quinta-feira, 24 de julho de 2014

OS NOVOS 50 ANOS DA ZFM FOI BOM E RUIM, TAMBÉM!


Em termos econômicos foi ótima a prorrogação do modelo ZFM por mais 50 anos, mas, em termos sociais, foi um desastre porque nada do que é produzido em termos de economia no polo industrial de Manaus, chega aos moradores do entorno das fábricas, que continuam vivendo em casebres horríveis, muitos sem água, luz ou saneamento básico, além da falta de escolas de qualidade, hospitais decentes e segurança eficiente. Com os lucros das indústrias, poderia ser criado um Fundo de Investimento Social, por exemplo, para suprir essas carências do povo pobre, usado como mão de obra dócil e barata, para não dizer semiescravidão porque qualquer movimento para ir ao banheiro, por exemplo, tem que ser fiscalizado e anotando.


Diante disso, a prorrogação por mais 50 anos do modelo de desenvolvimento econômico Zona Franca de Manaus tem que ser analisado com cautela, porque existem pontos positivos na economia, mais negativos em termos sociais. Hoje, a população de Manaus que não vê ou sente os milionários e dolarizados resultados econômicos do trabalho realizado por mão de obra mal paga e sendo subjugada de todas as formas e muito menos vê ou sente que estejam buscando novas alternativas, investindo em desenvolvimento/inovações voltadas aos recursos naturais, como petróleo, mineração (funciona fábrica de calcário em Manacapuru e outras serão instaladas em Nova Olinda do Norte e Itacoatiara) capazes de gerar outra matriz econômica de desenvolvimento ao Estado e deixar de depender do Governo Federal, pleiteando daqui a 50 anos uma nova prorrogação. Toda euforia que vejo agora é apenas um filme em preto e branco,  repetindo o que ocorreu no ano de 1995, com o fim dos primeiros 28 anos do modelo Zona Franca, mas, agora, também usado politicamente pelos candidatos a todos os cargos, como se fossem os salvadores do modelo que poderá fracassar depois de mais 50 anos, se nada for feito para mudar a realidade de hoje. Estamos vivendo hoje um Polo Industrial com ruas esburacadas, população pobre vivendo no entorno das fábricas e poucas indústrias sendo incubadas para gerar produtos biotecnológicos da floresta, além da total passividade dos administradores públicos em buscar alternativas de novos modelos de desenvolvimento para o Amazonas fora do que foi prorrogado, deixando embriagados os políticos em campanha, sem olhar para outros horizontes possíveis, como se a todos tivesse chegado a cegueira e atingindo seus olhos.


De um passado pujante no comércio, na indústria e incipiente em serviços, a Zona Franca de M anuas, criada pelo decreto 288/67, de autoria do deputado Francisco Pereira, foi implantada 10 anos depois, após a vitoriosa guerrilha liderada por Fidel Castro e seus comandados e quando assumiu o poder em Cuba com a derrubada do presidente democrático Fulgêncio Batista. Em 1995 era jornalista em A NOTÍCIA,  e presenciei quando terminou o período dos 28 anos inciais do Modelo ZFM. Devido a muita e forte pressão de políticos do Amazonas e de empresários paulistas que tinham fábricas instaladas em Manaus, liderados pelo presidente da Federação das Indústrias do Amazonas, empresário João de Mendonça Furtado, o modelo foi prorrogado e vem sendo assim até os dias de hoje. Naquele ano, ao Governo Federal foi alardeando que sem a ZFM, Manaus voltaria a ser um “porto de lenha”, alusão à  música com o mesmo título, composta pelos jornalistas Aldizio Filgueiras e Wandler Cunha, gravada pelo cantor Torrinho,  retratando Manaus como se fosse mesmo um “porto de lenha”,  que jamais seria uma Liverpol, em Londres.. Naquela época e ainda  o e hoje, é considerada uma das letras de músicas mais reais, porque conseguiu produzir Manaus pós-exploração do látex, retratando uma parte da história, quando Manaus queria ser londrina.

Durante os primeiros 28 anos de existência, o Governador José Lindoso criou uma lei que tentou interiorizar o modelo, fazendo com que indústrias instaladas em Manaus, passassem e investir e desenvolver em poucos municípios. Mas o tripé comércio/indústria/agropecuária nunca chegou a ser concretizado totalmente porque o Distrito Agropecuário, na BR-319, não é propício para o desenvolvimento da pecuária e foi esquecido com o tempo. O Governo Amazonino Mendes criou um modelo que chamou de “Terceiro Ciclo” sem nunca ter ocorrido nem o primeiro porque a exploração do látex era nativo e foi também foi abandonado, o Distrito Industrial, que seria o segundo, foi imposto pelo Governo Militar para empregar a mão de obra dócil, abundante e barata que existia no Amazonas, com medo da expansão do Regime Comunista na Amazônia, a partir de Cuba. Mas nunca se buscou um modelo real de desenvolvimento para o Amazonas que não seja o criado e imposto em 1967 pelos Militares.

É verdade que ajudou a desenvolver Manaus, mas a empobreceu também em termos sociais porque a riqueza de poucos não é a mesma riqueza da maioria de favelados que construíram casebres no entorno das fábricas, como ocorreu no início da Revolução Industrial na Inglaterra. Manaus é uma cidade inchada de favelas em torno das fábricas e nenhuma coisa foi pensada para resgatar da miséria essas famílias, como a criação de um Fundo de Investimento Social, com parte da riqueza gerada pelas indústrias, voltando aos seus verdadeiros produtores de toda essa riqueza, em forma de melhoria de ruas, saneamento básico, escolas e saúde de qualidade, tudo bancado por esse fundo. Como nada se pensou ou se projetou em busca de alternativas, o Governo Federal terá que prorrogar de novo a Zona Franca daqui a 50 anos porque, como aconteceu durante a exploração da borracha, Eduardo Ribeiro construiu pontes, aterrou igarapés, construiu o Teatro Amazonas e realizou calçamento com paralelepípedos nas principais ruas de Manaus, porque os exploradores e colonizadores ingleses exigiam saneamento básico, luz elétrica, navios da Companhia de Visconde de Mauá, telégrafos para saber a cotação da borracha na bolsa de Londres, mas não pensou em toda essa “ilusão do fausto”, como diz o livro da professora da Ufam, Edinéia Mascarenhas Dias. 

Esse sonho dourado que nunca existiu. morreu junto com a produção do látex, como pode morrer aos 50 anos a ZFM se não for buscado e desenvolvido uma matriz econômica, talvez um polo de biotecnologia urgentemente. Caso contrário, voltaremos a estaca zero e andaremos de gabinete em gabinete, de mistério em ministério em Brasília, mendigando uma nova prorrogação de um modelo que desenvolveu a cidade de Manaus, mas empobreceu os municípios porque nunca se buscou a satelitização do modelo.

Ah, que saudades sinto do superintendente Rui Alberto da Costa Lins que determinou  que todos os produtos produzidos na ZFM, fossem lançados no Cecomiz, hoje mais um Shopping no Amazonas. Depois de lançados, os produtos produzidos com a marca ZFM poderiam ser negociados para o resto do Brasil ou com os quem desejasse adquiri-los. 



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