Em 1978 quando retornei à capital em um motor regional cheia de
passageiros e cargas, a embarcação atracou no porto ainda improvisado da
capital, fui recebido pela voz potente do locutor Kimura falado
por duas bocas de “ferro” (autofalantes) apontadas para
à margem do rio, fazendo seus avisos e propagandas de lojas que funcionavam, na
época! Era a voz que se ouvia pelas “bocas de ferro”, na “Voz
Praiana” instalada no segundo andar da varanda de um comércio de
produtos também destinados aos municípios do Amazonas.
Encantei-me com carroças e me perdi
vendo-me pela primeira vez o meu rosto na calota magica de taxi fusca:
aproximava e engordava; afastava, emagrecia, mais magro do que aparentava meus
22 quilos que possuía aos 8 anos de idade. Também no porto de Manaus, ao trocar
a comunidade do Varre-Vento pela capital, fui recebido por
carroças e seus “cheira-peidos” puxei do bolso da bermuda que
usava na ocasião e. Antes de entrar no táxi, entreguei ao motorista um bilhete
com o endereço. Entrei em seguida para que me levasse até o local. Era o da
casa de madrinha Natércia Januário Calado, no Morro da Liberdade,
tudo como minha mãe recomendara e aonde passaria a residir com vários
outros "Calados" e decidi vender picolé pelas ruas
da cidade. Não queria ser mais um. O mais velho dos filhos da minha madrinha,
era o Doca, concursado e nomeado como fiscal do município de Manaus! Lembro-me
dele entrando em casa para o almoço e cumprimentando-me "e aí meu
vestibulando". Eu lá sabia o que era "vestibulando", mas
sorria para ele
As carroças desfilavam com elegância
pelas ruas de paralelepípedos Manaus, transportando todo tipo de mercadoria e,
às vezes, alguns passageiros também.
Talvez tenha sido o prefeito Jorge
Teixeira de Oliveira, chamado de "arboricida" no
púlpito da ALE/AM pela então deputada estadual Beth Aziz, antiga colunista
do Jornal A Crítica. Ele também tomou a decisão de
derrubar as mangueiras da hoje Constantino Nery, antiga João Coelho e também
todas as palmeiras imperais que existiam na antiga praça da Matriz, por onde
pisei em cima de trilhos de bonde circularam pelas ruas em Manaus da saudade e
decidiu abrir novas ruas, e construir a estação de ônibus que existe até hoje!
Jorge Teixeira teve a coragem também
de autorizar a derrubada dos pés de seringueiras do antigo Seringal
Mirim, para construir a Subestação da hoje Amazonas Energia e
abrir a primeira rua de oito pistas em Manaus, a hoje congestionada Avenida
Djalma Batista, coisa impensada para uma cidade de poucos automóveis...”Teixeira
para que isso se poucos carros circulam em Manaus? ” A deputada
Beth Aziz poderia ter lhe perguntado, antes de acusa-lo de ser um “arboricida” mas
não o fez. Hoje, provavelmente, à crítica fosse elogiada porque não se consegue
se circular de carro por falta de novas pistas na cidade!
A cidade de Manaus atingiu o
progresso a partir do ano em que desembarquei e um ano após a implantação do
Modelo Zona Franca de Manaus, mas que nunca investiu no social como poderia ter
sido feito. Nem um hospital existe para atender aos seus colaboradores. Ele
destruiu as lembranças das carroças, dos igarapés e das catraias que ligavam
vários bairros que vivi na minha infância...
Sinto saudades e registro nas
lembranças. Mas não posso deixar de admitir que o progresso pode caminhar junto
com o progresso, basta querer!
Olá Carlos,Que bom poder conhecer mais um pouco de sua antiga Manaus através de suas palavras. Parabéns por valorizar estas preciosas lembranças ...
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