquei e um ano após a implantação do Modelo Zona Franca de Manaus, mas que nunca investiu no social como poderia ter sido feito. Nem um hospital existe para atender aos seus colaboradores. Ele destruiu as lembranças das carroças, dos igarapés e das catraias que ligavam vários bairros que vivi na minha infância...

Sinto saudades e registro nas lembranças. Mas não posso deixar de admitir que o progresso pode caminhar junto com o progresso, basta querer!



Um comentário:

  1. João Batista de Filho/\MG/20 de março de 2018 às 18:34

    Olá Carlos,Que bom poder conhecer mais um pouco de sua antiga Manaus através de suas palavras. Parabéns por valorizar estas preciosas lembranças ...

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