domingo, 26 de outubro de 2014

CULTURA TAMBÉM É COMÉRCIO!


Cultura também é comércio!

Recebi dois CDs de Pablo Neruda e transportei-me para década de 80, quando exercia o jornalismo e recebi da Caderneta de Poupança Haspa, de SP, um livro com capa dura contando a Revolução Constitucionalista ocorrida em 32 e um LP com dos poetas Vinícius de Moraes e Carlos Drumond de Andrade, declamando poemas. Não existia Lei Rouanet, de incentivo à cultura e as duas obras foram produzidas em plena época da ditadura, com recursos próprios. Adorei os presentes recebidos na década de 80 e os que recebi do poeta Pojucan Bacellar, que veio visitar-me com sua esposa Ruth. Hoje a Lei Rouanet é usada para tecer críticas e atacar o cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque de Holanda, para dizendo que ele e sua família ficaram milionários recebendo patrocínios e por isso teria declarado seu voto à Dilma Rousseff. O cantor admitiu que votou a primeira vez na desconhecida Dilma Rousseff por que o ex-presidente Lula a indicou; mas agora, votará pelo que ela fez no campo social do Brasil.

Não desconheço que a Lei Rouanet, instituiu em seu artigo, o 2o do Programa Nacional de Cultura – Ponac e também os Fundos Nacional de Cultura (FNC), de Investimentos Cultural e Artístico (Ficart) e o de Incentivo a Projetos Culturais mas desconheço que o cantor, compositor e escritor Chico Buarque de Holanda ou qualquer membro de sua família, tenha recebido qualquer tipo de recurso de qualquer desses Fundos ou tenta aprovado algum projeto pela Lei para declarar seu apoio à reeleição de Dilma Rousseff. O cantor, compositor de músicas memoráveis e escritor de grande talento foi claro: na primeira vez, votou em Dilma Rousseff porque o ex-presidente Lula a indicara, mas o voto dele, agora, seria pelo que ela fez pelo bem social do Brasil,  e agora sem qualquer influência de Lula. 

Só quem não conhece o teor da Lei pode dizer tamanha asneira ou por maldade, influencia pessoal ou alguma influência politica no calor da disputa para a presidência, uma das mais envolventes e emporcalhadas por denúncias dos dois lados e, também, uma das mais acirradas ocorridas no Brasil, depois do derrotado projeto de Dante de Oliveira, das “Diretas Já” que permitiu  a redemocratização do país, pela insatisfação nas ruas. O Ministério da Cultura liberá dinheiro para poucos projetos e chancela muitos. Nunca procurei benefícios da Lei porque a considero burocrática, ineficaz, mas cumpre seu papel como deveria fazer: investindo em projetos com o que é feito no Chile! Como disse no início dessa crônica, cultura também é comércio e a prova disso foram os dois presentes que recebi do poeta e escritor amazonense que em viagem de turismo, comprou e me presentou dois CDs do mais expoente poeta da língua espanhola, Pablo Neruda, declamando seus próprios poemas. O LP com poemas que recebi de presente no passado, guardo-o até hoje. Não o escuto mais porque os aparelhos desapareceram do mercado e não consegui transferi-lo para CD e voltar a ouvi-lo de novo. Guardo porque é uma raridade e o livro conservo também como se fosse relíquia porque, talvez nunca mais se fará nada igual, com Lei ou sem Lei Rouanet ou parecido para vender como  cultura produzida pelo povo brasileiro. O livro sobre a Revolução Constitucionalista de SP, conservo-o para consultas, embora haja controvérsias históricas que contestam se a revolução foi mesmo constitucionalista ou não! Com relação ao LP dos dois poetas brasileiros, o único que conheço até hoje, apesar da existência da Lei Rouanet, que está sendo usada agora para atacar o cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque que lutou contra a ditadura com sua voz e pelas composições de duplo sentido, como “Cálice”, “Apesar de Você” e muitas outras de cunho político, como também o único poema político de Carlos Drumond de Andrade, “E agora, José?”, me fascinem até hoje, talvez nunca mais façam outras porque a Cultura é a única coisa que não interessa a ninguém A Lei Rouanet foi aprovada em 1991 e recebeu esse nome em  homenagem a Sérgio Paulo Rouanet, então secretário de cultura.  

Se Chico Buarque de Holanda ou alguém de sua família conseguiu ficar rico usando essa Lei, tenho dúvidas, mas dou meus parabéns ao cantor, escritor, compositor por ter tido à coragem de vir a público e declarar que votou em Dilma na primeira vez por causa do presidente Lula, mas agora vota nela de novo, por decisão consciente. Por isso ele está sendo duramente criticado e atacado pelas redes sociais. Cada um tem o direito de declinar voto para quem quiser, porque o voto é democrático, livre, mas secreto. No não foi o caso de Chico Buarque de Holanda. Muitos concursos literários e existiam até os anos 80 no Estado do Amazonas, como os Prêmios Banco do Estado do Amazonas- BEA, Suframa de Cultura (ganhei e tive o livro CARLA, CARLA E OUTROS CONTOS DA TERRA, publicado em1982),  Fundação Cultural do Amazonas, considerado pelos escritores o mais importante e muitos outros. Cheguei a participar de quase todos, mas ganhei apenas um, o da Suframa . Em 1982, ganhei um prêmio nacional na cidade de Paranavaí, no Estado do Paraná. Esses concursos como os Festivais de Música que lotavam estádios deveriam voltar a ser promovidos porque revelaram muitos talentos em todas as áreas que até hoje são referências, afinal, cultura também é comércio!

No Brasil, existiam os Festivais de Músicas que lotavam estádios e revelavam muitos cantores e Festivais Universitários que fazem sucessos até os dias de hoje. O “The Voice Brasil” nunca conseguiu firmar ninguém no mercado musical, porque a fama dos vencedores só ocorre de forma instantânea e logo passa e nada fica. Por que a Lei Rouanet não se presta a apoiar a apoiar e por que esses festivais de músicas não voltam em seus antigos formatos, menos elaborados e com maior abrangência! Não sei, mas suponho que a cultura esteja sendo desprezada como o resto dos valores. Na década de 80, no Teatro Amazonas, vi e ouvi os cantores Geraldo Azevedo e Elba Ramalho em suas primeiras apresentações. Elba vinha de uma carreira de atriz e Geraldo Azevedo a acompanhava no violão! Nessa década, havia mais cultura e o Amazonas chegou a possuir mais de 40 grupos de teatros amadores e até uma Federação que reunia todos os grupos teatrais, mas tudo isso desapareceu. É uma pena!

Mas se o cantor, compositor e escritor, Chico Buarque de Holanda ou alguém de sua família conseguiu ficar rico usando a Lei Rouanet, ele deve ter merecido por ser competente, inteligente e culto e porque também lutou muito pela redemocratização do Brasil!

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