sábado, 30 de agosto de 2014

CRÔNICA MUSICAL PARA ALVINA


Fui recebido à porta por um LP bolachão preto de Clara Nunes, andando na areia da praia e a água do mar lhe batendo aos pés. Encontrei a “Clara Guerreira”, agora silenciosa e desprezadamente guardado dentro de um saco plástico, junto com vários outros Lps de cantores também desprezados. Era uma casa simples, humilde, grande e confortável da amiga Alvina, que respira músicas de bolero, latinas e violão pelos poros de suas paredes, portas e janelas. Alvina abraçou-me e me arrastou para o quarto onde estavam a filha “Maroca”, a irmã Raimunda e minha esposa Yara Queiroz  Sentei com ao seu lado na cama para ouvir boleros interpretados por Eydie Gorme e Trio Los Panchos, que tocava. Ela me puxou para dançar como fazia antes. “Não tenho mais o mesmo equilíbrio que tinha antes”, disse-lhe. Alvina é  divertida, alegre, cheia de vida, mesmo perdendo a voz devido a um câncer na garganta, se divertia e ria sentada na cama cada vez que puxava para dançar e eu dizia que não tinha mais equilíbrio.

Não vi, mas dentro da sacola deveriam existir mais Lps de Pedrito, Cauby Peixoto, Carlos Alberto, Moacir Franco, Nélson Ned, Nélson Gonçalves, Aguinaldo Timóteo e talvez muitos outros mais. Eu e ela, sentimos as letras perfeitas das músicas e encontramos beleza, harmonia e a narração de história de um amor que acabou ou que está se iniciando com intensidade. Essas delícias do passado hoje são desprezados, pelo imediatismo de gravadoras, que desejam sucessos instantâneos, mesmo que sejam esquecidos em seguida e ninguém nem lembre o nome de suas músicas sem beleza...Os cantores que tinham voz, se esmeravam nas composições e faziam letras que nos transportavam por mundos imaginários. Essas maravilhas musicais recentes perderam seus espaços na mídia. Hoje a música é meramente comercial de venda imediata. Muitos cantores como José Augusto e Fernando Mendes, que chegaram a gravar um LP juntos e mais outros como Moacir Franco, Benito de Paula, só para citar alguns, que tinham qualidade, voz e faziam sucesso no passado, perderam espaços.


De origem germânico, Alvina é uma nobre amiga, mas talvez não seja só isso: é uma amiga nobre que transpira felicidade musical em tudo que vê e sente. Perdeu a voz, mas não perdeu a alegria de viver e o gosto pelos boleros e músicas latinas de primeira qualidade, que eu também gosto. Alvina tem a incrível facilidade de unir a felicidade e combiná-la com um bom humor e simplicidade. Gostamos de visitá-la, quando podemos, no meio dos afazeres de minha esposa.


Alvina, colocou um CD de Dilermando Reis, produzido a partir de um LP, pelo  Dj Raidy Rabelo. Gostei, mas não muito porque nele não ouvi a música “Abismo de Rosas” que marcou minha geração. Depois foi colocando outros CDs de bolero e eu dizia: “essa música foi composta por Roberto Cantoral” . Alvina apontava o dedo para cima fazendo um gesto de positivo e tentando falar por um aparelho que possuía na garganta, mas saia nada. No passado, ela sabia que eu gostava de dançar bolero e via a felicidade que sentia no olhar ao ver-me rindo com suas brincadeiras ao puxar-me para dançar. Muitos abraços recebi da amiga que aprendi a admirar, respeitar e reconhecer suas qualidades musicais. Raimunda e sua filha Maroca, disseram-me que o que a Alvina mais tem é LP antigo. Dilarmando Reis era um deles. Eu procurei ler se tinha a música “Abismo de Rosas”, registrado no CD que ela transferira de LP e o transformou em CD, mas não a encontrei. Essa música, tocada em violão, serviu de valsa de 15 para muitas pessoas no passado. Era raro o Baile de Debutantes  que  não a música servisse de valsa e  eu esperava ouvi-la para recordara música tempos de minha juventude.

No passado, frequentei poucas festas em casas de amigos, ao som da Vitrola Nivico, tipo um móvel, de pé, tocava Lps bolachões pretos, que encontrei aos montes na casa de Alvina. As “eletronas” mais modernas, como se dizia no passado, chegavam a aceitar até 8 Lps ao mesmo tempo que, automaticamente, eram liberados um a um. Só tinha um problema: em piso de madeira, na maioria das casas, pulava e arranhava o disco, danificando-o, tornando-o inutilizado porque o chamavam de “disco furado” e engatava repetindo sempre os mesmos acordes musicais. Eram as famosas “brincadeiras nas casas dos amigos”, que eu, quando podia frequentava, mas nem sempre, porque eu tinha que dormir cedo e acordar de madrugada. As “brincadeiras” começavam sempre em torno de 20 horas e terminavam no máximo às 23 horas. Hoje, infelizmente e para desespero das famílias, as festas começam sempre depois da meia-noite e terminam no outro dia, quando os primeiros raios de sol começam a aparecer. Isso só acontecia no passado em bailes de carnaval quando ele eram encerrados sempre com duas músicas célebres que marcaram época, Corre, Corre  Lambretinha (corre, corre, lambretinha/pela estrada além/corre, corre, lambretinha que vou ver meu bem),  e em seguida “Quem parte leva saudades”  “(quem parte leva saudade de alguém que fica chorando de dor/por isso não quero lembrar, quando partiu meu grande amor)”, composições inesquecíveis de Emilinha Borba e todos se encaminhavam  à porta e deixavam um a um a festa e as portas eram fechadas.

Quando a porta de Alvina me acompanhou até a sua porta, abraçou-me de novo e me deu de presente o CD de Eydie Gome e Los Panchos, para que eu o ouvisse, o que estou fazendo agora, com fome no ouvido. O dueto é maravilhosamente afinado, embora sejam grupos musicais de estilos bem diferentes

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

POEMA SEM NEXO...


Senti vontade
...de sentir vontade,
...a vontade que senti...
...fui intensa, imensa!

Senti desejo...
...de sentir desejo
...de senti vontade
De lhe ter em meus braços...

Senti a brisa...batendo no rosto,
...e a brisa que em mim batia,
...me fez sentir vontade de sentir desejo.

Ah, desejo...que desejo louco, (desejo pouco)
de sentir vontade,
de sentir desejo...
de sentir a brisa!
Com minha vida de antes retornando, intensamente!

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"O MARTÍRIO DOS VIVENTES"!


Era uma roupa de couro que estava caminhando ao meu encontro? Não! 

Era só um homem com o semblante feliz, coberto por uma roupa de couro típica de nordestino, me oferecendo um exemplar de seu livro O MARTÍRIO DOS VIVENTES, em sua 6a Edição. Era uma pessoa nascida no mesmo ano que eu, de 54 anos, mas aparentava bem mais jovialidade que eu, que se tornara professor como eu e especialista em Educação; eu, na área social. Era Paulo Cavalcante. Comprei um livro em um bar, onde acompanhava minha esposa Yara Queiroz, que se divertia com sua amiga Josyane Farias, olhando o fantástico mar, no Estado da Paraíba! 

Por que “MARTÍRIO DOS VIVENTES”? ´É o registro com tintas fortes da seca vivida por sua família em Caraúbas, nos anos 92/93, na Paraíba, na microrregião do Cariri, em seu Estado. De presente, veio um cordel SECA NO SERIDÓ, só para ficar mais típico registro da cultura de seu lugar e sua origem do campo, também como eu que nasci em Manaus e fui morar, ainda criança, na comunidade do Varre-Vento, retornando à capital mais tarde, em busca de estudos.

Como dou todo o dinheiro para minha esposa, ela, sabendo que gosto de ler, me perguntou “quer o livro? Eu o compro para você!”. Pagou 10 reais e o professor formado em história pela Universidade Estadual da Paraíba, saiu satisfeito e, eu feliz, por ter adquirido uma obra fantástica que degustei, à borda da piscina do condomínio onde resido, em Manaus, letra por letra, palavra por palavra. Me emocionei em algumas passagens da história, por me ver nas personagens surgidas com letras fortes, na pele de minha família, também de origem pobre. Me senti na pele das personagens do autor, não propriamente pelo drama narrado. 

As verdades que afirma me fez lembrar, em certos momentos, o livro A BAGACEIRA, de José Américo de Almeida, lançado pela primeira vez em 1928, em uma linha realista e denunciante. Depois de A BAGACEIRA, literatura nordestina e nunca mais ela foi a mesma, porque nas palavras do sociólogo Gilberto Freyre, Ivan Bichara Sobreira, o pensador católico Tristão de Ataide e João Guimarães Rosa, autor da clássica obra “GRANDE SERTÃO, VEREDAS”,  foi um livro renovador, até na  linguagem literária! A obra O MARTÍRIO DOS VIVENTES, de Paulo Cavalcante, não fica muito distante disso! Tem tintas fortes e meditativas em muitos pontos da obra, mostrando o amor do nordestino pela sua terra e esperando só um “pouco de chuva” para plantar sua roça de feijão, tocar seu gado.

De uma forma indireta, Paulo Cavalcante, explica porque o Brasil foi colonizado pelos nordestinos, embora não tenha sido esse seu desejo, mas como historiador, ele atingiu seu objetivo. A migração nordestina foi responsável pelo desenvolvimento da borracha no Amazonas, da construção de Brasília, do desenvolvimento econômico de São Paulo e, não há, no Brasil, qualquer Estado que não tenha a presença de nordestino como força de mão de obra.

A obra que degustei com tanto prazer, por longo tempo, aos poucos, como se fosse um bolo gostoso que não deve ser comido todo de uma vez, conta o sofrimento de uma família, do solo, dos animais, em um cenário exótico, mas real. Como afirma a contracapa da obra, “MARTÍRIO DOS VIVENTES é um grito de alerta do sertanejo às ideologias presentes e uma busca  de amenizar o sofrimento do sertão semiárido em secas futuras”.

Será que a roupa de couro e o chapéu que usava era só para esconder quem realmente  o autor do livro tinha sido no passado? O escritor, antes, tinha sido camponês, office-boy, copeiro, cozinheiro, balconista e garçom. Hoje, graças ao seu próprio esforço de filho de camponeses, é licenciado em história pela Universidade Estadual da Paraíba e especialista em Edução e atualmente é professor de história, lotado na Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Norte e funcionário na Secretaria de Educação, Esporte e Cultura de Campina Grande-PE.

A fé e a crença do povo nordestino fica evidente na obra e na esperança da chuva para iniciar as plantações. “Roçados limpos e varridos pelos redemoinhos, só faltavam ser molhados pela chuva(...). Assim, esperava-se ansiosamente a chuva como se esperava uma visita importante”, diz o autor dessa obra esquecida pelo grande público, mas reconhecida pelas constantes edições, sempre vendidos de mão em mão pelo próprio autor. Isso é um grande exemplo de persistência e luta, agora também pela cultura e manutenção da identidade do nordestino sofrido, mas com muita fé em todos os santos! Inclusive “São Nunca” por aguardar o atraso de cinco anos nas obras da transposição das águas do Rio São Francisco.




terça-feira, 26 de agosto de 2014

"UM LUGAR NO MEIO DO NADA"!


“Era um lugar no meio do nada”, disse-me um taxista que me transportava de uma consulta médica, quando me apresentei como ex-diretor do SEST/SENAT, referindo-se ao terreno que a Confederação Nacional do Transporte – CNT recebeu por doação de Paulo Farias Imóveis, na Zona Leste de Manaus, incluindo a compra de duas ruas. Ele era apenas um terreno no meio do nada, mesmo! Hoje, existem vários bairros à sua volta! Dentro do terreno de 60 mil metros quadrados, ao passar o trator para prepará-lo, desbarrancando e removendo terras das duas ruas adquiridas, foram encontradas carcaças de carros depenados, calcinhas de meninas, colchões velhos no meio do mato e peixes no Igarapé que passava ao lado. Existia um campo de futebol de areia ao lado, usado por moradores de casas construídas pela Prefeitura de Manaus. Fui lembrando desses fatos quando seguia de táxi para o anfiteatro da Ponta Negra, para assistir ao show da dupla mineira Alan e Alex, como atração nacional.

Conversando com o motorista Naldo Oliveira, da Tocantins Rádio Táxi, sobre como tinha sido Manaus (Naldo Oliveira veio de Belém para Manaus, em 2006 quando a cidade já possuía mais de um milhão de habitantes. Hoje possui dois milhões e trezentos mil) no passado, lembrei da primeira reunião dos sete primeiros técnicos dos Conselhos Regionais, promovida pelo Departamento Executivo, em 1984, em Brasília, um ano depois que o presidente Itamar Franco ter assinado a Lei 8.706/83. Clésio Soares de Andrade que substituiu o empresário Thiers Fatores Costa, na presidência da Confederação Nacional do Transporte Terrestre, e a transformou em Confederação Nacional do Transporte, criando várias diretorias e dando voz e voto a todos os modais, a transformou em Confederação Nacional do Transporte. Thiers havia substituído o empresário de transportes Camilo Cola, na presidência. O tempo não passou; voou. Parece que foi ontem que tudo aconteceu, tão vivas são minhas lembranças do passado! 

Lembrei que havia vendido picolé na praia, quando ela se dividia em duas: a praia da Ponta Negra, a maior e a chamada Prainha, menor, mais afastada, arborizada e mais frequentada pelos casais em início de namoro; outros, nem tanto assim. Perguntei à diretora Grece Lane, sobre uma antiga foto do presidente do CRN, Francisco Bezerra, com o empresário Paulo César Farias e eu ao fundo. Na foto, Paulo Farias apontava na planta de seu loteamento, com terrenos demarcados com 5X8, com ruas de barro, mas sem água, luz, asfalto ou qualquer infraestrutura as duas ruas que teriam que ser adquiridas. Era mesmo um terreno no meio do nada, como disse o motorista de táxi que me transportara antes. A foto é um registro histórico na luta para construção da sede da Unidade em Manaus. Lembrei também que nas primeiras reuniões do CRN, no Pará, diziam que o SEST/SENAT seria um órgão sem cabeça, porque o Conselho Regional ter sede no Amazonas e exigiam que ficasse em Belém. 

A estrutura do SEST/SENAT é piramidal, composta por um Conselho Nacional, um Departamento Executivo- DEX e os Conselhos Regionais em cada Estado. Em Manaus, o CRN – Conselho Regional Norte é comandado desde antes da inauguração da Unidade Manaus, “Francisco Saldanha Bezerra” pelo empresário, que não queria ser homenageado, mas sugeri ao membro do Conselho do município de Santarém, Washington do Vale, que sugerisse seu nome durante reunião do CRN, causando surpresa ao homenageado, porque fora aprovada por unanimidade pelos membros do Conselho, que teceram discursos elogiosos ao empresário.

A comemoração dos 20 anos das duas entidades, na praia da Ponta Negra começou a  pela manhã, com oferecimento de serviços médicos, sociais, odontológicos e prestação de outros serviços oferecidos pelo SEST/SENAT, junto com shows que eram exibidos no palco do anfiteatro, simultaneamente. À noite, seria o encerramento com a dupla Alan e Alex, que seria a atração nacional. Durante o evento, fiquei tomando os remédios e urinando com muita frequência. Como não sabia onde ficava o banheiro químico, pedi ajuda para chegar até ele, na primeira vez. Ficava atrás do palco e fui descendo uma longa escada, acompanhado pela professora Jandira Lima Muniz. Na segunda vez, decidi  ir desacompanhado, mas recebi um toque no braço da professora, que ficara encarregada de levar-me para descer as escadas, degrau por degrau, lentamente e com cuidado.

“Por que o senhor decidiu vir sozinho, seu Carlos?” perguntou-me.

“Não queria mais incomodar a ninguém”.

“Não está incomodando nada. A Grece me designou para auxiliá-lo”!

“Como você me viu?”

“Foi a Grece que lhe viu descendo sozinho e pediu-me que viesse acompanhá-lo”.

“Não precisava mais, só pedi na primeira vez porque não sabia onde ficava o banheiro químico. Agora já sei”.

“O senhor é bem teimoso, não é seu Carlos!?”

Deixei o local às 22 horas, porque o motorista do Táxi foi buscar-me e chegou antes do horário. Ajudou-me a atravessar a rua. Adorei a festa e de ter recordado o meu passado. Foi uma noite maravilhosa; os cantores eram bons, gritavam quando cantavam. O Naldo Oliveira, perguntou-me sobre os balneários que existiam em Manaus e lhe disse que o do Parque 10 tinha sido um dos mais lindos da cidade. Mas que existiram vários outros na Estrada do V-8, local em que moro, com o nome de Efigênio Sales. Ao chegar em casa, minha esposa Yara Queiroz recebeu-me à porta, feliz porque estava de volta, sem problemas. Ela sempre fica preocupada quando saio sozinho porque  posso sofrer convulsões, embora meu médico Dr. Dante Luis Garcia Rivera, com quem me consultei pela manhã, me dissera: “Parabéns, você está há mais de um ano sem novas convulsões!” Nem eu sabia disso porque perdi completamente o meu raciocínio matemático e não distingo mais o que é lado direito ou esquerdo, datas, aniversários, compromissos e costumo esquecer mais rápido do lembrar. Meus compromissos, inclusive as consultas médicas de rotina a cada seis meses são registradas em na agenda de meu celular!

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

HERMÍNIO DE MORAES E A BENEFICÊNCIA PORTUGUESA

       
Pela janela do terceiro andar da Beneficência Portuguesa, onde me encontrava internado, observava, quando o sol já começava a se esconder no horizonte anunciando que a noite chegaria logo, no final da tarde, o piloto do senhor Antônio Ermínio de Moraes pousava o helicóptero com o qual ele se deslocava em São Paulo, de trânsito intenso e muitos outros helicópteros executivos iguais ao dele sobrevoavam pela cidade como se fossem táxis de luxo, levando pessoas apressadas e cheias de compromisso de um lado para o outro. Não o via descer porque o heliporto do hospital foi construído bem no centro do prédio e minha visão não o alcançava, mas anunciavam que “foi o chefe que chegou para despachar”. Todos os funcionários do hospital respeitavam-no e admiravam a sua simplicidade e humildade enérgica de uma pessoa que era uma das  dez maiores fortunas do mundo, dos mais de 80 médicos, mais de 8 mil funcionários sob seu comando, até os faxineiros. 

Diziam que ele tinha repassado para seu filho o comando administrativo do hospital, mas despachava várias vezes na semana, comparecendo ao hospital. Não deu para contar quantas vezes na semana o vi chegando em seu helicóptero, porque em algumas delas eu estava dormindo sob efeito de remédios. Mas quando estava acordado, via seu helicóptero pousando no prédio do hospital pelo menos três vezes na semana, mas poderiam ser mais ou ser menos porque eu estava confuso, não como um médico de reprodução humana que começou ser acusado de violência sexual informando que suas vítimas estavam sobre efeito do medicamento propofol, o mesmo que matou Michael Jackson. Mesmo nessa confusão mental, dava para perceber o carinho que todos no hospital tinham pelo senhor. 

Saiba, senhor Antônio Ermínio de Moraes que no local em que velaram o seu corpo, passei muitas vezes em cima de macas para realizar exames de tomografias ou cirurgias no subsolo ou no sétimo andar, com os médicos Antônio Almeida e Valéria Moio. A Beneficência tinha muitos leitos e andares, mas todos funcionavam perfeitamente como se fossem programados por computador: tudo era perfeito e no mesmo horário, embora meu atendimento também fosse  pelo SUS, mesmo eu tenho um plano nacional da UNIMED!

Contei vários andares no hospital, para cima e para baixo. Nunca consegui compreender como um hospital cuja receita vem de recursos do SUS conseguia ter tudo funcionando perfeitamente se a maioria dos hospitais que atendem também pelo SUS estão falindo. No hospital, por pura curiosidade de jornalista, fiquei sabendo que 65% dos atendimentos eram pagos pelo Sistema Único de Saúde. Inacreditável! Como a maioria dos hospitais que atendem pelo SUS estão fechando ou em dificuldades financeiras e a Beneficência Portuguesa estava muito bem financeiramente? Seria mágica, competência de empresário visionário ou incompetência de administradores públicos? Ou o que seria pior: por falta de gestão administrativa ou incompetência gerencial, mesmo! No ano de 2007, último que me operei na Beneficência Portuguesa, me contaram que ele tinha iniciado obras de ampliação para atender convênios, mas não sei se conseguiu concluir mais essa meta.

Quando o almoço começava a ser servido aos pacientes internados nas enfermarias, parecia até um relógio suíço, tal era a precisão do horário. Eu ouvia o barulho pelo corredor dos carrinhos sendo empurrados e depois das bandejas sendo retiradas  e salivava a boa comida que serviam, sempre com  em pratos quentes, em bandejas de inox, cobertas. Depois das duas cirurgias a que me submeti, a última ocorreu no sétimo andar e os elevadores eram limpos e funcionavam bem. Aliás, a limpeza e a higiene sempre foram uma das coisas que admirei naquele hospital. Como outros hospitais do SUS estão falidos e  este permitia até projetar investimentos? Era outra coisa que me intrigava!

Na primeira vez que me internei na Beneficência Portuguesa, ingressei pelo setor de oncologia, onde fiquei 17 dias enquanto aguardava o resultado das revisões de lâminas que levei  para ser refeito em três laboratórios diferentes, sendo um deles o do Hospital. Não estava com câncer no cérebro como fui diagnosticado inicialmente. Depois do resultado negativo do exame, fui transferido para o setor de neurologia e passei a ser tratado pelos médicos Antônio Almeida e Valéria Moio.

Antônio Ermírio de Moraes, empresário, engenheiro industrial, membro do Conselho de Administração do Grupo Votorantim e presidente da Beneficência Portuguesa de São Paulo, não existe mais porque faleceu no dia 25.08.2014, aos 86 anos, mas deixou um grande legado que perpetuará seu nome e ficará na história como um dos grandes empresários brasileiros e empreendedores do século XX.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

PROFESSOR NÃO É FISCAL DE MERENDA ESCOLAR


Como o eleitor brasileiro é o maior cúmplice da corrupção dos prefeitos, aceitando   desvios dos de recursos do Fundef e os reelegendo seguidamente, os professores estão sendo treinados para ser fiscais da merenda escolar. Os mestres poderiam ser treinados, no máximo, para serem fiscais das péssimas condições do ensino. Jamais, fiscalizar desvios e compras de ovos quebrados, prazos de validade e qualidade dos produtos adquiridos pelos prefeitos. Treinados, deveriam ser os membros dos Conselhos de Merenda Escolar que, em alguns municípios, funcionam mal e sempre dependentes das Prefeituras e da caneta e do bom humor dos prefeitos que os nomeiam e em outros municípios, nem existem. Treinar professores para fiscalizar a entrega da merenda escolar é ultrapassar todos os limites da irresponsabilidade porque eles não são pagos para isso! 

Depois de várias denúncias de desvios envolvendo a merenda Escolar, comprovadas por fiscalização da Controladoria Geral da União, os professores de SP passaram a ser treinados para identificar problemas com a entrega de alimentos recebidos pelas escolas, desvirtuando completamente as legítimas funções dos professores porque o Governo do Estado tomou a decisão mais simplória possível: colocar professores para serem fiscais da merenda.

Nos municípios de Curralinho, São Sebastião, no Estado do Pará e em Tefé, no Estado do Amazonas, o Governo Federal descobriu que recursos repassados para serem investidos em saúde, educação e saneamento básico, estavam sendo desviados pelos prefeitos para outros fins. Por que os Conselhos Municipais de Merenda Escolar, que deveriam funcionar para cumprir esse papel fiscalizador, nada denunciaram? Os  membros do CME é que deveriam ser treinados para se tornarem fiscais da alimentação escolar, verificando e constando todo e qualquer tipo de irregularidade, inclusive desvios de recursos. Mas como esses Conselhos não funcionam por serem dependentes do poder do município, os professores passarão a ser os fiscais, mudando sua finalidade completamente e os prefeitos continuarão livres para continuar desviando recursos públicos do Fundeb! 

Será que os professores serão remunerados por mais essa nova responsabilidade? 

Os Conselhos Municipais de Merenda Escolar deveriam existir e funcionar de fato, independentes do poder dos prefeitos porque teriam liberdade e fiscalizariam o que chega aos alunos da educação infantil (creches e pré-escolas), aos alunos do ensino fundamental, da educação indígena, das áreas remanescentes de quilombo e a todos os alunos matriculados em escolas públicas, do Distrito Federal e dos municípios, ou em estabelecimentos mantidos pela União, escolas filantrópicas, em conformidade com o Censo Escolar realizado pelo INEP do ano anterior ao do atendimento.

Como os Conselhos Municipais de Merenda Escolar dependem de ato do prefeito, as denúncias mais frequentes sobre desvios vem do desvio de recursos oriundos Fundo Nacional da Educação Fundamental – Fundef. Também como eles não funcionam por conveniência dos prefeitos, que colocam nos cargos todos os que são domináveis, a maior parte da verba do Fundef (60%), que seriam para pagar salário de professores que lecionam no ensino fundamental, também sofre desvios. Os 40% restantes da verba seriam para pagar funcionários de escolas e para comprovar equipamentos escolares como mesas, cadeiras, quadros-negros e outras necessidades. Se os recursos fossem todos aplicados como o previsto, não teríamos que assistir denúncias de falta de carteiras escolares, escolas sem telhados e muitas outras denúncias mais. 

O que ocorre com os prefeitos que desviam essas verbas? Nada! Denunciados, recorrem, conseguem provar que possuem ficha limpa, se candidatam de novo e, de uma forma conivente, os eleitores o colocam no poder, passando a ser cúmplices no processo de corrupção e não vítimas delas. Leis existem; burlas  também.

Enquanto isso, a justiça não os julga ou, quando os julgam, infindáveis recursos protelatórios são interpostos e os prefeitos sempre conseguem certidões negativas para provar que estão com ficha limpa, embora condenados em primeira instância! 

As Leis que combatem a corrupção precisam ser aperfeiçoadas, para não permitir tantos e intermináveis recursos!



quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O BRASIL RESPIRA POLÍTICA


O Brasil, até outubro, respirará política de norte ao sul! Mas não é fácil respirá-la e, muito menos, aceitar algumas notícias publicadas e divulgadas pelas redes sociais. Política é como uma nuvem negra, cheia de promessas estranhas e muitas mentirosas e desabará em forma dilúvio torrencial que lavará à terra nua e exporá toda a sujeira que existia por trás de velhas promessas, acordos inconfessáveis,, repetições do que já existe e nada de novo até agora! Só teremos como avaliar tudo de novo, quatro anos mais tarde, mas poderão ser quatro anos de bonança ou de desastre e tudo recomeçará, com mais promessas, novos acordos e mais mentiras. 

Infelizmente o eleitor é quem terá que decidir quase que pela intuição o que será melhor ou pior para ele e para o país, pensando mais no país no que apenas nele. O coletivo é o que importa, porque do coletivo se faz o individual como se fosse em uma onda crescente que morre na praia, suavemente. Assim é a vida. Assim, é a política nos dias de hoje. Nem tudo o que parece é de verdade e nem tudo que prometem como verdade, será cumprida depois. Política deveria constar como matéria transversal na educação, em todas as Escolas, para esclarecer os jovens e despertá-los para as armadilhas que se escondem atrás de promessas falsas.

No Amazonas, alguns candidatos a deputados federais e até a estaduais, prometem que se forem eleitos lutarão em favor da continuidade do modelo Zona Franca de Manaus. Outros, ao Governo, dizem que são católicos, casados e mostram a ponte sobre o Rio Negro, superfaturada e se orgulham dessa obra, como se orgulhava também o ex-governador maranhense Eduardo Ribeiro das pontes de ferro que mandava construir, do Teatro Amazonas, iniciado em seu Governo, mas inaugurado no Governo de Fileto Pires, dos prédios públicos que fez e mandou fazer, mas tudo isso é história, como será história também o modelo Zona Franca se não forem utilizados os novos anos de sua prorrogação em busca de alternativas para que o Estado se sustente sem os benefícios fiscais!

Poucos candidatos antigos e atuais se anunciam como defensores de novo modelo de desenvolvimento regional que se volte à exploração do potencial mineral, turísticos e biotecnológico que a floresta oferece sem custo algum, sem precisar de incentivos para tê-la. Dependerá de vontade política e eu não vejo nenhuma proposta dos candidatos ao Governo, nesse sentido. A cidade de Detroit, nos Estados Unidos, dependente da produção de automóveis, praticamente faliu junto com a sua produção. Ma se superou, investiu em outra matriz econômica e recuperou sua importância no cenário amaricano! O mesmo pode acontecer com o Amazonas, mas não sinto  qualquer interesse político do Estado nesse caminho de mudança! Todos os candidatos ao Governo se apresentam e dizem que foram os pais da prorrogação do modelo e não anunciam nada de novo para aproveitar a nova prorrogação para direcionar os recursos gerados em busca de uma nova matriz econômica viável.

Candidatos à presidência da República, mais radicais, agridem, falam em implantar no Brasil governo dos trabalhadores, defendem o fim da atividade econômica. Um candidato promete que se for eleito, privatizará até a Petrobras e reduzirá o Estado ao mínimo possível, anunciando até um total de Ministérios que pretende ter. Só que por trás de todas essas promessas, existe um homem e o homem geralmente fica sujeito a um esmagamento político e finda por não executar suas ideias.. 

Muitos prometem o que não cumprirão porque governarão com a Constituição que não permite prisão perpétua, garante progressão de pena e, no poder, poderão se tornar ditadores. Um partido radical critica que os aparelhos de Estado reprimiram badernas como se isso fosse algo anormal: uma coisa é manifestação legítima; outra é baderna e quebra-quebra generalizado. Enfim, os candidatos prometem muito, mas parecem que não conhecem a Constituição do país que prometem governar se forem eleitos.

Candidatos misturam alhos com bugalhos e confundem tudo na hora de pedir voto. Poucos falam o que realmente interessa para a população: saúde, que está um caos: educação, que ainda está precária; habitação, que não será resolvido com o programa Minha Casa Minha Vida; segurança, ainda deficiente; saneamento básico, quase inexistente, só para citar só alguns itens da pauta social, além de outros nas áreas da economia e reformas política, fiscal, previdenciária, monetária...etc.

É esperar para ver e depois conferir!

terça-feira, 19 de agosto de 2014

NO DIA NACIONAL DO CICLISTA, O QUE COMEMORAR?


Nada tem a sociedade para comemorar no dia Nacional do Ciclista, a não ser a continuidade das mortes da turma da “magrela”, por motoristas bêbados e irresponsáveis que deixam a cadeia mais rápido do que suas vítimas conseguem ser empurradas. Isso não é motivo para comemoração, mas de vergonha nacional!

Quantos ciclistas precisarão morrer esmagados por rodas de carros de motoristas bêbadas e irresponsáveis, para que a Justiça entenda que quem bebe, dirige e mata, assumiu o risco de cometer um crime de trânsito? Não adiantou muito as mudanças no Código de Trânsito se a Justiça não segue a lógica da responsabilidade por dolo premeditado sempre que um amante da “magrela” é esmagado no trânsito das grandes cidades! “Feliz Dia do Ciclista”, por qual motivo, se os usuários de bicicletas, mesmo quando usando ciclovias continuam morrendo esmagados pelas rodas bêbadas de motoristas irresponsáveis? Quando essa carnificina “vietiniamizada” vai acabar, será que nunca?

A deputada Solange Amaral (DEM/RJ), teve ótima visão social quando instituiu o Dia Nacional do Ciclista, instituindo mudanças no Código de Trânsito Brasileiro e prestando uma homenagem ao ciclista Pedro Davison, graduando em biologia, atropelado e morto em pleno eixo rodoviário do Distrito Federal, por um motorista com a habilitação vencida! O Código de Trânsito Brasileiro sofreu alteração e transformou crimes de trânsito sob efeito de álcool, em doloso. Só que a Justiça não aceita essa verdade que todo motorista bêbado assume o dolo da culpa quando dirige bêbado! Será que não tem no Brasil algum juiz que use bicicleta para se deslocar ao fórum e despachar seus processos? Acredito que não existam, porque todos eles usam seus próprios automóveis para ir e voltar do trabalho e estão pouco se importando com quem passa ao seu lado, pedalando sem pressa a sua bicicleta!

Na época em que foi instituído o projeto, existiam no país mais 50 milhões de bicicletas no Brasil, usadas, principalmente, por operários que, fugindo dos precários, lotados e caros meios de transportes coletivos optaram por esse meio de transporte não poluente, não depende de combustível, a não ser a força das pedaladas para ir e voltar ao trabalho. Será que nenhum Tribunal no Brasil reconhece isso? A Polícia prende, enquadra-o por crime doloso, envia ao Tribunal, mas a maioria dos juízes libera o motorista antes mesmo que o defunto possa ser enterrado, sempre com o argumento que o motorista não assumiu o dolo eventual da morte, mesmo quando está bêbado. Para que foi criado o Dia Nacional do Ciclista? Para que o STF julgou que motorista embriagado deve ser preso e responder pelo crime doloso no Tribunal do Júri se a decisão não é acatada pelos Tribunais? Para que o teste de bafômetro, o teste de sangue e o testemunho dos policiais na hora da prisão do infrator, se nada disso serve como prova de embriagues ao volante, perante a Justiça? 

Pedro Davidson estava pedalando sua magrela pela faixa exclusiva demarcada, quando um motorista  invadiu, o atropelou fugiu porque estava com CNH vencida. E por que estava vencida a CNH? Culpa de quem? Não interessa mais saber porque Pedro Davidson está morto e ainda existem motoristas dirigindo alcoolizados, em alta velocidade, infelicitando famílias e causando prejuízos milionários à nação. Sete anos depois do projeto, continua tudo como “dantes no quartel de Abrantes”. 

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

MEU LUGAR NO MUNDO!


O meu lugar no mundo é o que construirei pelas minhas ações, omissões e atitudes, mas não é muito diferente de um em país, Estado ou Município: porque nós é que construímos o local ideal no qual desejamos viver e nele morrer também!

“Ontem foi segunda e agora acabou a semana. O tempo está passando rápido demais”, disse-me o administrador condominial do Residencial Mundi Risort, Roberto Valin, me despertando das divagações. Independente do lugar que moramos, devemos sempre primar pelo bem coletivo de todos, como em um país, em qualquer local que venhamos a ocupar, devemos respeitar ao próximo. Se não gostamos de alguém o substituímos nas urnas, democraticamente, mas não devemos ofender a ninguém, por pior que ele pareça ser. Voltei ao mundo real e respondi: 

- É verdade, e acrescentei: “o senhor sabia que o tempo não existia, foi criado pelo homem para contar os fatos da história, cristianizado pela Igreja Católica e agora somos todos escravos de nossa própria criação?”. Ele nada respondeu, ficou em silêncio, pensativo e olhando para mim! Como conselheiro do Condomínio, o acompanhava em um processo rotineiro de observação que faço sempre que posso e os remédios que tomo me permitem, me imaginando um Ministro, um Secretário, observando tudo no lugar que moro, não muito diferente do que deveriam fazer quaisquer autoridades públicas no cumprindo de um dever ético, moral e coletivo, parte integrante de cada cidadão. Entre um condomínio ou um país, não existe diferença conceitual. É sempre igual: exige-se tudo, mas poucos se sentem responsáveis, pelo que fazem ou deixam de fazer. Descartam lixos em locais inapropriados e cobram limpeza para sua própria sujeira, gastam energia sem necessidade e reclamam da conta de energia elevada. É tudo igual, só muda o lugar. Depois, ainda reclamam da taxa de condomínio que consideram elevada, como reclamam dos impostos que estão elevadíssimos. Faço minha parte para melhorar o bem-estar social no condomínio, como o farei na política em outubro. Caminho com passos lentos, não tão firmes como o foram em passado recente, passo o dedo em locais que vejo sujeira, como deveriam fazer todos os gestores públicos das áreas nevrálgicas das áreas de saúde, segurança e educação e aproveito para apreciar as belezas que existem no Condomínio Mundi, dividido em três etapas, com um resto de mata virgem, dividindo as etapas R1- Ilhas do Caribe; e R2-Ilhas da Oceania, da R3-Ilhas da Europa. Todas as etapas possuem seis torres de 18 andares .É uma cidade com mais de 3.700 pessoas e aproximadamente 1.850 carros

O local era uma floresta primária e agora, estão 11 torres com cinemas, academias, quadras poliesportivas, salões de festas, salão gurmê, salão mulher, salão de beleza e um centro comercial à entrada. Administrar o Condomínio não é fácil, como também não o é administrar um país: faz-se muito e depois chega-se à conclusão que o muito não significou nada para quem é contra por ser simplesmente contra, apenas. Os problemas são muitos, o dinheiro é pouco,  a corrupção no país também o é elevada. Em condomínio, não se pode fazer empréstimos para pagar as contas, como se faz em um país quando está em dificuldades financeiras. Faz-se cota extra e paga-se o que deve, se tiverem sido autorizadas em AG. Caso contrário, o Síndico é destituído do cargo pelo voto e responde nas esferas jurídicas pelas despesas, como também deveriam ser feito contra os administradores públicos em todos os níveis. No Condomínio, está se buscando alternativas e formas para se chegar a uma equação satisfatória, reduzindo gastos e buscando a eficiência dos recursos: gastar sempre dentro do orçamento e da receita e investir só quando houver recursos em caixa para não gerar cotas extras, o que é ruim para todos. Administrar condomínio, é como se administrar uma cidade: o dinheiro é de todos e tudo tem que ser realizado para o bem coletivo. Isso, porém, é outra história sobre a qual já escrevi e publiquei. Os conselheiros seriam os ministros, secretários de Estado ou de municípios, que deveriam ser transparentes. Eu sou um deles, mas existem outros. Só que sou um dos mais chatos porque fui síndico anteriormente, por cinco vezes.

Amante da natureza, uma cebola rocha que estava nascendo na feira da banana, a trouxe na mão e agora nasce agora dentro de uma floreira, próximo às três churrasqueiras das torres do R-1. A natureza e a floresta que restou preservada me fascinam porque acordo ouvindo o canto dos pássaros. É um uma maravilha o local em que escolhi para morar e no qual pretendo morrer! Aonde antes, via uma floresta primária, hoje vejo torres de concreto. Mas, lembro-me que pela janela de meu primeiro apartamento ao lado do Mundi, filmava preguiças subindo nas árvores, araras felizes comendo coquinhos, periquitos voando soltos e hoje me deparo ocupando o lugar onde antes cantavam os pássaros, além de pacas, cutias, cobras e outros animais. No lugar onde existe a fonte, existia a casa de madeira de um caseiro com caminhos para dentro do mato fechado. Só havia caminhos e muito verde! Hoje só existem árvores plantadas e uma calçada cheia de plantas que liga todo o complexo. Existe uma ponte por cima do igarapé com o resto de floresta preservada. É uma maravilha para os olhos de quem não viu o que existia antes e uma tristeza imensa para mim, porque acompanhei de perto toda a destruição do que existia para dar lugar ao que existe hoje. Sinto-me impotente que olha o progresso chegando rápido, mas nada pode fazer contra. O progresso destrói sonhos e lembranças e constrói prédios. As lembranças do que eram os espaços, são como uma fotografia em preto e branco que vai se desbotando pelo tempo até desaparecer completamente! 

Isso, me fascina e me dá raiva por ver que todos os pássaros que cantavam livres, leves e soltos, agora se reúnem em uma única árvore atrás da janela de minha cozinha, fazem ninhos em qualquer lugar, - até no alto de uma churrasqueira – e nada aceitam de comida Uma pesquisadora do Inpa- Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, residente no Mundi Risort, colocou ninhos e comida para os periquitos, também coloquei comida para o sabiá que pousa em minha janela, mas nada comem. Será que estariam com raiva dos novos habitantes de seus espaços? Acho que sim, mas não tenho certeza. 

Mas voltemos à conversa que estava tendo com o Sr. Roberto Valin sobre o tempo! O tempo não existe. Ah, o tempo, é só um detalhe nessa crônica porque é o que se faz com que tudo ocorra para o bem ou para o mal coletivo da comunidade. O tempo corre para o infinito e o infinito também não existe. Sempre haverá um novo dia depois outro, e isso é a isso que chamamos de tempo! Um tempo perdido, perdido, só se transformará em registros negativos na história, mas não consertará a omissão política e nem o desprezo explícito por quem nos governa. A pessoa não seria um governante se os eleitores não o tivessem votado, exatamente como ocorre em um condomínio quando elegemos um síndico!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"O GALINHEIRO CAIU!"


Seria trágico se não fosse cômico: na cidade gaucha de Guajuviras, na Região Metropolitana de Porto Alegre, um galo estava usando um tornozeleira de monitoramento eletrônico que deveria ser usada pelo proprietário da casa. Qual teria sido o crime do galo, então? O pior é que o galo estava se achando bonito usar aquele enfeite dentro do galinheiro porque estava se sentindo o maioral do pedaço!

Durante a vistoria da Polícia Militar na residência, foram encontradas 35 gramas de cocaína, 55 gramas de maconha e um revólver. Seria a droga para uso próprio do galo? Seria o revólver para o galo, um viciado que espancava as galinhas, se defender? Estaria o galo cumprindo pena dentro do galinheiro, usando a pescoceira eletrônica? Teria o galo ganho liberdade condicional de algum estupro contra alguma galinha? Seria o galo um perigoso traficante que estava viciando as galinhas?

Nada disso, a droga e o galinheiro pertenciam ao dono da residência, por isso eu disse que o fato seria trágico se não fosse cômico. Essa tragicomédia só foi possível porque o monitoramento dos presos que saem das cadeias para cumprir penas com tornozeleiras (ou seriam “pescoceiras”?) não são feitos como deveriam, como também não existem bloqueadores para aparelhos celulares dentro das cadeias e muitas pessoas ainda caem em golpes de falsos sequestros, sorteio de automóveis não existentes, tudo porque os “presos” cumprem as penas como se estivessem livres e se tornam mais perigosos ainda e nunca conseguem ser descobertos!

Diante do caos social nos setores da saúde, educação, saneamento, habitação, sistema prisional, só para citar alguns, agora existe o caos no galinheiro porque outros galos também vão querer usar tornozeleiras eletrônicas no pescoço para se sentirem mais viris e se tornarem líderes: 

-Estou usando essa pescoceira eletrônica porque estuprei 20 galinhas, mas não gosto muito dela e quero colocar no pescoço de outro galináceo. Estou me sentindo ridículo com ela e quero receber uma mais moderna, último lançamento!  Disse o primeiro.

 -Eu estou usando a minha menor porque ainda não completei 18 anos. Eu matei só dez galinhas com bicadas e meus esporões e não posso ser preso porque estou protegido pelo Estatuto do Frango Adolescente, responde um frango de menor, gabando-se pela idade de poder fazer atrocidades impunemente.

O dono do galo, ao ser preso, olha para sua astúcia idiota no pescoço do galináceo e diz:

- Foi bom porque vendia minha droga sossegado enquanto você enganava a polícia andando de um lado para outro. Mas agora, “o galinheiro caiu” e estou sendo preso de novo poque você ficou muito tempo andando em um mesmo lugar e a polícia pensou que eu estivesse doido.

Com o galo que usava a pescoceira eletrônica, o que aconteceu? Por enquanto nada, mas é capaz de o preso, ao deixar a cadeia, o transforme em um guizado e o coma só por raiva e também para matar a saudade da comida caseira que ele teria, se continuasse enganando a polícia. O preso, agora vai comer quentinha fornecida pelo Estado, talvez, realizado através de um convênio superfaturado! E o pior, a quentinha não deve ser lá essas coisas não! Bem feito, quem mandou querer colocar no pescoço de um galo sua tornozeleira eletrônica em vez de tê-la colocado no pescoço de um cachorro, por exemplo?

Não, no cachorro, não. O animal poderia segui-lo e se a polícia desconfiasse que o traficante estivesse vendendo drogas, de novo? Dessa vez, contudo, o “galinheiro caiu”, fazendo alusão ao que a polícia grita sempre quando vai prender alguém, de madrugada: “levanta, a casa caiu!”.O detento vai dar explicações aos outros presos, como ele  conseguiu transferir a tornozeleira eletrônica de sua perna, para o pescoço do galináceo!

O pior de tudo e que chamou a atenção da polícia militar da cidade de Canoas, é que ninguém do Batalhão Militar soube dizer como o criminoso conseguiu remover a tornozeleira e colocá-la no pescoço do galo! Segundo a Superintendência de Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul, responsável pelo monitoramento eletrônico de apenados, a tecnologia prevê que um alarme seja disparado caso o equipamento seja rompido, mas isso não aconteceu. Não disparou e o preso pode até explicar porque os bloqueadores de aparelhos celulares nunca funcionaram dentro das prisões!

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O BRASIL ESTÁ DE LUTO!


O Brasil está de luto: o candidato à presidência Eduardo Campos, do PSB- Partido Socialista Brasileiro, uma terceira via de opção aos brasileiros, faleceu em desastre aéreo e mudou todo o cenário político do país, que terá dez dias de prazo para substituí-lo. Poderá ser a sua vice, Marina Silva, mas poderá ser outro candidato do partido. Talvez Marina Silva decida disputar a presidência, mas é cedo para se falar em política agora. Com a morte do candidato à presidência da República, Eduardo Campos, não é hora de se falar em política partidária, mas de repensar na política que queremos,  para o Brasil, em todos seus aspectos.

Vamos continuar com o Governo do PT? Vamos eleger um outro candidato, com propostas mais modernas e usadas, como eram as apresentadas por Eduardo Campos?  O problema do Brasil é pensar isoladamente, como se o país fosse uma ilha. Teremos que pensar no todo, no que é melhor para o povo brasileiro daqui para frente, continuando as conquistas sociais alcançadas pelo PT e gerando novas! Ou vamos continuar reelegendo os mesmos candidatos ou elegendo novos candidatos, tanto em idade como em propostas? 

Depois, se pensa em quem o substituirá Eduardo Campos, se sua vice na chapa Marina Silva ou outro político. O candidato era uma promessa política alternativa para o Brasil e será insubstituível no aspecto moral, ético, político e de respeito. Mas enquanto sua família sofre com sua perda e se recupera da dor, melhor não se pensar em política, campanhas e outras atividades do gênero que foram suspensas em sinal de respeito e luto por três dias. Outros partidos como o PSOL, por exemplo, emitiram notas de pesar pelo falecimento do candidato que, com sua morte, conseguiu unir o Brasil e poderia ter sido o melhor presidente que jamais teremos, ao contrário de Tancredo Neves, eleito o primeiro presidente pós-militarismo, que o Brasil não teve porque faleceu antes de tomar posse e assumiu o vice, José Sarney e o resto é história.

Eduardo Campos, formado em Economia, conseguiu deixar o Governo de Pernambuco com 80% de preferência do eleitorado de seu Estado. Com isso, decidiu concorrer à presidência da República e se mostrou como uma opção possível entre os candidatos, falando em um candidato novo modelo de governar, com ideias novas e ousadas para reunir o Brasil em torno de um projeto de modernidade que alcançou em seu Estado. O problema do Brasil está na grande quantidade de políticos carreiristas, de mesmices discursos e sem nenhuma ideia nova. O presidente Lula, do PT, antes com discurso radical e sempre derrotado nas urnas, mudou seu discurso, se elegeu, ousou, implantou programas sociais que deram certo, se meteu em alguns escândalos políticos, mas conseguiu eleger sua sucessora, Dilma Rousseff que, ao tomar posse, prometeu um Governo meritocrático e está se afundando em inflação elevada, estagnação econômica e empurrando para baixo do tapete os aumentos de energia e outros vários que deveriam ter ocorridos para manter a meta inflacionária, para liberá-los depois das eleições. Se não for eleita, os setores econômicos que ficaram sem reajustes e reprimidos economicamente, pressionarão o novo presidente eleito e culparão a presidente Dilma por não ter-lhes atendido. Se Dilma for reeleita, ela concederá os reajustes, talvez não todos de uma vez, mas em conta-gotas e doses homeopáticas para manter sob o controle a inflação.

Mas como eu disse, não é ora de se falar em política partidária, mas é hora de pensar em uma política para o Brasil! O Brasil de muitos contrastes climáticos, muitos “Brasis” dentro de um único país, precisa ser repensado em seu todo. Um país que anda para trás em muitos aspectos, é um país capenga. “Caldo de galinha e prudência”, do ditado popular, nunca fez mau a ninguém. Muito menos para doente terminal nas esferas de planejamento para o futuro, inflação, economia e repetição da mesmice, sem ousar mais ainda com novo modelo desenvolvimento, também se aplica agora, como é o Brasil no momento!

Será que queremos um país em que jovens mascarados vão as ruas e destroem tudo que é bem público? Ou um país que proteste dentro da ordem, não enfrente os aparelhos de repressão do Estado, mas tenha o apoio deles em suas reivindicações? Será que queremos um país que ande para frente ou um Brasil que ande para trás nos avanços sociais já conquistados. Um país vivendo uma paz social perene e se desenvolvimento nas áreas de habitação, segurança, educação e saneamento básico ou um país que ande para trás nas conquistas sociais já alcançadas e que ficaram estagnadas pelo discurso “temos dinheiro, mas não temos projetos”?

Programas como “Minha Casa, Minha Vida”, “Transposição das águas do Rio São Francisco”, “Programa de Nacional de Combate ao Crack” (Decreto 7.426/2010), “Plano Nacional de Banda Larga I e II” e outros que fazem parte de todas as campanhas, não servirão mais como propostas políticas...Se forem prometidos novamente, pode até ser considerado normal, porque como garantiu um ex-governador e senador falecido, “em política, prometa tudo, realize uma parte e deixe o resto para continuar prometendo em nova campanha”. Amazonino, seguiu seu conselho, se elegeu ao Governo, passou pelo senado, voltou ao Governo, se elegeu prefeito de Manaus e fez carreira política no Estado, como seu criador Gilberto Mestrinho. Aconselho aos eleitores ficarem de olho e se decidirem pela continuidade, aceitarei, se decidirem pela mudança, não me oporei. Mas tenham consciência plena na hora do voto porque no processo democrático, somos responsáveis para o bem ou para o mal, pelas atitudes que tomamos ou pela omissão que praticamos na construção da sociedade em que desejamos construir para nossos filhos e netos. Eduardo Campos se apresentava como uma opção viável nesse aspecto, uma espécie de terceira via moderada e consciente.

O eleitor é quem decidirá livre e democraticamente o que é melhor para o Brasil, consciente ou inconsciente de tudo o que ele fizer ou deixar de fazer refletirá nos próximos 4 anos do país, porque todos são responsáveis coletivamente pela sociedade em que desejam viver! 

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

UM NOVO PARADIGMA PARA ENFRENTAR O FLAGELO SOCIAL DO CRACK


Como o ambicioso programa nacional de combate e enfrentamento ao crack e outras drogas, (Decreto 7.426/2010) apresentou inexpressivos resultados concretos e o flagelo social do crack continua livre, não bastará mais prender ou quebrar financeiramente o distribuidor da droga, porque outros traficantes assumirão o posto. Os aparelhos de Estado, principalmente o da Justiça terá que assumir um novo paradigma substituindo prisão por tratamento químico de dependentes, em  um dos 2.400 leitos implantados para esse fim pelo SUS, anunciados pelo Governo Federal em 2010. Na execução dessa ação, o tratamento químico deve chegar a quem mais precisa dele: aos dependentes químicos que precisam de tratamento contra o vício, sem envolvimento político, porque os doentes químicos precisam de tratamento;  não de prisão. Se os juízes tivessem coragem de ousar e experimentassem substituir os três anos de privação de liberdade para adolescentes, por três anos de tratamento contra a dependência química, poderiam ser aliviadas as cadeias em sua atual população carcerária. Aos adultos dependentes químicos, os juízes ao proferir suas sentenças deveriam oferecer a opção: ou faria o tratamento contra a dependência ou iria para prisão! Mas isso não ocorre, infelizmente!

Como promessa de campanha cumprida, Dilma Rousseff, de novo em campanha para reeleição, não poderá mais afirmar como nova promessa que o crack é “o um drama, uma tragédia humana”. Toda a sociedade sabe que é uma “tragédia humana” e conhece seus efeitos e resultados. Talvez se a Lei tivesse sendo cumprida, o Governo já soubesse o que leva as pessoas a buscar a droga e porque ela é tão autodestrutiva. Mas prender adultos envolvidos com droga e afastar adolescentes por até três anos, longe do convívio familiar não resolve mais o problema social porque depois de cumprir as decisões judiciais, se tiver tratamento e encontrar uma oportunidade,  voltará às drogas, destruindo lares e famílias inteiras porque todos adoecem junto com o doente. 

No momento em que a saúde pública vive um caos total com a falta de leitos hospitalares, relembro que durante o lançamento do Programa, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que seriam criados 2.400 leitos aos usuários dependentes químicos pelo SUS, com investimentos de 670,6 milhões de reais para isso, porque o crack teria se tornado uma grande ferida social, com capacidade para destruir famílias, ambientes e espaços urbanos, como é o caso da Cracolândia, em SP, que perdeu o poder de venda dos imóveis que lá existem. Diante dessa aparente contradição parece ser utopia o que estou propondo. Mas não deixa de ser uma alternativa para reduzir a população carcerária e pode ser um caminho alternativo para começar a resolver o grave problema prisional do Brasil e, principalmente, dos adolescentes cumprindo medidas socioeducativas ou adultos cumprindo penas de prisão em cadeias públicas. A medida socioeducativa é o primeiro estágio nas Universidades do Crime, proibidas para maiores de 18 anos. Depois, seguem-se graduações subsequentes até atingir o nível de  PHDs em todos os tipos de crimes! A sociedade, impassiva e impotente vê que, além das boas intenções e de dinheiro que existe, não  há nenhum tipo de preocupação prática e efetiva das autoridades em campanha nesse sentido, porque em termos sociais, muito se fala em combater ao tráfico, criar leitos, clínicas especializadas para tratamento, mas nada chega à sociedade, às famílias carentes que vivem esse drama das drogas em suas casas.

Os candidatos à presidência da República precisam dizer concretamente, o que pretendem fazer para enfrentar a grave epidemia social do crack porque ainda podemos salvar o que resta de jovens sadios na sociedade. Dinheiro existe para fazer programas sociais, hospitais para isso estão sendo construídos em vários Estados, mas falta vontade política, projetos e uma estruturação total da sociedade para que atinja a todos os Estados.  Foram desativados 13 mil leitos em hospitais e, macas as do Serviço Médico de Urgência – SAMU, estão sendo usadas para substituir os leitos desativados, gerando problemas aos que desejam fazer uso desses serviços. 

Nesse momento de crise hospitalar, parece que se falar em tratamento contra a dependência química em clínicas, seria a menor das prioridades para o Governo, mas não é! Se nada for urgentemente desenvolvido alternativas para a redução da população carcerária e tentando fazer com que não voltem mais ao vício, perderemos o controle sobre os adolescentes viciados que merecem ser tratados e não afastados do convívio familiar por até três anos, porque sem tratamento especializado que os livre completamente do vício, voltarão na primeira oportunidade que tiverem, pois falta-lhes faltarão orientações psicológicas e sociais para enfrentar e resistir à dependência química. Seria uma espécie de Alcoólicos Anônimos, voltado à dependência química. 

O programa para tratamento de dependentes químicos, quando foi criado em 2010 previa a capacitação de 210 mil professores e o beneficiamento de 2,8 milhões de alunos. Contudo, para concretizar essas metas, o Governo Federal deveria desenvolver o Plano Nacional de Enfrentamento ao Uso de Crack e outras Drogas da mesma forma que é desenvolvido atualmente o Bolsa Família, trocando-se o dinheiro que é pago para as famílias pelo tratamento aos dependentes e trocando as penas de encarceramento ou afastamento de adolescentes do convívio familiar, por tratamentos  e, se for preciso, compulsoriamente, via internação judicial. Caso contrário, será como enxugar gelo com gelo, pois ficará sempre no mesmo círculo vicioso de prende, condenada e solta, não quebrando nunca o elo que liga o dependente químico ao vício do crack.

A ampliação do policiamento nos locais de consumo de drogas e nas fronteiras não aconteceu efetivamente, como também o instituído Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre Drogas não chegou a ser interligado a nível nacional e o Projeto que alteraria o Código de Processo Penal com o objetivo de acelerar a destruição de entorpecentes apreendidos pela polícia e agilizar o leilão de bens com origem no tráfico, continua sendo discutido dentro do Congresso Nacional. Os 4 bilhões de reais prometidos para todas essas ações continuam esperando mais projetos sociais para serem analisados. 

Em alguns Estados, estão em construção de clínicas. Em outros, foram inauguradas, mas aguardam a contratação de médicos e profissionais, enfim, o Brasil está mudando, mas lentamente e em passos de cágados.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

CRÔNICA DE UMA TARDE INESQUECÍVEL!


Na despedida, quase 18 horas, desci as escadas com um ovo de “ganso” na mão! 

Estivera antes em visita a casa do tio de minha esposa, o médico poeta e escritor, Francisco Antonino Bacellar.

Dentro de um cercado de cimento com telas, mais gansos, patos, marrecos, picotes, peru, galos e galinhas. Parecia um sítio, mas era apenas uma chácara dentro de um bairro, com uma casa de dois andares ao centro, imitando um castelo cheio de portas, janelas e muito verde em volta e árvores frutíferas - manga, fruta pão, pupunha e outras - plantadas no quintal e em volta da casa, dando um ar de tranquilidade ao local, só perturbado por uma música alta de um bar próximo. Também, no quintal, um frango de três meses de idade, valente e que brigava com todos os outros que estavam centro do cercado de cimento, era abatido e colocado dentro de uma panela fervente para depená-lo. Era fim de tarde e eu admirava quatro araras ainda livres, leves e soltas deslizando as penas ao sabor do vento, seguindo rumo à reserva do Instituto Nacional de Pesquisas Amazonas – INPA. Cantavam e estavam alegres, talvez porque tivessem certeza que continuavam livres e existiria, ao final da jornada, árvores para descansarem do voo e se alimentarem.

E na visita à residência do médico, escritor e poeta, entre conversas jurídicas que não me interessavam, observava tudo em minha volta. Vi e ouvi cachorro latindo e lembrei-me de quando também morava em casa, no Conjunto Campos Elíseos e cheguei a criar 8 cachorros, destacando-se “Madona”, uma cadela “pastor alemão” e a “Princesa”, uma poodle toda branca que pulava tanto que parecia ter mola nas pernas quando, aos sábados me observava colocando sandália no pé, vestindo uma bermuda e pegando sua coleira. Corria logo para meu carro, pulava pelo vidro e permanecia na janela do passageiro. Sabia que ia passear, pegando vento! Ela adorava e eu também!

Admirei cada canto do local em que me encontrava, tomei remédios com água, entrei e sai do banheiro algumas vezes e reclamei de um som elevado de “karaoke” com intérpretes desafinados impedindo-me de ouvir as belas músicas de a IX Sinfonia de Betovem, tocada em um órgão pelo tio de minha esposa. “Eu já doei para eles o CD de Andréa Bocchelli e não ouvi  tocarem nenhuma vez”, me disse o médico-poeta e poeta-médico, Francisco Bacellar, justificando a música que ouvia de um bar na esquina da rua. “Quanto mais bêbados ficam os frequentadores, mais elevado põem o volume da música”, acrescentou. É...! Parece que pessoas quanto mais bebem, a primeira coisa que perdem é a audição, depois a consciência e terminam por fazer bobagens!

Minha esposa, escorada numa janela, ao ouvir a música que saía do órgão, chorava pensando nos 10 anos de falecimento de Maria Luíza de Souza Queiroz, no dia de nosso casamento – 2 de agosto -. “Sabia que a pessoa pode programar o dia de sua morte?”, perguntou o médico. A Yara se interessou e respondeu: “Talvez minha mãe tenha morrido no dia de nosso casamento para eu nunca esquecer dela”. Na verdade,  mãe nunca se esquece porque mãe só teremos uma em toda a vida. Pai, podemos ter vários ao longo de nossa existência, mas mãe, por mais que venhamos morar com outras famílias que nos criem, sempre só teremos uma. Felizmente, ainda tenho minha mãe, jovem, sorridente e feliz aos seus 70 anos de idade. Minha sogra foi  se expressava muito bem no órgão e foi a primeira acordeonista a tocar ao vivo no Estúdio da Rádio Difusora e uma das primeiras mulheres professoras de acordeom no Amazonas.

Além da casa em que morei até decidir mudar-me para apartamento, lembrei também da comunidade de Varre-Vento, mas não sei exatamente a razão de eu ter lembrado disso. Talvez fosse pelas árvores, talvez fosse pela tranquilidade, talvez fosse pela paz que senti durante a visita. Senti uma paz e consegui sorrir um pouco do que via, de forma aberta e não sorrindo só para dentro! Também sorria interiormente porque me lembrava de coisas boas que lembrava ter vivido no passado. Foi uma tarde mágica!

Mesmo não sendo de sorrir com frequência, lembrei de várias piadas e as contei para o médico-poeta-escritor e ele sorriu algumas vezes. Como as piadas eram contadas por mim com muito gaguejo, repetições de “e” isso, “e” aquilo, minha esposa dizendo-me “resume logo isso porque senão vamos passar o dia e a noite aqui” e eu lhe explicando que havia perdido o poder de síntese que tivera antes das cirurgias no cérebro! 

Foi uma tarde maravilhosa!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O MUNDO!


O meu mundo 
se resume na terra 
que transporto embaixo  
das unhas, depois que planto rosas para perfumá-lo;
(de mais nada preciso);
porque além disso, nada levarei ao partir, nem os amigos.
Tenho o bastante para viver feliz comigo mesmo: 
(meus remédios e fé em Deus, seja lá como ele for)
Isso é o que me importa!
Os amigos escritores, poetas, cronistas, médicos e pesquisadores
devem permanecer vivos para continuar vivendo
ou acharem  algo melhor para faz
no mundo hipócrita, tecnológico, desenvolvido, mas egoísta!
Talvez depois que partir, médicos encontrarão a razão
explicação para eu ter partido, atendendo ao chamado de Deus!
Talvez digam dirão  fui um gênio ou apenas um louco!
A diferença é tão pequena que
talvez não perceba e nem me importe com isso, 
depois que eu me for!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

EU, OS PERIQUITOS E MINHA TRISTEZA! (homenagem aos amigos)

http://www.youtube.com/watch?v=wnEkapJoI6U&feature=youtu.be




Estou triste! 

Os periquitos que cantavam alegres e felizes na árvore e, que eu os avistava da janela da cozinha, desapareceram. Hoje, só consigo visualizar por detrás de meus óculos 7,5 graus bi focal, com muita dificuldades e ao longe, apenas uma árvore-triste, sem seus seus periquitos que, como a mim também, lhe tornavam alegre e suas folhas balançavam ao vento, enquanto meu coração sorria feliz. A árvore e eu deixamos de ouvir os alegres cantos e de ver os voos rasantes que davam, em uma alegria que me contagiava também. Agora, não desfruto mais da maravilha que era ouvir e ver a orquestra entrando e saindo do galho da árvore aos bandos, todos ao mesmo tempo, que estava em formação,  parecendo obedecerem a algum comando ou ordem de alguém.

Mas de quem comandaria ou ordenaria aves que nasceram para ser livres? O instinto? O medo? Ou apenas estavam se exibindo porque sabiam que eu os admirava? Pelo menos, nesse aprendizado orquestrado, já sabiam fazer o recuo e o pouso novamente, com uma perfeição que me impressionava. Mas será que os periquitos recuaram tanto que desistiram dos ensaios diários, de manhã e de tarde? Ou será que partiram sem se despedir porque eu os olhava tanto? 

Não ouço e nem me delicio mais como antes, com o revoar dos periquitos, ao final da tarde, todos ao mesmo tempo. Talvez fique sem saber as respostas da razão da “rebeldia” de terem partidos todos ao mesmo tempo! Talvez voltem, mas não sei. Só sei que estou com saudades de todos e a tristeza me invade o peito e mata o coração já morto pela tristeza extrema. Mas também não quero saber e, se alguém souber, prefiro que me conte, para não aumentar mais minha tristeza já tão triste,  nem que seja só para matar minha curiosidade! Não me torturem mais do que estou sendo torturado ao olhar para a árvore e não os vê-los revoando para um lado e para o outro, alegres e talvez, infelizes!

Estou triste e minha tristeza já me é bastante! Para quê ficar mais triste, ainda?

De tudo que achava lindo, no ir e vir dos periquitos, restou-me apenas um sabiá que traz em suas asas meus poucos amigos que restaram, (mas, sinceros) e todos cabem em suas frágeis asas. Pousa o sabia, bica em minha janela do quarto, descem de suas asas os poucos amigos que restaram e velam o sono, sob o efeito do gardenal de 100 mg. Ficam o sabiá e meus amigos, por uns 15 minutos, até que eu durma dopado. Depois, retornam nas asas do sabiá que os deixa em seus locais de origem. À tarde, voltam de novo o sabiá e meus amigos só para saberem como me sinto, se dormi bem, se tive um sono bom. Digo-lhes que estou bem porque Deus me mantém vivo e todos a voltam a partir nas asas do sabiá que os trouxe. E assim ocorre todos os dias!

Dos “amigos” que eu pensava ter (quando exerci cargos e funções de comando, nos jornais em que trabalhei como editor geral; no local onde fui Superintendente e Diretor de órgão para estatal, no Amazonas), me abandonaram como os periquitos e, também não me deram adeus. Mas não sinto falta deles; mas, de um calor humano porque ser amigo verdadeiro é quando quer e volta quando não se precisa dele, mas nos faz  bem, sempre.

Com alegria e lágrimas nos olhos, recebi em meu apartamento as amigas, ex-colaboradoras e agora diretoras do SEST/SENAT, uma em Manaus e outra em Macapá, Grece Melo e Ana Quadros. O José Edmílson Duarte Diniz, advogado, ex-funcionário do Detran/Am e que fez curso de Diretor de CFC também na mesma turma que fiz, veio junto e me deixou feliz. Mostrei para ele onde cantavam os meus periquitos e disse-lhes que não estavam mais vindo! Quando esperava meu filho Carlos Costa Filho ser atendido com o médico Dr. Dante, Luis Garcia Rivera,  Ronaldo Michiles, sentou ao meu lado e perguntou: “Você está me reconhecendo? Não o reconheço, quem é você? Sou o Ronaldo Michiles, fomos vizinhos no Conjunto Rio Xingu”. Lembrei. 

Retornei 32 anos no tempo e me vi visitando-o seu apartamento no segundo andar, descendo uma escada ampla, entrando em seu apartamento e recebendo o seu abraço. Ah, que saudade danada! Mesmo sem me ver há tanto tempo, ainda me reconheceu, mas sofreu um stress e perdeu a memória quando fazia pesquisa de campo em Maués para concluir seu doutorado e, como eu, passou a se lembrar mais do passado e esquecer do presente. Agora, está bem. Decidiu mudar o estilo de vida como eu, emagreceu e está cuidando mais de sua filha de 13 anos de seu segundo casamento.

Em viagem de férias como “fiscal da natureza”, encontrei a cronista e educadora Edna Lopes e a médica Adelayde Reis, a “Dadá”, no passado, uma famosa jogadora de Voley, em Alagoas. Em Natal, revi Francisca da Silva. Em João Pessoa, conheci e me apaixonei pelo cuscuz com ovo que fazia para o café da manhã, Josyane Farias. Busquei pelo facebook e encontrei morando em Recife, o radialista Beto de Paula e a poetisa Tarciana Portela, lançada pelo consagrado Jorge Tufic, em seu “Livrornal” como a maior promessa jovem da poesia no Amazonas e, na mesma cidade, Lenna Machado. Fui adicionado no facebook pelo amigo de adolescência Luiz Eron Castro Ribeiro, hoje advogado brilhante em causas cartoriais e o Dr. Ronaldo Michiles, que me fez retornar 32 anos no tempo e lembrar do primeiro apartamento adquirido em 24 anos pelo SFH. Era simples, mas era bom! De todos, sinto saudades! Não me queixo pelos amigos que perdi porque isso faz parte da vida, mas sinto falta do calor humano de pessoas que me querem bem. 

Ainda que ouço ao longe, canto de pássaros que cruzado o céu nem sempre muito limpo, no local em que moro, mas não os vejo apesar da quase perda total da lateralidade da visão. Isso me alegra e me deixa triste. Alegro-me porque sei que ainda estou vivo porque Deus quer; triste porque sei que ocupo agora o lugar onde cantavam todos pássaros felizes de minha imaginação contemplativa, os macacos da noite que filmava da janela de meu apartamento no Condomínio Florença Residencial Park, onde morei por vários anos, as araras vermelhas, e amarelas que comiam em uma árvore frondosa onde vejo apenas uma piscina azul imensa, salinizada.

Como os periquitos da árvore que partiram e, talvez, voltem, estou triste porque “amigos” que eu considerava desapareceram sem me dar adeus, sem dizer para onde iam e se voltariam, enfim. Mas, hoje, não quero que retornem porque amigos não se substitui; arruma-se. Todos importantes, uns mais e outros menos. Os periquitos talvez voltem; os que se diziam “meus amigos”, esses não quero que voltem para não me decepcionarem de novo. 

Aprendi que existem três tipos de amigos: os que vem, fazem morada dentro do coração e nos causam dor quando partem; os que aparecem de ocasião e os que se vão sendo sem terem construído nada em nossos corações e os que são para a vida toda, hoje os mais raros e difíceis de serem encontrados no mundo egoísta e individualista em que vivemos! Fez-me bem, reencontrá-lo, Ronaldo Michiles, porque voltei no tempo e isso me fez muito bem!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

"NO ACEPTAR SOLICITUD DE MÉDICOS CUBANOS"


Mais um desrespeito, uma discriminação contra os já explorados médicos de Cuba pelo Governo do Brasil, é o que vem acontecendo em algumas clínicas que decidiram recusar exames complementares solicitados pelos profissionais que aceitaram vir atender pacientes pelo programa Mais Médicos, com o argumento de que “no aceptar solicitud de médicos cubanos”, (NÃO ACEITAMOS REQUISIÇÃO DE MÉDICOS CUBANOS). Estou me referindo ao que ocorreu no município mineiro de Uberlândia, especificamente. Outros casos podem estar ocorrendo em os outros Estados ou municípios do país, comprometendo sobretudo a saúde de quem precisa de atendimento: o povo carente!

O programa Mais Médicos do Governo Federal decidiu enfrentar o Conselho Federal de Medicina e trouxe médicos estrangeiros para atender onde faltavam médicos no Brasil. De Cuba, veio a maioria para atender no Brasil, mesmo sendo explorados em sua mão de obra porque o Ministério da Saúde repassa 10 mil reais pelo trabalho dos médicos à Organização Pan-americana de Saúde que, por sua vez, repassa ao Governo de Raul Castro, mas os profissionais só recebem pouco menos de 20% do valor, muito menos do que outros médicos de vários países. Mesmo assim, os profissionais cubanos aceitara trabalhar em um país que se diz de economia emergente. Contudo, é o mesmo país que em quatro anos não conseguiu acabar com os lixões a céu aberto, existentes na capital federal e em vários Estados e Municípios, com argumentos de falta de recursos – ou seriam, apenas, a somatória da falta de projetos, de planejamento ou má gestão dos prefeitos? -, que defendeu e criou impedimentos de todos as formas para chegarem os profissionais formados em Cuba para trabalhar no Brasil. Como promover atenção básica a saúde aonde existem lixões?

Esse diálogo realizado entre uma produtora da TV Integração, afiliada da Rede Globo e exibida no Bom dia Brasil, com a secretária de uma clínica não deixa qualquer margem de dúvida, quando ao mais novo processo discriminatório contra os profissionais médicos:

Atendente: É cubano?
Repórter: É cubana.
Atendente: Não, não, com este pedido não tem validade.
Repórter: Por quê?
Atendente: Não sei. Foi determinado para nós, secretárias, que quando for paciente com pedido de médico cubano, não tem validade. Mas o porquê não passaram pra nós não.
Repórter: Eu não tenho outro pedido. Eu só tenho desta médica.
Atendente: Pra nós aqui ele não tem validade.
Repórter: Na clínica de vocês  não faz com médico cubano?
Atendente: Não.

Em Uberlândia, MG, onde ocorreu esse desrespeito, existem doze médicos cubanos que integram o programa do Governo Federal “Mais Médicos”, se constituindo em mais uma discriminação contra os abnegados profissionais que se sujeitaram a receber menos do que os outros profissionais médicos de outros países e um total e completo desrespeito aos pacientes que têm dificuldades em marcar uma consulta, solicitar ou receber um pedido de exame de um médico qualquer. O artigo 5o da Constituição Brasileira diz que todos são iguais perante a lei, “no aceptar solicitud de médicos cubanos”! Por quê?

A prefeitura de Uberlândia se posicionou sobre essa discriminação imposta por clínicas conveniadas com o Sistema Único de Saúde- SUS, dizendo não entender a causa, o motivo ou a razão. Mas, Elisa Toffoli, Coordenadora da Atenção Básica do Ministério da Saúde, garantiu que “o registro é válido e o profissional tem todos os direitos de atuar na Atenção Básica como qualquer outro profissional. Seja ele brasileiro ou estrangeiro com diploma revalidado Brasil”. O representante do Conselho Regional de Medicina Alexandre de Menezes argumentou que em alguns casos, em caráter de urgência, o médico tem a liberdade de escolher ou não um procedimento, mas garantiu que “o médico é obrigado, em caráter de urgência, a atender a solicitação do paciente do programa Mais Médicos ou de qualquer outro profissional de saúde. Agora, se for um exame eletivo programado em uma clínica particular, ele não tem obrigação nenhuma de fazer, por motivo nenhum”

Dr. Alexandre, não se trata de falta de atendimento. A paciente foi atendida, o médico cubano pediu exames complementares e a clínica se recusou a aceitá-lo! Desculpe-me, doutor Alexandre, mas sua explicação não disse nada! Foi dúbia e contraditória! 

E o paciente que é atendido por médico cubano, mineiro, brasileiro enfim, tem o direito constitucional de receber atenção básica de saúde em todos os casos. Essa nova retaliação contra os médicos cubanos precisa ser urgentemente apurada pela Polícia Federal, o Ministério da Saúde, a Presidência da República, Felizmente o promotor de Justiça da Saúde, Dr. Lúcio Flávio de Faria prometeu estudar o assunto, mas a priori, garantiu que a clínica deveria ter atendido à paciente que precisava apenas de uma ultrassonografia para acompanhamento de sua gravidez e não questionar o pedido do médico se é cubano, francês, holandês, peruano ou de qualquer outro país.

Será que  os médicos cubanos não serão respeitados no Brasil porque “no aceptar solicitud de médicos cubanos”? Um absurdo!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

"ESSE GOVERNO QUE AI ESTÁ" VOLTOU, EM FORMA DE "PTRALHAS"


“Esse governo que ai está” era a frase mais pronunciada pelos deputados da oposição, MDB, quando criticavam a Arena, que era Governo. A mesma frase foi substituída por “esse governo de Ptralhas que aí está” .Isso mesmo! O PT passou a ser “Governo de Ptrabalhas”, para se referir ao Governo que está no Poder. No Amazonas, quase todos os políticos atuais que concorrem ao Governo do Estado, são oriundos do mesmo grupo político criado pelo ex-governador Gilberto Mestrinho (já falecido), fundou um partido político, gestou sua escola política. O resto é história! 

Durante entrevista na década de 80 que fiz dentro de um avião bimotor, com o ex-governador Paulo Pinto Nery, sobre a vinda de Gilberto Mestrinho para o Amazonas a fundação de um novo partido para disputar as eleições ao Governo do Estado, o mestre deu-me, com outras palavras, a seguinte aula de filosofia grátis: no Brasil, poderão existir até mais de 50 partidos, mas na hora da disputa eleitoral, todos se unirão em blocos e, no final, passarão a existir dois, como hoje (MDB X ARENA): aquele que está no poder, ainda está com fome e quer continuar comendo e todos  que alcançar o poder a qualquer preço, mesmo que, para isso, tenham que fazer alianças inimagináveis, outras inconfessáveis ou mesmo se aliando a badernas orquestradas com partidos radicais, sem qual princípio ideológico, mas que lhes apoiam nas ruas em nome de uma exigência social, que poderá nem existir. O partido que está no poder não quer sair e todos os outros vão querer entrar para comer também.

Paulo Nery, oriundo do Regime Militar foi professor na Faculdade de Direito do Amazonas, estava certíssimo! É o cenário político que se desenha hoje no Brasil e em vários Estados, com alianças estranhas entre candidatos estranhos, sem qualquer ideologia, coerência, princípios morais e éticos,  tudo visando alcançar o poder a qualquer preço.

Com discurso generalizado de “os “Ptralhas” que ai estão”, a chamada mídia social ataca de forma violenta e desproporcional, o Governo do PT, que está no Poder. Eu questiono: será que todos os políticos do PT são farinha de um mesmo saco? Será que não existe ninguém honesto dentro do PT? Será que só por que alguns políticos do partido (como de outros também) se envolveram no esquema do “mensalão”,  (julgados, condenados e cumprindo penas) ninguém do PT presta mais? 

Todos os partidos são feitos pelos homens e, assim, tem que existir a dualidade: os que prestam e os que não prestam. Cabe ao eleitor saber escolher. Aliás, chego a pensar que existem mais partidos para receberem votos do que eleitores aptos a votar. Só que muitos partidos funcionam como siglas de aluguel para compor acordos e conchavos em troca de ter um pedacinho do poder e mais tempo de campanha em rádios e TVs.

Dos diversos partidos que existem no Brasil e disputam a presidência, o menos pior continua sendo o PT que, bem ou mal, está sendo conduzido de forma coerente, honesta e transparente o Brasil na gestão da presidente Dilma Rousseff – presidenta, como ela quer ser chamada por decreto. Mas como profetizou na década de 80 o ex-governador do Amazonas, na disputa à presidência, passaram a existir só dois partidos: o que está no poder, chamado de “Ptralhas” pelos opositores e todos os outros que querem chegar ao poder. 

Os partidos sem muita expressão eleitoral, usaram Eliza Quadros, a “Sininha”, para criar a Frente Popular Independente, como um suposto grupo social que não é, nunca foi e jamais será, com o propósito de gerar tumultuo na sociedade, implantar o medo, criar o caos e, assim, ficar mais fácil e rápido alcançar o objetivo traçado de chegar a Presidência da República. Depois, quando os partidos aliados sem qualquer ideologia ou ética, se digladiarem pelos cargos, acontecerá tudo de novo e será de novo “um vale a pena ver de novo”! Só que novas acusações, denominações e denúncias, ou seja, apenas uma repetição do que existia no passado com dois partidos ideologicamente definidos, o MDB – Movimento Democrático Brasileiro, de oposição e a Arena – Aliança Renovadora Nacional, situação. 

Relembro esse ensinamento do ex-governador Paulo Pinto Nery,  para dizer que existe uma gritante diferença entre o que venha ser  “movimento social”, uma ação coletiva de setores da sociedade ou organizações sociais para defesa ou promoção, no âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou interesses, tanto de transformação social do que venha a ser a FPI, um movimento de baderneiros, irresponsáveis e inconsequentes -sinônimo de bagunça - que querem atingir seus objetivos, se é que existem, que é chegar ao poder a qualquer preço, mesmo que pisem em cima de qualquer um ou de todos. 

O ex-governador do Amazonas, mesmo não sendo filósofo e muito  futurólogo, acertou: Hoje, no Brasil só existem dois partidos, um que está dentro e continua com fome e quer continuar comendo e todos os outros que estão fora e que querem chegar ao poder na marra e não pelo voto consciente e responsável dos eleitores!

sábado, 2 de agosto de 2014

O HOMEM DA ROSA, indicado ao prêmio Jabuti de 1999 pela Câmara Brasileira do Livro


sexta-feira, 5 de julho de 2013



CARLOS COSTA, POETA E CRONISTA

              A trajetória da crônica amazonense, vai de Orelãna e Carlos Costa. Da foz do Amazonas ao Morro da Liberdade (lugar onde nasceu o autor, em Manaus). Mudou na forma mas persiste nela, o conteúdo mítico das sombras que as transformam em mulheres guerreiras, e dos fatos sociais que tomam a fumaça da colorida da TV para as coisas do entrudo urbano que possam disfarçar o apocalipse humano...
              O autor é uma testemunha, recente, que se empenha em resgatar a Manaus afetiva, adolescente e pura dos anos quarenta e cinqüenta; seu réquiem ainda pode valer os contornos da amizade, do namoro furtivo, dos natais caseiros, das empregadas domésticas sem INPS e sem televisão na cozinha, das morenas em flor, das extensões com a infância verde do estado, da voz de Josué Cláudio de Souza, no horário de meio-dia, e tantas outras relíquias que o bombardeio eletrônico da ZFM converte, secamente, no pó das lembranças. A bem dizer, as crônicas de Carlos Costa são crônicas da falta. A falta dos tempos singelos que, de modo paradoxal alimentam a crônica.  
              E as crônicas se tornam singelas. O tom coloquial de quem lamenta não ter ido ao enterro do amigo, redime pelas garras do remorso, e exuma o tempo pelo milagre da poesia. Os amores da primeira idade e as canções de peito sofrido crivam também o solo destas “Crônicas Comprometidas com a  Tua Vida”, sequência mágica de um cotidiano que se quer triunfante e belo, produto de bateias invisíveis, de mãos peregrinas que tecem o vento das lutas, numa aparente corrida de frases e perídos que tomam o lugar do repórter e salvam o poeta.
             Que mais dizer do cronista Carlos Costa? Eu prefiro a leitura de seu livro, a certeza de que a crônica amazonense continua viva no dia-a-dia de nossos escritores. A lista deles é pequena, mas significativa: L. Ruas, Alencar e Silva, Arthur Engrácio, Arlindo Porto, Waldemar Batista de Sales, para citar apenas os mais constantes.
             Na parte que me toca, agradeço Carlos, pela última crônica, ao estilo eclético de um travador que sabe inventar balcão e senhora, explicar o poeta e torná-lo um pouco mais visível dentro de uma atmosfera na qual já se distingue  a poeira do satélite, do põem da rosa.
Dizem os físicos modernos que a Natureza não é substantiva, ou seja, ela não tem substância. E nós respondemos: mas tem poesia. Obrigado, amigo.


Jorge Tufic, poeta, ex-presidente do Conselho Estadual de Cultura do Amazonas, atualmente vivendo e produzindo em Fortaleza

                                 PREFÁCIO

              Há muitos anos, em plena flor da mocidade, recebi de uma pessoa desconhecida, no dia do meu aniversário, um buquê de rosas vermelhas. Desde aquele dia, busquei entender o significado do presente, mas não encontrei uma resposta definitiva.Desconhecendo a sua origem, impossível foi estabelecer um relação significativa entre mim e aquele buquê tão belo.
             Anos mais tarde, novamente a cena se repetiu. Só que, mais atento, não procurei saber a origem do presente, mas simplesmente descobrir o significado da rosa. Então, após muitas observações, só consegui entender a rosa como a própria vida: bela e frágil. As pétalas são formadas da mesma maneira que se forma a vida e, ao longo da existência, as pétalas vão se soltando, como também acontece na vida.
            Talvez a minha rosa não seja a mesma rosa dos poetas, não seja a face corada da mulher amada, nem a beleza formosa da moça. Também não se parece com a peça de latão que encaderna os livros, nem com o mostrador de agulhas de merear. Nada se parece, ainda, com a rosa-dos-ventos a mostrar os trinta e dois raios da circunferência do horizonte.
           Minha rosa pode ser tudo e também pode não ser nada. As, verdadeiramente, minha rosa é a vida real, é a busca desesperada de respostas, é a busca do tempo perdido, do tempo esquecido, dos valores esquecidos, do amor esquecido, da dor doída, do tudo, do nada.
          Apresento um homem da rosa sem idade, sem passado, presente, futuro. Um homem que discute temas comuns, em lugares comuns e que busca respostas. Um homem que mostra que a vida é formada em círculos de onde se sai é para onde se vai. Enfim, apresento um homem-quase-comum, igual a você, a mim, a nós, que buscamos respostas.
  O autor
                             
                            APRESENTAÇÃO

           È uma tarefa interessante, e sempre uma distinção, atender ao convite de um amigo escritor para apresentar sua oba, seu trabalho; parto de letras em vidas imaginárias. Entretanto é um fato de criação imediato quando, de repente, muito à vontade, arrisco conceitos sobre suas páginas, sabendo que, invariavelmente é difícil estabelecer uma definição precisa sobre as lições de jardineiro, nesses recônditos mosaicos do pensamento, que muitas vezes não têm exatamente uma recente imagem, mas sensações.
         O texto de Carlos Costa navega no cotidiano dos sentimentos, a caminho do sonho e do delírio, mas um delírio construtivo, oportuno, afinal é imprescindível clamar o amor diante das indiferenças.
        A palavra liga a intuição  à reflexão espiritual e nos leva a uma descoberta súbita da crueldade das convicções humanas, quando não se aceita, ou pelo menos, resiste-se à coragem da solidão dos sensíveis. São instantes, fragmentos dos conflitos que vêm à deriva, na cumplicidade de uma dupla. Neste balé de ondas, que emana da pena, se taça o percurso onde a lógica cabe mais no interior de quem lê do que propriamente do texto em si.
        A obra é referência, sem dúvida, porém, na mente está a resposta ao enigma, como um caleidoscópio de experiências. É um jogo. Jogue. Nele, o subconsciente veleja. Assim pretende o cronista em sua liberdade criativa, ordenando neste episódio um eco veloz, retumbante, dentro da consciência coletiva, perturbando propositalmente os ecos, sacudindo o sossego da convivência alheia...
       Quanta convivência existe, não?!
Para a assimilação da mensagem, a essência está em nós, como disse, e não na obra simplesmente. Somos uma extensão do livro, numa realidade 1000D, além de virtual porque não é fria, tem seus sabores e fragilidade que é tecida  de pele, estímulos e verdades bem conhecidas.
       A flor não é apenas uma rosa estática, soltando para dentro dos leitores. Investiga, sentencia nas nervuras das folhas, na maciez das pétalas, que representa anseios naturais, doutrinando o amor.
       E ela é a bússola, a bandeira de quem se apaixonou pela vida, como os homens das letras, num sacerdócio, o fazem os dias e todos nós sabemos que a existência merece ser defendida com as centelhas da plenitude espiritual e se conclui, por mim, que melhor que esperar pela rosa é fazer do coração um jardim de excelente vizinhança. Decerto, uma rosa nascerá.

Pojucam Bacellar, poeta

               
               COMENTÁRIO SOBRE A OBRA, PELO  EDITOR

“Trago uma rosa comigo” – disse ele em voz alta, talvez querendo ser ouvido por alguém.
Este é o começo de tudo, a chegada do Homem da Rosa ao cenário deste livro. E o homem segue em frente, e nós com ele, na incessante busca por respostas que norteiam a vida, o dia-a-dia de cada um de nós.
Carlos Costa é por excelência um pensador que questiona tudo e, quase que em parábolas, nos traduz o que aprendeu. Nosso pensador é um incansável, é um Quixote, que faz de sua obra a lança e o laço, a bússola que irá nos orientar em tempos difíceis.
O Homem da Rosa é ele, é você, somos nós, todos nós. O Homem da Rosa é um divisor de águas, que nos alegrará, emocionará e, por fim, nos dará a certeza de que nem tudo está perdido enquanto houver rosas, jardins e jardineiros.

                  Artur Rodrigues, escritor e editor de O HOMEM DA ROSA

CAPÍTULO I
 - Trago uma flor comigo – disse ele, em voz alta, talvez querendo ser ouvido por alguém. Mas não havia ninguém – Trago uma flor comigo – repetiu, e ficou olhando para um pássaro que voava suavemente, aproveitando a força do vento. – Não queria acreditar, mas aquele dia parecia igual a todos os outros. “ Por que os dias se repetem, sempre iguais”? – pensou. Ele tinha lido em algum lugar que todos os dias são iguais porque as pessoas deixaram de perceber as coisas boas que aparecem em suas vidas sempre que o sol se põe. “Os dias são como o sol: nasce, caminha e morre. E as pessoas só sentem falta do sol quando a chuva vem e elas reclamam que o sol não existe” – pensou novamente, como que querendo que alguém lesse seus pensamentos. Mas não havia ninguém. Ele estava só, caminhando sem saber para onde.
O homem que caminhava só não de um tipo incomum. Ao contrário: era comum demais para ser percebido por outras tantas pessoas comuns. As pessoas não conseguem identificar as coisas porque não sabem ler a Alma. É na Alma que se permite ao homem vê além do que os olhos mostram.
- Esta flor é alma, a vida. É bela e é frágil. E só é bela porque é frágil. Tudo o que é belo é frágil e precisa de cuidados especiais. É como a Alma. As pessoas não entendem de Alma e por isso não a acham bela. Tudo o que as pessoas não entendem não lhes dão beleza. O que eu faço com a minha flor? Não quero que ela morra...- falou novamente o homem, mostrando um certo desespero por ver que o tempo passava e ele não encontrava uma só pessoa para entregar a flor. E por que tinha que dar a flor? Nem ele mesmo sabia, como também não sabia exatamente onde havia encontrado aquela flor.
- Talvez eu a tenha arrancado de uma pedra. As belas flores estão nas paredes, só que os olhos não os vêem porque os olhos não sabem ver aquilo que lhes parece impossíveis. E, para os olhos, uma flor na pedra não existe. Mas eu lhes afirmo que existe porque eu a encontrei. A pedra de onde eu tirei a minha flor é mais forte que todas as pedras que existem porque é uma pedra que nasce no coração das pessoas que não têm Alma – disse o homem, em voz alta, enquanto sentava sobre a sombra de uma árvore para descansar.
Deitou suavemente a rosa em seu peito e dormiu. O sol forte daquele dia lhe bateu no rosto e ele fechou os olhos. De repente, um sonho profundo se lhe abateu.
- Olhe aquele homem ali, ele parece morto – gritou um garoto que passava rápido. – Olhe, ele tem uma rosa sobre o peito.
Foi até o homem e tentou tirar-lhe a rosa para vender. Não conseguiu. Ao puxá-la, sentiu como se a rosa tivesse raiz e não se soltava da mão daquele homem de cabelos longos e barbas longas e uma feição diferente. Com o movimento do garoto, o homem acordou.
- Não tenha medo. Eu estava esperando por você. A rosa será sua, mas me responda uma coisa: você já plantou uma rosa antes?
- Não, senhor... A rosa não nasce se a gente plantar... – respondeu hesitante.
- Não? Como você pode afirmar isso se nunca plantou uma? – insistiu o homem de cabelos e barbas longas.
- Eu tenho que plantar um pé e não uma rosa. Uma rosa não tem semente e sem semente ela não nasce... – explicou.
- Olhe, sente aqui – e acomodou o garoto ao lado da rosa. Em seguida, pegou a rosa e  colocou-a na mão do garoto.
- Olhe isso aqui não é simplesmente uma rosa. É a vida. Observe as pétalas da rosa, não são belas? Pois cada pétala dessas que você está vendo é um ano de vida que nós podemos ter. E esses espinhos, você sabe para que servem? É para defende-nos dos problemas da vida. A rosa é bela e frágil, como a vida, e precisa se defender. Se a você tira o espinho da rosa, ela fica indefesa e more. É como se nós ficássemos doentes e morrêssemos. Olhe bem aqui no centro da rosa. Está vendo essa última pétala, a bem do centro? Essa é o nosso primeiro ano de vida. Temos que ser protegidos porque somos frágeis. Olhe essa outra pétala aqui no meio. Ela é maior e está meio solta das outras. Essa é quando estamos na adolescência e entendemos a vida como só nossa. É por isso que o adolescente é rebelde. Ele quer se soltar do centro da rosa...
O garoto não dizia nada, só olhava para aquele homem que falava com uma voz suave, tranqüila e transmitia paz. E o homem continuou:
- Essa última pétala, já meio solta das outras, é o fim de nossa vida. Observe que ela está querendo morrer. Isso é porque já chegou ao final de tudo e precisa entender da Alma. E a Alma só existe depois que ela não puder permanecer com as outras.
- Mas a rosa tem perfume – disse o garoto, como que querendo dizer que a rosa não era nada do que o homem insistia em dizer.
- A vida também o tem. Os perfumes da vida são percebidos pelas pessoas que Amam. E amam com a Alma...
- E o que é a Alma? O senhor fala tanto em Alma... – perguntou o garoto, já demonstrando certo medo daquele homem. E se ele fosse um salteador?
- Você ainda não tem idade para entender de Alma, mas acredite nisso: a vida é traçada antes da sua existência. Temos que segui-la por uma estrada longa, cheia de barreiras, pedras, espinhos. Temos que subir e descer montanhas. Temos que sentir sede, fome e frio. Se subirmos uma montanha, devemos para descer outra montanha. Se não acreditarmos nisso, poderemos cair na descida e nunca poderemos subir de novo.
- Minha mãe está esperando. Ela disse que eu não devo conversar com estanhos. E eu já conversei demais com o senhor. Desculpe-me, mas eu preciso ir... – disse o garoto, levantando-se rápido e saindo correndo.
- Ei, espere. Olha a rosa que você queria...
O garoto não parou, não olhou para trás e saiu correndo. O homem voltou a ficar só com sua rosa, que permanecia bonita, apesar do sol forte.
Havia naquela rosa algo mais do que a simples beleza, mas ninguém a entendia melhor do que o homem que a carregava. Talvez houvesse diferença entre a vida e a morte, entre o ontem e o hoje e, talvez, o amanhã; entre a luz e a sombra, enfim, entre a ordem e a desordem. Quem há de saber? O certo é que as respostas buscadas pelo homem da rosa- não estavam onde ela as procurava. Mas que respostas ele queria? Nem ele  sabia onde encontrá-las.
Em maio a solidão da rua, escreveu num pedaço de papel: “O ser humano detém, por herança ou conquista uma gama de atributos e qualidades, cuja maior ou menor presença, desenha-lhe o perfil: a coragem, o vigor, o talento, a riqueza, o prestígio, tudo aquilo, enfim, cuja presença ou ausência faz de um homem alguém amado, estimado ou admirado são fatores que o ser humano procura obter ou desenvolver para destacar-se diante de seus semelhantes”. Depois colocou o papel no bolso, levou a rosa ao peito e murmurou: “Tirem tudo de mim, mas não me tirem a rosa. Ela é meu sonho e um homem não vive sem um sonho. Deixem-me sonhar. É a minha vida.”

                               CAPÍTULO II

        - Posso entrar?...Trago esta rosa comigo e não queria que ela morresse... – disse o homem, ao bater na porta da primeira residência que encontrou desde que começou a caminhar com a rosa.
 A mulher que o atendeu, meio desconfiada, respondeu que ele não poderia entrar porque estava sozinha e o marido poderia chegar a qualquer momento.
- Não tem importância, eu falo com ele também...insistiu
- E que o senhor deseja falar...fale daí mesmo – disse-lhe a mulher, acrescentando – Se é vendedor, saiba que eu não compro nada...
- Eu não sou vendedor, senhora. Eu apenas tenho esta rosa e não queria que ela morresse. Ela precisa de água... – respondeu o homem, calmamente.
- É estranho que o senhor tenha esta rosa na mão pedindo água na casa de estranhos. Se você é dono dessa rosa, por que não vai para casa e a entrega para sua esposa? – perguntou a mulher, desconfiada.
- Eu moro só, senhora. Moramos eu e esta rosa. Se ela morrer, a vida também vai morrer. Ou a senhora não percebeu que esta rosa  é como a vida. Ela precisa de água  como eu preciso de sangue. O sangue da rosa é a água, como o ar também é o sangue dos homens. Eu preciso respirar para viver. O meu coração precisa respirar e ele só sabe respirar o perfume da rosa. Se ela morrer, não é só ela quem morre. Vão morrer, também, as pessoas sensíveis, as pessoas que conseguem escutar o silêncio e conversar com o vento, sentir o barulho da folha que cai, ver na noite mais do que a beleza da lua e das estrelas e, no dia, mais o que a perfeição de suas formas. Ah, senhora, eu preciso que a minha rosa continue vivendo porque se ela viver, o silêncio e a paz existirão. Se ela morrer...ah, senhora, se ela morrer...
O homem estava falando sozinho, olhando para a rosa. A mulher, desconfiada, já havia encostado a porta de sua casa e fechado a janela. Ao perceber que ficara sozinho, pensou em bater na porta mais uma vez, mas o homem da rosa desistiu, afinal, muitas pessoas ainda não estão preparadas para receber uma rosa. Decidiu continuar caminhando. Talvez, em algum lugar houvesse alguém para dar água a sua rosa que parecesse triste...
                                            CAPÍTULO III

- Mãe, eu conheci um homem. Ele estava dormindo embaixo de uma árvore e tinha uma flor no peito – disse o menino ao chegar em casa.
- Você conheceu ou viu um homem? Eu lhe expliquei que a gente só conhece alguém quando é capaz de ler a Alma e você ainda não nem sabe o que é isso – retrucou a mãe, que naquele exato momento em que colocava água em um vaso com rosa.
- Sabe mãe, eu não entendo bem uma coisa: a senhora fala em ler a Alma e o homem também falou a mesma coisa. O que é isso, afinal? Eu sei ler um livro, o que falta para eu aprender a ler a Alma? – quis saber o garoto.
- Meu filho, senta aqui ao meu lado. Deixa eu lhe dizer uma coisa: a verdade é que você já sabe ler um livro. Mas, na vida os livros são escritos pelos homens de espírito e são a extensão da nossa Alma. E nós precisamos ler a Alma para descobrir a felicidade...
- E o que é a felicidade, mãe – quis saber o garoto.
- A felicidade é uma gaveta misteriosa e mágica. De dentro dela, saem coisas boas e coisas ruins também...
- Se é felicidade, então porque sai coisas ruins, mãe?
- Por que a verdadeira felicidade não existe em sua totalidade!  Nós precisamos abrir muitas portas, caminhar por muitas estradas, subir muitos morros, descer por caminhos escuros...A felicidade, meu filho, é tudo aquilo que pensamos que não a temos e só percebemos que temos quando deixamos de ser felizes.
- Mãe, a senhora é feliz? - perguntou o garoto.
 - A felicidade, meu filho, mora ao lado...
- A senhora que dizer na casa do vizinho?
- Não meu filho...a felicidade mora ao lado...Nós só percebemos que a felicidade existe quando a deixamos de tê-la. Aí ela nos faz falta. É por isso que mora ao lado. Aí, quando não a temos mais, corremos em sua busca e então percebemos que ela estava todo tempo ao nosso lado e não soubemos preservá-la.
- Mãe, eu não entendi direito. Dá para a senhora explicar tudo novamente?
A mãe não respondeu. Apenas passou a mão na cabeça do filho e mandou-o brincar, sem fazer qualquer pergunta sobre o homem que disse ter conhecido. No momento em que o garoto abria a porta da rua, a mãe chamou-o mais uma vez – Meu filho, escute uma coisa antes de sair: o homem da rosa procura conversa e fica na companhia daqueles de quem gosta. É por isso que o homem que conheceu você mantinha uma rosa com ele...
Depois da saída do menino, a mãe olhou pela janela e observou que, ao longe, que pássaros voavam aproveitando o vento norte. Por que os pássaros voam? Será que eles  buscam, em seus vôos, encontrar o caminho perfeito para voltarem aos seus ninhos? Ou será que eles, como os homens, não entendem como são doces os caminhos que levam o verdadeiro amor de volta aos braços da mulher amada? Não acredito. Os pássaros são mais inteligentes que os homens. Eles sabem ler a Alma do Mundo. Eles entendem a linguagem da natureza. Eles sabem que os olhos de suas amadas os acompanham em todos os vôos. Mesmo os noturnos, que são raros.
- Sabe, meu filho, o homem que está carregando a Rosa carrega com ele as dores do mundo! – Depois de dizer isso, a mãe olhou para a porta e percebeu que seu filho já havia saído.

                                         CAPÍTULO IV

Quanto tempo já fazia que aquele homem vagava com uma rosa na mão e qual  espaço ele havia percorrido, procurando alguém para dar-lhe água...O seu aspecto era de cansado. Os cabelos longos e a barba por fazer emprestavam-lhe um ar de sujeira. Ele caminhava e sorria, como que não se importando com as discussões filosóficas de espaço e tempo, já que em sua mente podemos prescindir do espaço, mas não do tempo. E o tempo estava correndo. Logo mais seria noite e será que a rosa teria como sobreviver por mais tempo, sem água?
- Por que o mundo é tão complexo e por que as pessoas não aceitam uma simples rosa? Em que mundo eu estou vivendo? – perguntava-se aquele homem com aspecto cansado. De repente ele parou e sentou-se em um banco de praça, pensativo.
Sorriu ao lembra-se dos famosos versos de Tennyson: “time is flowing in the middie oft dhe nigth” (O tempo corre no meio da noite). Ele conheceu esses versos quando estudava Filosofia. De que lhe serviram esses versos? Se o tempo corria no meio da noite e por que o tempo corre? Se a noite é bela, não seria mais lógico que o tempo parasse? Não, o tempo tem que correr para nascer outro dia e depois a noite voltar; acredito que os homens precisam conhecer a dureza de um dia para entender a beleza de uma rosa. Só com o sofrimento os homens serão capazes de ler a Alma da Rosa – pensava ele, olhando para um ponto distante da praça, onde os pássaros voavam suavemente, aproveitando a força do vento. O vento leve que lhe batia ao rosto o fez dormir no banco da praça. A rosa em sua mão foi colocada por sobre o peito, ao mesmo tempo em que ele deitava. E o homem sonhou.

                                          CAPÍTULO V

Havia um grande jardim. Cheio da rosas. Uma delas, maior que as outras, mais que bela que as outras, parecia ser a rainha de todas, dava ordens, gritava,  dominava a vida e a morte das rosas mais fracas – Esta pode morrer, não serve. Não tem o perfume que deveria ter – dizia ela.
E a pobre e frágil rosa era impiedosamente arrancada e largada ao tempo. O sol, que lhe tinha pena, custava a destruí-la. Mas a Rosa - Rainha esbravejava.
- Até o sol está contra mim?
De repente, a Rosa do peito do homem que dormia no banco da braça ganha força e caminha por entre as menores rosas: - Vocês devem reagir. Vocês devem lutar. Não é possível que aceitem viver assim – dizia a Rosa.
As Rosas pequenas e frágeis escutavam silenciosamente. E nada diziam. Do meio delas, uma voz fraca, quase inaudível, começou a falar:
- Ela está certa, ela está certa – todas se viraram para aquela rosa de voz fraca. Era a Rosa que tinha sido arranca minutos antes. Parecia que o sol lhe tinha poupado a vida. E ela continuou: - Temos que reagir. Nós somos todas iguais. A ninguém é dado o direito de determinar a nossa vida e nossa morte. Se eu nasci fraca, também tenho o direito de viver, tenho o direito de expelir o meu perfume, tenho o direito de crescer, conhecer o mundo, tenho o direito de ser alguém.
A Rosa do peito do homem que dormia na praça ouvia a tudo em silêncio. Quando a Rosa fraca parou de falar, as outras Rosas silenciosas começaram a murmurar entre s
- Minhas companheiras – começou a falar a Rosa do peito do homem que dormia na praça – eu estou percorrendo o mundo nas mãos de um homem. Estou sendo recusada pelas pessoas. Essas pessoas não estão recusando a mim, mas ao homem. As pessoas não sabem ver além dos olhos. Não sabem ler a Alma da Vida. Não entendem que não é a beleza do corpo que gera a beleza da Alma. Eu estou sofrendo pelo homem que agora dorme na praça, cansado. Vamos lutar companheiras. Precisamos vencer a quem nos oprime, para podermos vencer o coração dos homens. Vamos à luta!
- O que estão fazendo aqui? Por que não estão nos seus lugares, perfumando o meu jardim? O que ela faz aqui? Guardas prendam-na. Eu quero interrogá-la. Pode ser uma espiã.
Os guardas iniciaram o cumprimento das ordens da Rosa - Rainha , mas viram-se cercados pelas rosas menores. A Rosa - Rainha tentou fugir, mas foi dominada, cercada e presa pelas Rosas menores. A Rosa arrancada e posta ao sol gritou:
- Não machuquem ninguém. Não queremos perder a nossa nobreza. Não somos violentas e nossos espinhos servem-nos apenas para a defesa de nossas vidas.
As outras Rosas menores obedeceram a soltaram a Rosa – Rainha, que permaneceu no meio da roda:
- Castiguem-me. Eu as castigava todos os dias porque eu era a Rosa mais forte e mais bela e por isso me fiz rainha. Matem-me. Eu o mereço.
- Não a mataremos. Nós a perdoamos por todos os seus erros. Volte para o jardim e fique igual a nós. Aos guardas, damos também a liberdade. Voltem ao campo e digam a todas as outras rosas que não temos mais rainha. Todas nós seremos rainhas de nós mesmas. Temos que continuar perfumando o mundo. Temos que perfumar a Alma do Mundo. Vão, sigam em paz. E a você, rosa que nos despertou para a consciência ficará sempre nossa gratidão. Você nos fez ver que nem sempre o mais forte é o vencedor. Se todas nós tivermos consciência, venceremos a todos os que nos oprimem. Vá. Diga ao mundo que o nosso reino vai continuar fazendo as pessoas felizes.
- Viva a liberdade! – gritaram todas as rosas.
O homem que dormia no banco da praça acordou assustado. Levou a mão ao peito e encontrou sua Rosa no mesmo lugar. Olhou para o lado e viu um enterro que passava. Ficou curioso. Será que mataram a Rosa – Rainha? Não, não era. Era apenas um homem que havia morrido, As pessoas que acompanhavam o féretro traziam rosas nas mãos? Por que choravam se todas tinham rosas nas mãos?
Choravam pelo homem que morreu ou choravam pela dor das Rosas – Arrancadas? Será que a beleza da Rosa só era vista na hora da morte dos homens? E por que o homem que morreu não resistiu à morte, como fez a Rosa – Fraca arranca pela Rosa – Rainha? Por que o homem  que morreu não resistiu à indiferença dos outros homens e mostrou aos homens que morrem que a união deles em torno de um ideal lhes torna fortes!

                                       CAPÍTULO VI

- A que horas ele morreu?
Alguém fez essa pergunta a uma mulher que caminhava ao lado do cortejo. O homem que segurava a Rosa riu da pergunta. Mas riu baixinho. Não queria que as pessoas do cortejo percebessem e quanto é irracional perguntar a hora em que alguém morre. Não existe hora. Não existe tempo. Não existe ontem. Não existe hoje. O tempo é um só, dividido em partes. O presente em si, não existe porque o presente vira passado e se transformará em futuro.
Por que o homem da rosa questionava o tempo? Ele olhava para a Rosa e se perguntava por que ela permanecia  viva, embora já estivesse a tanto tempo arrancada da terra e sem água. A resposta para ele era simples: não havia tempo. Ela estava com ele e não contava o tempo. Ele lembrou-se de ter lido em algum lugar, talvez nos tempos do curso de Filosofia que nunca chegara a concluir, que existem duas teorias sobre o tempo.  Uma delas vê o tempo como um rio, um rio que corre desde o princípio e chega até nós. Janes Bradley, um metafísico inglês que conhecera na faculdade, em seus estudos filosóficos não concluídos,  dizia que o tempo corre do futuro para o presente. “Aquele momento no qual o futuro se torna passado é o momento que chamamos de presente”, dizia ele.
- O meu tempo é o futuro ou o passado? – A Rosa falou que o tempo começa na eternidade; portanto, é anterior ao próprio tempo. “É por isso que eu ainda estou viva. Eu venho  da eternidade. Eu venho de um lugar que os homens não conhecem porque o tempo não é a medida do movimento. O movimento acontece no tempo e não pode explicar o tempo”, disse ala.
O homem estava confuso. A Rosa havia falado. Ou seriam delírios seus? Estaria ele delirando?
Olhou para o fim da rua e observou que o cortejo estava chegando ao fim. Logo mais colocariam o homem na sepultura e o cobriram-no com terra. Lembrou-se da frase de um pastor: “Do pó vieste e para o pós voltarás”, mas duvidou. O homem não veio do povo e não será para o pó que ele voltará. O homem veio do tempo. Não de um tempo anterior. O  mundo começou a ser com o tempo. E tudo era sucessivo. O homem também era sucessivo.
Caminhando lentamente o homem da Rosa observou que as pessoas saíam do cemitério chorando. Por que as pessoas choram? Choram de alegria ou choram de tristeza? Por que a alegria faz chorar? Pó que a tristeza faz chorar?
- Só existem no mundo as nossas percepções, nossas emoções – respondeu ele, para si mesmo, enquanto observava o movimento lento das pessoas que deixavam o cemitério.
                                                              
                                            CAPÍTULO VII
                                  
Em frente à praça central havia uma igreja. Era dia de casamento. Por que era dia de casamento? Existe um dia específico para casar? Afinal, o que é o casamento? Existe amor no casamento? Ele aprendeu que tudo na vida, inclusive o casamento, é um contrato comercial, no qual os interesses são colocados.
Mesmo estando maltrapilho, decidiu entrar na igreja, mas não o deixaram. Ele não tinha convite. – Eu trago uma Rosa comigo! – retrucou. Não o deixaram entrar e ele ficou de longe observando o movimento.
O noivo chegou cedo. Estava nervoso. Dentro da igreja havia pessoas nervosas também. Muitas pessoas esperavam pelo lado de fora, como ele que também estava pelo lado de fora. Mas o homem da rosa  não era igual àquelas pessoas. Elas estavam bem vestidas; o homem da rosa, não. Mas ele tinha uma rosa na mão; as outras pessoas, não.   É, ele só tinha uma Rosa e isso já lhe bastava!
A noiva chegou. Estava bonita. Viu quando o noivo sorriu. A noiva entrou. Tocaram a valsa. O tempo parece que parou e o homem da rosa relembrou de uma data passada há muito tempo, quando rabiscara em uma folha de papel o seguinte início de um poema que pretendia desenvolvê-lo depois:
“São doces os caminhos que levam o homem aos braços da mulher amada!” Rabiscou só esse início e enfiou-o no bolso da calça para continuá-lo depois.
Lembrou-se de uma paixão de juventude. Não havia Rosa. Por isso, não havia amor. O amor pode vir antes da paixão? Não, não pode porque amor e paixão são vizinhos próximos, amigos ou inimigos próximos, mas não se visitam. Apenas se olham de longe, desconfiados
“Se você estivesse apaixonada por mim, encheria sua casa de Rosas e depositaria aos seus pés o clarão das estrelas. Se você estivesse apaixonada por mim, me despiria de todas as roupas e me lançaria em seus braços...” Tentou prosseguir o poema que deixara no bolso, mas desistira completamente. Seria inútil. Escreveria para quem? Para sua rosa? Ela já sabia que ele a amava! Não precisava mais declarar-se de novo.
Seus pensamentos foram despertados para as últimas palavras do padre: “Sejam felizes para sempre”. Impossível, o eterno não existe! Já disse que o tempo é sucessivo, mas não existe “o para sempre”, o “eterno”. A idéia de “eterno” é um desejo que temos de voltar ao princípio. A palavra “para sempre” do padre quer dizer eterno! E o “eterno” também não existe.
Sem que ninguém entendesse nada, o homem começou a ri e a balançar a Rosa. O tempo começa na eternidade, por isso o eterno não existe. Só a Rosa existia. Só a sua Rosa existia e era eterna. O casamento não é eterno. Ele acaba um dia, ou pela morte, ou pela separação. Por isso ele não pode ser eterno. Como os noivos se casaram e o padre disse “sejam felizes para sempre”? Se nada é eterno, como os dois seriam felizes para sempre? Não se vive para sempre. Vive-se até a morte, apenas. A morte é o “para sempre” da vida. O homem ria, e ria, e ria, e ninguém entendia nada.
 - Ele deve ser louco – disse um homem que passava ao seu lado, vindo da igreja.

                                             CAPÍTULO VIII

 O tempo não importa. Mas o sol já começava a se pôr no horizonte, anunciando a noite. Durante o dia, o sol vive para todos, sem distinção. Durante a noite, é que a lua e as estrelas brilham igualmente para todos. Não há diferença entre quem recebe o sol e quem contempla a beleza da lua. Se o sol nasce, para uns e é sinal de alegria; para outros; de sofrimento. Uns contemplam o sol com prazer, outros com dor.
O sol serve para produzir no campo. O sol também mata no campo.
Só a lua pode ser bela para todos.
Não há necessidade de Ler a Alma do Mundo para sentir e ver a luz da lua. Mas é necessário ler a Alma do Mundo para contemplar a beleza que existe na luz da lua.
Caminhando lentamente rua abaixo, antes de o sol se pôr e a lua chegar, o homem da rosa percebeu o exato momento em que um prisioneiro algemado saía do Fórum da Cidade, escoltado  por vários policiais. Outras olhavam. O prisioneiro parecia jovem. Seu aspecto era de limpeza e nada nele denunciava ser uma pessoa perigosa. Qual o seu crime? Qual a sua sentença? Uma mulher sofrida vinha próximo ao prisioneiro. Parecia que chorava. Seus braços estavam estendidos  para frente mas o prisioneiro não olhava para trás. Embora o tentasse, o gesto daquela mulher sofrida para tocar  no prisioneiro era impedido pelos policiais. Ela parou. Levou as mãos ao rosto e chorou forte. Foi colocado  no carro da polícia. Era apenas mais um prisioneiro nas estatísticas.
O homem da rosa aproximou-se da mulher que chorava e observou o seu rosto sofrido. Ela não parava de chorar.
- A senhora aceita esta Rosa – perguntou à mulher que chorava. Ela olhou-o sem dar resposta alguma. Ele insistiu na pergunta e a mulher respondeu:
- O meu filho acaba de ser condenado e o senhor vem me oferecer uma rosa?
Em suas palavras havia sofrimento e dor.
- A rosa vai lhe fazer bem. Ela vai lhe acalmar. Olhe só para esta rosa. Ela transmite paz. Se o seu filho foi condenado, isso não significa que o mundo está perdido. Ainda resta beleza a ser contemplada.
 - O senhor não entende! O meu filho foi condenado! O senhor não está vendo a minha dor? O senhor não está percebendo o meu desespero?
- Senhora não há condenação que seja capaz de matar a beleza da Rosa. Se o seu filho está condenado pela Justiça é porque ele não soube conhecer a Rosa. Ele não conheceu a Alma da Vida e nem foi capaz de ler a Alma do Mundo. Só quem conhece os caminhos da Rosa é que pode caminhar livre pela vida. Aos homens são dados o direito e os deveres.
Os direitos e os deveres são resultantes de convenções sociais. Também são mostrados ao homem,  o certo e o errado. Mas, senhora, o que é o certo e o errado? Não existem o certo e o errado...
- Como o senhor diz que não há o certo e nem o errado se o meu filho acaba de ser condenado porque seguiu por caminho errado?
- Aos olhos da Rosa, desta Rosa aqui, o certo e o errado são a mesma coisa. O que é certo para uns é errado para outros. O certo para o seu filho é o errado para a Justiça. E a Justiça representa o Estado e o Estado representa a Nação e a Nação somos  todos nós. E  nós temos que viver o que é certo só porque todos vivem o que é certo? Se todos nós vivêssemos como seu filho, fazendo o que ele fazia, o certo  seria o que todos fizessem  e isso passaria a ser uma convenção. Os que não fizessem a mesma  estariam  errados. Sabe, senhora, a Justiça é resultante da força, do poder, Quem tem o poder faz as Leis e aplica a Justiça. E a Justiça nem sempre é justa porque o que é justo para uns é injusto para outros...
- O senhor é um louco!  Vá dizer isso ao juiz. Ele vai mandar prendê-lo prender como o fez com meu filho. O senhor sabe por que meu filho foi preso? O senhor sabe? Pois eu vou lhe dizer: ele está preso por desacato de autoridade! E sabe qual foi o desacato? Ele se negou a permitir que um homem fosse preso sem mandado da Justiça. Ele exigiu o cumprimento da Lei e a Lei ficou contra ele...
- Isso, senhora, é abuso de autoridade. Olhe, eu quero lhe dar esta Rosa porque ela ensina aos homens...ela é a Justiça. Pegue-a. Tome a Rosa!
A mulher começou  a chorar e a correr. Não olhou para trás. Não recebeu a Rosa. Diversas pessoas que ouviam o diálogo do homem da rosa observaram-no sem entender nada. Foram deixando lentamente o local. O homem da rosa ficou sozinho, mais uma vez!
-As pessoas ainda não estão preparadas para viver o Mundo da Rosa. Nós precisamos viver o mundo do contraste para poder ler a Alma do Mundo – disse o homem.

                                      CAPÍTULO IX


O dia está acabando. A noite está chegando. “Tivemos a luz do sol. Teremos a escuridão da noite. É como a própria vida: precisamos conhecer a escuridão para podermos valorizar a luz. Se a vida for eternamente bela, não teremos condições de vencer os obstáculos, por menor que eles se apresentem. Se vivermos eternamente na escuridão, não seremos capazes de identificar a luz quando a vermos.
À noite, hoje, está começando de uma forma trágica. Ao final da rua, pessoas morreram de uma forma trágica. O homem da rosa, que meditava calmamente sobre a necessidade de conhecermos  a luz e a sombra para que possamos identificar os dois opostos da vida, foi atraído pelo grito das pessoas que, desesperadamente, tentavam apagar um incêndio, na residência.
Não havia mais o que fazer. As  quatro pessoas, incluindo uma criança, estavam mortas.
- Meu Deus, como isso aconteceu? Eram pessoas tão boas! – gritou alguém no meio da multidão que se formava.
O homem da rosa era o único que aparentava calma, talvez porque não conhecesse ninguém na casa e também porque ninguém o conhecia naquele lugar. Sem lugar, a Rosa que carregava em sua mão esquerda, caminhou alguns passos e ouviu os comentários das pessoas, enquanto os homens da Defesa Civil iniciavam o trabalho de rescaldo para, depois, retirar os corpos carbonizados.
- Eram  bons, não mereciam morrer assim!
O homem da rosa, pensando alto, comentou que não existe uma forma exata de morrer. O destino é o responsável pela vida e pela morte. Se a pessoa morre de forma violenta é porque o destino assim estava determinado. Não podemos mudar esse destino.
- Como não podemos? Se alguém fosse avisado do fogo, eles não estariam mortos! – gritou alguém, ao ouvir seus comentários.
Calmamente, o homem da rosa respondeu:
- Não avisaram porque era o destino deles e esse mesmo destino não quis que assim ocorresse..
- E quem é esse destino? É Deus?
- E quem é Deus? – perguntou o homem da rosa.
- Você não acredita em Deus?
- Eu apenas estou perguntando quem é Deus.
- Deus é Deus! – irritou-se o interlocutor.
- Meu senhor, eu acredito no Destino. O Destino  é  a Alma do Mundo. É ela que nos determina o caminho da vida e da morte. Nada foge ao Destino.
- Mas nós podemos evitar...
- Meu senhor, como seremos capazes de conhecer o Amor se não soubermos o que é a Dor? Como conheceremos a sombra se não sabemos o que é o sol?
- Não, meu senhor, nós precisamos sofrer para conhecermos a felicidade. Não existe felicidade sem sofrimento e nem amor sem dor. O mundo é um contraste. Por isso eu lhe digo meu senhor: eu acredito em Deus e para que possamos chegar a Ele, temos que cumpri-lo integralmente.
- O senhor fala do Destino, mas não fala em Deus!
- Por que o senhor insiste em falar em Deus e não aceita o Destino? O Destino pode ser Deus. Desse destino nós não nos afastamos. Esse Destino é como essa Rosa: é bela, mas as pessoas não a conhecem. Por isso têm medo dela!
Em maio a gritaria, o homem da rosa viu o exato instante em que os voluntários da Defesa Civil retiraram do quarto a criança carbonizada.
A luz já começava a aparecer no céu. O sol naquele dia havia cumprido sua missão e já se ia, permitindo que a noite chegasse com toda a sua beleza e seus mistérios.
É na noite que se tramam os planos mais diabólicos, que se executam os piores crimes, que se completam os grandes amores.
É na noite de lua que os boêmios se sentem felizes e os poetas se inspiram para versejar. É também na noite que a virgem se perde.
A noite é um belo mistério!
O homem da rosa caminhou lento, procurando um lugar para descansar. As pessoas caminhavam apressadas e não observavam que o tempo não para. “Para que a pressa, então? Se o tempo é eterno e não para, andar lento também levará  a algum lugar”. – pensou o homem da rosa, no exato momento em que ocupava um banco da praça.
- Minha rosa, o que seria de mim se não fosse você para aliviar a minha solidão...Ah, minha rosa! E deit
O sono chegou e o homem da rosa dormiu no banco da praça, coberto pelo lençol da lua, que cobria-lhe o corpo e a alma!


                                            CAPÍTULO X

Era noite e a noite era escura.
Não fosse essa certeza, dir-se-ia que por certo que ser noite era ser dia, afinal qual é a diferença entre a noite e o dia se o tempo e a vida não param quando se dorme?!
O homem da rosa dormia. O homem do jornal trabalhava. O homem de branco atendia paciente. O homem do carro apanhava passageiro. O homem que rouba entrava em uma casa. O homem da lei estava com sono e não trabalhava. O homem que governa dava ordens.
E a noite via tudo e não dizia nada porque parecia dia. Essas coisas também aconteciam durante os dias de sol e os dias de chuva.
A rosa do homem da rosa não dormia. Rosa não pode dormir porque os homens precisam sempre de Amor.
 - Posso entrar...? Não, não importa se o seu marido está, falo com ele também. Desculpe-me, mas não tenho assuntos. Não sou vendedor. Juro. Sou apenas esta flor, esta Rosa!
- Estou mentindo? Não, não estou. Eu sou uma Rosa e estou entrando em sua residência com sua permissão. Posso sentar? Obrigado. Senhora, eu gostaria que a senhora colocasse água em minhas pétalas. Não quero morrer porque ama rosa morta será como um coração morto: não terá qualquer valor...
- Muito prazer...! Estou conversando com sua esposa. Não acredita? Por que o senhor não acredita que uma Rosa posa conversar?
Já ouviu falar de Destino? Só em Deus? Não; perguntei só por perguntar.
Os homens não conhecem o Destino porque têm medo do desconhecido. Desculpe-me. É como se eu estivesse perguntando sobre Economia, Filosofia, Política, Guerras, coisas assim...
Vocês já observaram que quando essas coisas acontecem as pessoas esquecem a rosa?
- Senhora, eu lhe pedi água e a senhora não me deu. Eu posso morrer se a senhora não me der água. Preciso de água para poder andar pelo mundo, ensinando aos homens a conhecerem a Alma da Vida. Infelizmente, não pude ser útil para vocês, mas  não importa. Sei que, ao dormirem, sonharão com uma rosa e não com uma guerra. Boa noite, senhores.
O homem da rosa acordou assustado. Olhou para a rosa e a viu quieta, encobria-o com seu manto de amor...
O homem, enquanto dorme não se dá conta de que está dormindo, já que tudo que o circunda permanece igual.

                                         CAPÍTULO XI

O sol estava alto. Um homem gritava na praça que Jesus o havia encarregado da missão de renovar a Igreja e que lhe seria permitido visitar o mundo dos espíritos, o mundo dos imensuráveis céus e infernos.
O homem da rosa acordou,  e passou a observar o pregador. Muitas pessoas começaram a ouvi-lo, outras lhes depositavam dinheiro aos pés, outras se afastavam rapidamente. E, ao fundo havia uma igreja, em frente ao local onde o homem pregava.
O homem que pregava dizia que os homens mortos eram condenados por um tribunal e mereciam o céu ou o inferno. As pessoas que ouviam se assustaram porque tudo o que acontece no outro mundo se mostra mais real do que neste. O outro mundo não é nebuloso e as coisas que nele acontecem são mais vivas do que neste. As cores são mais vivas. As dores são mais fortes. Tudo é mais intenso, mais concreto. Esse nosso é sombra comparado ao outro mundo.
O homem da rosa viu Swedemborg no pregador. Era um homem admirável e o mais misterioso dos súditos de Carlos XII. Mas como um homem que nasceu em Estocolmo, em 1688 e morreu em Londres, em 1772, podia estar naquela praça, pregando idéias?
A Rosa estava muda.
O homem pensou que estava delirando. O sol estava muito forte e ele estava sem comer já há dois dias. Não sentia fome, não sentia sede e sabia que tudo aquilo era real, era verdadeiro. Quem era aquele homem? E quem teria sido o homem que  seguiu os passos de Swedemborg pelas ruas de Londres e entrou em sua casa e lhe disse que era Jesus e que a Igreja estava em decadência?
Tudo parece absurdo, incrível, mas o pregador estava ali, no meio da praça, falando para as pessoas.
“O que acontece quando o homem morre”? Ele não sabe que morreu porque suas ocupações habituais continuam iguais, ele recebe os amigos, conversa, mas aos poucos as pessoas percebem assustadas, que tudo é mais intenso. E o homem percebe que viveu sua vida na sombra e que agora conhece a luz. Ele entende o contraste da vida.
“Deus não criou os anjos. Deus não criou os demônios. Os anjos são os homens bons. Os demônios são os homens maus. Os anjos sabem ler a Alma do Mundo e conhecem o amor da Rosa. Os demônios destroem a Alma do Mundo e desconhecem o Amor da Rosa. E o outro mundo é feito de homens, homens anjos e homens demônios”.
“Os mortos procuram os anjos porque Deus não condena ninguém ao inferno. Todos os homens existem para serem salvos, mas Deus concedeu o livre-arbítrio, um privilégio que possuímos de condenar-nos ao inferno ou merecermos o céu. Se for um demoníaco, prefere os demônios. Se for um homem capaz de conhecer a Alma do Mundo, procura os anjos. O homem conversa com demônios e se sente atraído mais por uns do que por outros. Os que se condenam ao inferno se sentem atraídos pelos demônios e se sentem felizes porque podem conspirar uns contra os outros, num mundo de política do mais baixo nível.”
“O céu é formado em equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal. Da desordem nasceu à ordem e Deus é o equilíbrio  entre as forças. E Deus é o Sol. E Deus é a Lua. E Deus é a Rosa. E Deus não gosta de ser adulado”.
O homem da rosa compreendeu, então porque na terra, as pessoas boas se identificam com as pessoas boas e as pessoas más se identificam com as pessoas más. É o destino do Mundo dos Espíritos.
Da igreja, em frente ao local onde o homem pregava, saiu uma senhora que adulava Deus. O homem que pregava imediatamente apontou e gritou:
- Ela renunciou a todos os gozos sensuais porque queria ganhar o céu. Com isso, ela se empobrecia na terra. E quando ela morrer chegará ao céu, e lá chegando, não saberá o que fazer. Ela vai escutar as conversas dos anjos, mas nada entenderá. Tentará aprender uma arte, ouvir tudo, mas nada consegue por haver se empobrecido na terra, adulando a Deus. Ela será uma mulher justa, mas mortalmente pobre. Deus mostrar-lhes-á o deserto onde ela rezava  na terra, mas não a desligará do céu porque ela precisará entender que se tornou indigna do céu pelas suas penitências, por haver se empobrecido na terra, recusando os gozos e os prazeres da vida. Deus dizia “dos pobres de espírito é o reino dos céus...”, mas a mulher não se salvou intelectualmente. E a mulher vai viver sozinha no céu.
O sol estava muito quente. E o Sol é Deus. O homem que pregava agradeceu a todos, fechou seus livros e desceu a rua, sumindo na primeira esquina.

                                            CAPÍTULO XII

- Doutor, este mendigo está desidratado, precisa de soro. A febre está muito elevada, por isso está delirando
- Quem é este homem? – quis saber o médico.
- Não sei. Encontraram-no desmaiado na praça e o trouxeram para cá – respondeu a enfermeira.
Os médicos do posto de saúde aplicaram soro no homem da rosa. Ele estava desmaiado há horas e foi levado ao hospital por um homem estranho que passou pela praça logo ao amanhecer.
- Esse homem não pode morrer porque ele se abstraiu de tudo e, se for para o céu, não conseguirá entender a conversa dos anjos. Salvem-no...
Depois de deixar o homem da rosa no posto de saúde, o que falou com os médicos desapareceu rapidamente e todos ficaram sem entender suas últimas palavras.

                                            CAPÍTULO XIII

- Precisamos saber quem é esse homem. E este outro que acabou de desaparecer, quem será?
Os médicos não obtiveram qualquer resposta para a segunda pergunta. Mas, para saber quem era o paciente, bastava abrir a bolsa que ele carregava, dentro da qual estava uma Rosa. É certo que não havia documentos dentro da bolsa. Mas havia escritos, que os médicos e as enfermeiras começaram a ler, na esperança de descobrir quem era o paciente.

                                ESCRITO PRIMEIRO

“Caro amigo poeta Calheiros: a minha rosa está chorando porque a juventude saiu de mim com rapidez e eu, na janela do mundo, olhando para um futuro, vi passar e não a chamei e nem a questionei. Eu a vi passar em passos rápidos e eu parado, olhando para um futuro que desejava conhecer com pressa, nada fiz para impedi-la. Deveria tê-lo feito?”
-Talvez, respondeu a minha rosa, sem muita certeza.
- O que ele quer dizer com isso? – perguntou um médico, sem obter resposta. A leitura prosseguiu:
“Hoje, minha amiga Rosa, olhando pela janela do mundo em busca de uma explicação para o fim do horizonte, busco inutilmente seguir com os olhos os caminhos percorridos pela minha juventude. É inútil a tentativa. Não se encontra o que se perde quando não se luta pelo que se deseja e eu perdi minha juventude enquanto olhava pela janela.
Minha companheira Rosa dos infortúnios e de minhas dores! Se eu tiver a felicidade de encontrar minha juventude novamente pelo caminho, procurarei conhecê-la bem e, talvez, conhecendo-a como desejo, encontrarei respostas para minhas divagações. Tentarei segui-la ou caminhar ao seu lado pelo infinito, em silêncio, só para não perceberem meu desespero por tê-la perdido. Se a encontrar, talvez velha, mais do que eu, talvez cansada, mais do que meu corpo, a convidarei para uma caminhada e com conversa, mesmo que breve, contarei a ela meus dissabores e a falta que ela me faz por tê-la deixado partir enquanto olhava pela janela,  o mundo em busca de um mundo que não existia.
Ah, meu caro Calheiros e minha querida Rosa, quantas saudades sinto da minha juventude perdida. Eu não a conheci por inteiro e nem tomei conhecimento do seu rosto. Não sei se é bonita, feia, se tem cabelos longos, custos,, se chegou a conhecer-me ou se eu não a deixei conhecer-me. Quando eu a vi, pela janela do mundo, já se ia longe e meu grito chamando-a teria sido em vão e ela não me ouviria mais.
Companheira Rosa, agora somos só nós dois, eu e você. Eu, com minhas angústias. Você, com seu êxtase de amor. Mas se encontrar a minha juventude, tentarei compreende-la. Talvez  nos amaríamos desconfiados. Por certo, o faríamos com o fervor dos homens, com o capricho dos sábios, com a paciência dos inteligentes, com a sabedoria dos velhos. Seria um amor perfeito, como perfeito é o amor da rosa pelos homens.
Hoje, caminho a passos largos rumo a minhs morte. Minha sorte será se minha morte for suave, rápida, como deve ser a morte de todos que amam a rosa. Mas, se algum pecado tiver cometido por não ter parado a minha juventude no momento de sua partida, que me venha a morte dos mortais. Minha rosa, o que estou fazendo hoje sem a juventude? Que a morte me venha sem necessidade de aviso, e que eu me vá sem que perceba. Igual como foi a minha juventude. Adeus minha rosa!.”

                         ESCRITO SEGUNDO:
Minha companheira rosa:
É sábio todo aquele que, sabedor, busca conhecimento como forma inesgotável de luz e, no conhecimento, adquire a virtuosidade, a passividade, a humildade e o gigantismo necessários à vida. Não devemos esquecer jamais, minha querida, muda e amada rosa: é temerário o saber por que quem o tem se mantém no poder. F. Bacon já disse que o saber é a primeira grande fonte do poder.
Compreenda minha rosa, o saber, como conjunto de conhecimentos humanos, é inesgotável e, sobre ele, devemos debruçar-nos para admirar o desconhecido. Mas precisamos ser humildes em seus conhecimentos. A humildade é o gigantismo do saber por que humildade não é passividade, morticínio do espírito, lerdismo. Ao contrário: é agitação, é vida, é velocidade.
 Minha rosa compreenda que nós, seres humanos, só vivemos nove meses. O resto se morre a cada dia e o que nos sustenta é a certeza de que somos capazes de descobrir o desconhecido, utilizando-nos tão-somente de nossa mente criadora e criativa. Sermos insuperáveis em nossos pensamentos  é a maior virtude da vida, minha doce e silenciosa companheira rosa!
Será que você é capaz de entender isso, minha companheira rosa, ou também já está contaminada pelo vírus destruidor dos homens?

                               ESCRITO TERCEIRO:
“Querida Rosa:
 Eu sou o que ama sem se saber amado e, se distante está o motivo do amor, sou o que sofre calado. Sou o que não conta tempo, hora ou lugar, não pensa no ontem e nem projeta o amanhã, decidido a viver em silêncio com a certeza de amar. Eu sou o que sofre pela distância e sente o silêncio como ausência, porque apesar da minha insistência, enfrento sempre a resistência de sempre para depois deixar. Ah, amor louco, amor insano, amor que sofre calado, mas que permanece inalterado. É um amor que ultrapassa sonhos, vence distâncias, vive verdadeiramente e, embora bisonho, vai sobrevivendo, sobrevivendo. Já não tenho forças para resistir a este amor. Entrego-me por inteiro, mas sei que um dia ele vai partir, matando definitivamente um sentimento puro e verdadeiro.
Hoje, minha querida rosa, é só o que importa. O amanhã será uma lembrança morta. Mas enquanto  o hoje existir e perdurar, resistirei a tudo para até mesmo no infinito poder de amar.
Ah, amor louco, amor insano, amor pouco! Mas eu quero te dar, deixar meu corpo no teu corpo e, nunca, nunca mesmo, te largar. Ah, amor louco, amor insano... Mas é assim que sei amar. Com ciúmes, com dores, com silêncio... Mas é assim que eu hei  de sempre amar. Minha querida rosa!”

                           CAPÍTULO XIV

- Já conseguiram descobrir o nome do homem que ocupava o leito 23?      
Era o médico quem perguntava às enfermeiras.
- Não, doutor, mas encontramos alguns escritos entre suas coisas, mas infelizmente, não existem documentos.
- Bem, vou conversar com ele...
O médico caminhou pelo longo corredor, parou na enfermariam verificou as anotações do plantão, conferiu a dosagem e os horários das medicações e se encaminhou para o leito
O homem da rosa não se encontrava mais lá.
O médico voltou à enfermaria e perguntou pelo paciente, mas ninguém sabia informar onde ele estava. A alta ainda não havia sido prescrita e ninguém o tinha visto pelos corredores. De volta ao leito, o médico tomou um susto ao vê-lo deitado, dormindo.
 - O senhor ausentou-se da cama?
 - Sim...
 - Onde o senhor estava?
 - Fui visitar a minha rosa...
 - Sua rosa? E onde ela se encontra agora...?
- Dentro do meu coração...!
- Mas o senhor não estava na cama...
- Estava...o senhor é que não me viu porque não consegue ver além daquilo que os seus olhos mostram...O senhor só vê as aparências e as aparências enganam aos olhos...
- O senhor é o quê? Por acaso é filosofo?
- Eu serei o que o senhor desejar que eu seja. Se ver além das aparências e visitar o que temos dentro do coração, mesmo que para isso pareçamos invisíveis aos olhos que apenas vêem as aparências é ser filosofo,  então eu o sou. Caso minha premissa não seja verdadeira, posso ser outra coisa também...
- Como é o seu nome...?
- Eu terei o nome que o senhor desejar que a mim pertença, afinal, o nome só serve para marcar uma identidade, mas não molda e nem define uma personalidade. Eu já tive um nome mas cansei de repeti-lo, por isso hoje eu sou apenas “o homem da rosa”. Talvez porque eu tenha tido alguma namorada com esse nome...
 - O senhor me parece um louco! -  gritou o médico, irritado com a resposta.
- Também posso ser. Afinal, qual a diferença entre a lucidez e a loucura? Será que a lucidez é o que o senhor acha é lúcido ou será que a lucidez é apenas o que lhe ensinou a medicina? Eu sei que o senhor estudou essa diferença, mas saiba que essa diferença foi estabelecida pelos homens. E será que eles eram lúcidos ou loucos? A loucura também não pode ser lúcida?
- O senhor toma algum tipo de remédio?
- Não. O meu remédio é a Alma do Mundo. Se o senhor for capaz de encontrar a minha rosa, a rosa que está dentro do coração, eu saberei que o senhor sabe ler a Alma do Mundo.
- Sua rosa...?
O médico olhou para os lados e encontrou uma rosa colocada na cabeceira da cama do homem. Ficou intrigado. Ele tinha certeza que não havia rosa naquele local minutos antes de o homem referir-se a ela. Como apareceu aquela rosa?
 Esticou o braço, apanhou a rosa e mostrou ao homem.
- Está certo, doutor. É por isso que encontrou a minha rosa.
- O senhor também sonha doutor. É por isso que encontrou a minha rosa,
- Ela é o meu sonho e o seu também. Por favor, doutor, eu preciso sair desse hospital. Eu preciso plantar minha rosa no coração das pessoas. Eu preciso sonhar...eu preciso viver...
O médico nada respondeu e foi até a enfermaria. Minutos depois voltou e disse ao homem da rosa:
- O senhor está de alta. Pode ir cultivar a sua rosa. ..Ela precisa viver.

                                      CAPÍTULO XV

O sol estava forte. Não havia pássaros voando, nem vento soprando.
O homem da rosa caminhava lentamente, observando a tudo e a todos. Havia algo intrigante no seu olhar. Era um olhar fixo no infinito. Parecia querer ver além do que o simples olhar pode mostrar. Ele costumava dizer que enxerga-se com os olhos mas somente com o coração pode-se ver a vida. Era assim que ele olhava: com coração. E fixou o olhar ao longe, no banco da praça, onde uma jovem derramava lágrimas doídas, lágrimas que saíam de dentro do coração e molhavam aquele belo rosto, caindo ao chão.
Em passos lentos, temerosos, o homem da rosa atravessou toda a extensão da praça e ficou parado, observando o choro triste daquela moça bela.
- Não se assuste – disse o homem, ao sentar-se ao seu lado. Eu não vim fazer-lhe mal...Por que você chora assim tão copiosamente?
A moça nada respondeu e olhou-o nos olhos. Queria falar alguma coisa, mas o máximo que conseguia era aumentar o choro.
- Olhe, moça, eu queria lhe dar esta rosa...Ela afaga as mágoas do coração e cura as cicatrizes geradas pela vida...Olhe, olhe a rosa na minha mão. Segure-a, ela é sua.
Novamente a mudez da moça foi a resposta. Ela tentou deixar o banco da praça, mas o homem da rosa pediu que ela ficasse.
- Moça, as suas dores são as dores dessa rosa. Ela busca desesperadamente existir mas as pessoas não a aceitam porque não compreendem a sua beleza e nem conseguem ler a sua alma. Sabe, moça, eu vivo só no mundo e só disponho desta rosa, por isso quero dá-la para você. Ela precisa só de água, caminho e amor. Eu sei que ao dá-la para você, vou sofrer; afinal, eu amo esta rosa. Aceite-a. Ela precisa viver...
A moça estendeu a mão e segurou a rosa. Imediatamente levou-a a altura do coração e parou de chorar. Até tentou sorrir, mas não o conseguiu. Sem dizer qualquer palavra, deixou que as lágrimas do seu rosto caíssem sobre as pétalas. Sem dizer qualquer palavra, a moça cavou um buraco no chão e a plantou. Para regá-la, a moça deixou que mais lágrimas caíssem desta vez ao chão. A rosa, então, abriu-se totalmente. Os dois olharam para rosa. Viva, bela e cheia de luz!
- Minha rosa nasceu! Minha rosa nasceu! Ela foi plantada com o coração e regada com o amor, a alma da vida. Minha rosa nasceu! Minha rosa nasceu! – gritava o homem da rosa, pulando de alegria, enquanto várias pessoas o observavam, sem nada entender. Ele continuou gritando e, ao parar, olhou para o banco da praça e não encontrou mais a moça que chorava. Ela havia desaparecido misteriosamente. Ele a procurou por entre as pessoas olhou em volta e não a encontrou.  Ao olhar novamente para o lugar onde a moça estivera sentada, encontrou um botão de rosa, pequenino, mas vivo e, ao olhar para o chão, chorou ao ver que a rosa que fora plantada estava bela e forte.
O homem da rosa sentou-se no banco da praça em cima do botão.