quinta-feira, 31 de julho de 2014

DE VOLTA AO SEST/SENAT DEPOIS DE 7 ANOS AUSENTE!


Seriam os fogos de artifício que me acordaram em comemoração pelo êxito que os ladrões tiveram no roubo da cadelinha “Princesa”, uma poodle zero branca que pulava parecendo ter mola nas pernas quando eu pegava a sua guia ao calçava a sandália havaiana aos finais de semana; ou seriam pela tristeza deixada na “Madona”, minha cachorra “pastor alemão”, que ficava quietinha no quintal, mesmo na frente de convidados e se irritava com as mordidas nas pernas, orelhas ou rabo que a “Princesa” lhe dava ou seriam só fogos de artifício dos políticos em campanha prometendo o que não cumprirão depois de eleitos? Não sei. Mas lembrei de quando políticos chegavam de motor na comunidade do Varre-Vento e eram recebidos com o mesmo barulho de fogos de artifício à margem  do barranco do Rio Solimões!


“Princesa”, a poodle e “Madona”, a pastora, eram minha paixão na casa em que morei no Conjunto Campos Elíseos, em companhia de minha esposa Yara Queiroz. Nosso filho Carlos Costa Filho que, sem qualquer medo, abria a boca da “Madona”, colocava sua cabeça dentro, causando pavor à babá Miracele Ferreira, a “Mira”, que corria para salvá-lo de sua “fúria assassina”. Talvez fosse isso ou nada disso, só que meu filho ainda não possuía dentes, não sabia morder o rabo, orelha e prender-se em seu rabo. Mas era gostoso e divertido ver o pavor da Mira correndo para “salvar” meu filho. A “Madona”, só latia forte, mas era mansa e não mordia ninguém. Mas, com um pulo, pegava passarinhos que voavam baixo pelo quintal em meio a floresta de árvores frutíferas que plantei. Ela, pulava, os matava talvez de susto, mas não  comia nenhum e eu os recolhia pela manhã. Mangas rosas caiam e quebravam minhas telhas brasilit.

Deixava diariamente esse maravilhoso e encantador cenário em minha Toyota Ranner/75 de cor vermelha, e rumava para cumprir expediente como Técnico no Conselho Regional Norte do SEST/SENAT; despachava e pensava logo em voltar, só para ser recebido com euforia pela “Madona”, que se agitava só  o ou ouvindo o motor do carro e seguia direto para a janela da cozinha para ver-me. Como ela sabia? Enquanto eu não aparecesse para cumprimentá-la, permanecia agitada, correndo da janela do nosso quarto à janela da cozinha, porque sentia meu cheiro! Só sossegava quando me via! Ou seriam os fogos de artifício que me acordaram do porre de felicidade e emoção que tomei com água e do gardenal de 100 mg, na minha volta ao SEST/SENAT, depois de 7 anos de ausência, para participar dos festejos de São Cristóvão, padroeiro dos Motoristas? Seriam os fogos em comemoração ao meu reencontro com antigos colaboradores? Talvez, mas não tenho certeza!

Dentro do táxi conduzido pelo motorista Reinaldo, da Tucuxi Rádio Táxi, fazendo o mesmo percurso que fizera por 12 anos na direção da Toyota e depois da Blazer Turbo Diesel 4 X 4 para cumprir expediente como diretor da instituição. Enquanto o táxi deslizava pela Avenida Grande Circular, hoje quase parada, trocava whatsapp com o Coordenador do Senat, Demétrios Silva, falando de meu nervosismo e emoção por ter sido convidado pelo Coordenador do Sest, Wilton Flexa e ele respondendo-me “venha tranquilo, estaremos aqui para recebê-lo! 

Lembrei do dia da inauguração da Unidade com a presença do presidente do Conselho Nacional, Clésio Soares de Andrade, do prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, do presidente do Conselho Regional Norte, Francisco Saldanha Bezerra e diversas outras autoridades do Departamento Executivo. Não existia rua para se chegar ao local da solenidade. O prefeito mandou abrir uma para os carros das autoridades convidadas. Também não havia telefone. A Unidade teve que  gastar mais de 10 mil reais na época para poder  se comunicar com o Departamento Executivo em Brasília e resto do Brasil. O Bairro Novo, loteado pelo empresário imobiliário Paulo Farias & Imóveis, tinha poucas casas. Os bairros Cidade de Deus e Braga Mendes não existiam e foram resultados de invasão de ex-funcionários da obra. Lembrava de tudo isso e dizia: “estou nervoso, ansioso e tenso” e o Demétrios me respondia “venha tranquilo, estamos aqui para recebê-lo”. Dizia: “acho que vou chorar de emoção por rever amigos”. Tranquilizou-me mais uma vez. Não chorei, mas fiquei tenso e emocionado por reencontrar antigos e novos colaboradores. Alguns da minha época e outros mais recentes.

Lembrei que quando namorava com minha esposa, mandei construir um xale com uma garagem, uma sala comprida e um quarto, que depois vendi. Não havia nada no Bairro Novo e presenciei o levantamento de muitas casas. Sentado à noite no quintal, cheguei a ver um satélite passando por cima da pequena casa, dando voltas. Será que estavam espionando ou fotografando meu amor pela Yara? Não sei dizer, mas que era lindo sentar em cadeiras no quintal e olhar para o céu e ver o satélite passando, ah, isso era sim! Lembrei de tantas coisas! Mas chega de delírios bobos, vamos ao que interessa: minha volta ao SEST/SENAT depois de sete anos afastado e aposentado!

Desci no portão pelo qual tantas vezes o carro Blazer Turbo Diesel 4 X 4 passara. Fui recebido com carinho por antigos e novos colaboradores que não me conheciam pessoalmente, mas só pelo que falavam sobre mim na instituição. Caminhei firme e sentei para assistir missa em comemoração do Dia de São Cristóvão, Padroeiro dos Motoristas. Por ordem médica, embora habilitado há mais de 30 anos e sem pontuação em minha CNH, decidi não renová-la, mesmo a tendo tirada com Tenente PM, Alfredo Assante Dias, já falecido, à frente do Detran-Am. O tenente PM Correia, fora meu examinador de rua junto com o então tenente PM, Henriques, que residia na Betânia, o mesmo bairro em que morava. Ver o tenente  Henriques passando na frente de minha casa em seu carro Opala cupê e saber que ele fora meu examinador de rua me enchia de orgulho. Chega de delírios e sentimentalismos bobos!

Caminhando com a diretora Grece Melo, agora toda coberta, onde  existiam pequenos postes de luz baixos e globos de vidros que autorizei a troca para plásticos. Mesmo não sendo de vidros, os menores dos projetos sociais  “Criança Urgente” e  “Serviço Civil Voluntário”, aceitei na Unidade, quebravam com frequência. A calçada era a mesma, só que as luzes todas passaram para o teto. No primeiro dia de execução do SCV, sofremos um assalto a mão armada. O então Coordenador de Finanças, Émerson Pires de Souza, em carta, acusou-me de ter aceito “delinquentes”, mas o assalto deve ter sido por infeliz coincidência. Como ninguém reagiu, levaram a renda da área médica que ainda não ficava em cofre, como hoje. Mesmo com a carta, não desisti dos adolescentes e enfrentei tudo pelo social. Procurei com olhos, mas não encontrei a pista de caminhada que autorizei ser feita para que os jovens da terceira idade caminhassem, depois dos exercícios na quadra de esportes, com o  professor de educação física era meu ídolo das pistas, Wellington Nóbrega, que muito bem representou o Amazonas no Atletismo, correndo o Sul americano pela Universidade Federal do Amazonas. No meio de uma floresta, ainda consegui ver escada de cimento, sem o corrimão que terminava em um cercado de horta, telado e bem cuidado, onde os meus “vovôs” plantavam e recolhiam a produção e a levavam para suas casas, ajudando-os como terapia ocupacional. Era uma terapia para mim também, vê-los felizes! Sempre descia até a quadra e conversava e me contavam das melhoras que sentiam com aulas dadas pelo meu ídolo. Eu me realizava com a felicidade deles e era feliz por fazê-los felizes também.

Encontrei o “seu” Miguel, contratado dentro do projeto da Terceira Idade como responsável para manter a pista de caminhada limpa, mas que sempre me dava  desculpas: “no verão não dá pra cortar o mato porque é muito quente e, no inverno, fica encharcado e tenho medo de alguma cobra me picar!”, embora usasse o equipamento completo de EPI. A cada desculpa, eu ria sozinho, sem que ele percebesse, e pensava muito em suas constantes desculpas e o lembrei disso. “Seu” Miguel riu e me abraçou. Fiquei sabendo pela diretora que hoje “seu” Miguel é funcionário contratado do SEST/SENAT, como auxiliar administrativo. Também fiquei sabendo que a dona Raimunda,  auxiliar de limpeza, fez o supletivo e agora também é agente administrativa. 

Como  vi bem cuidada a área de floresta, não era mais o “seu” Miguel que cuidava da limpeza, Grace Melo me disse: “Seu Carlos, muitas coisas mudaram  nos sete anos em que o senhor deixou a direção”. Licitações estão sendo realizadas e empresas   foram contratadas  para todos os serviços. Caminhando pelo SENAT, parei em frente a Biblioteca escritor Carlos Costa e ela disse-me novamente que já foi autorizada a construção em vidro transparente à entrada da Coordenação do SENAT, na do terreno em frente ao prédio da administração. “É aqui que será construída” e apontou o local! Quis ver e abraçar a Olendina Araújo Freire, honesta, competente, séria e sempre atendendo a todos com um sorriso no rosto, contratada a pedido de sua filha Vanessa Litaiff, minha colega na Faculdade Uninorte e hoje advogada no mercado, mas ela fora demitida em janeiro depois das férias. Mas passou 12 anos trabalhando na Instituição, embora eu tivesse dito a sua filha que a contrataria só por 90 dias dentro de algum projeto que  tivesse porque seria permitido. O Dr. Rogério, o último dentista de quem tive o orgulho de assinar a CTPS, também não o encontrei porque, segundo a diretora Grece Melo,  teria sofrido um acidente doméstico e tivera horário reduzido de trabalho, mas não entrou de licença médica. Fiquei triste por não poder abraçar o Dr. Rogério e por saber que a dona Olendina, não continuava mais trabalhando na instituição. Encontrei a dentista, Dra. Flávia, que me cumprimentou efusivamente e perguntou como estava minha saúde. “Vou levando como Deus quer que eu viva”, respondi. Ela me disse: “o senhor é um guerreiro!”. Agradeci e lhe estendi a mão em cumprimento.


Perguntei como estavam os serviços de oftalmologia e clínica geral e a diretora Grece Melo disse-me que foram extintas e substituídas por nutricionista e psicóloga. Perguntei de novo: inclusive a oftalmologia, tão importante para medir a acuidade visual dos motoristas? Respondeu-me  “também”. Conheci as duas novas funcionárias do SEST, a nutricionista Márcia Bezerra, a quem disse que tinha que manter meu peso de 73 quilos fechando a boca e comendo de tudo um pouco e a psicóloga Rose, com quem brinquei, perguntando se no mundo de hoje, ainda poderia existir alguma diferença entre quem é normal e quem é louco? Ela riu, mas não me respondeu nada! Acrescentei, “eu sou chamado de louco quando decido defender a  cidadania e o direito coletivo dos outros que não podem ou não sabem como exercê-los e fazer valer seus direitos”. Rose riu de novo!

Vendo os pés de cocos plantados na lateral do prédio, trazidos do sítio do pai da Grece Melo, no Município de Iranduba. Quando deixei a instituição em 2006 para ser operado, eram todos pequenos, mas estão todos produzindo, fui informado. No galho de pé de ingá, também plantado do sítio do pai da Grece, ela viu dois passarinhos juntinhos e me perguntou se eu os estava vendo. Tive dificuldades para vê-los, mas os vi. “Quando tirarmos ingá desse pé, vou mandar entregá-lo para o senhor”. Com todo cuidado, Grece foi me conduzindo e me dizendo onde havia um degrau, declive ou subida. Levou-me por trás do prédio da administração para ver como estavam as árvores,  muitas cheguei a plantar depois do almoço. Fiquei espantado ao encontrar uma floresta limpa e bem cuidada com pés de azeitoneiras pretas, mangueira e de jambo. Eram todos pequenos há 7 anos. Desci a escada, fui até o local onde funcionava o restaurante, mas estava fechado. “Estão fazendo licitação para contratar uma nova empresa”, disse-me a diretora. Vi grades cercando toda a área livre. O “Capichaba”, ligava seu som e cantava aos finais de semana. Grandes festas foram promovidas pelo SEST. Os frequentadores dançavam muito e o ex-coordenador. Paulo Bendaham sentia orgulho no que fazia. Até torneios de futebol entre empresas foram promovidos na época do Coordenador Ricardo Pina, no SEST. Acompanhada por ele, a equipe de futebol do Amazonas, representando a empresa Eucatur, foi Campeã de Futebol, em Brasília! O troféu ficou por algum tempo na sala do Coordenador do SEST. Hoje não sei mais se existe! Muitas coisas realizamos  na Unidade Manaus que deram certas,“proibidas” na época, repassadas para outras unidades.

O táxi chegou às 20 horas parar buscar-me e deixar-me em casa de novo. Não vi nenhuma dança folclórica que estava sendo anunciada, nenhuma apresentação musical, mas vi mais do que isso: vi que a instituição pela qual tenho muito carinho até hoje, está sendo bem conduzida pelas mãos de Grece Melo. Contudo, uma coisa me intrigou: como o SEST extinguiu o serviço de oftalmologia que era bem frequentado, se todos os motoristas são submetidos a esse exame obrigatório quando vão tirar ou renovar suas CNH. Não encontrei resposta!

Mas que tinha sido uma volta maravilhosa ao passado cheio de lembranças, ah, isso tinha, graças aos foguetes que espocavam no ar, talvez comemorando a exorcização de meus medos ou a emoção que sentia de retornar a um local onde deixei parte de minha vida!

4 comentários:

  1. Bela crônica...

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  2. A recordação tem por companheira a saudade.Este regresso ao passado é disso prova.Abraços portugueses.

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  3. Flávio Willer Candido4 de agosto de 2014 às 15:23

    É meu amigo recordar é viver, parabéns pelas ótimas lembranças.

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  4. Companheiro Carlos Costa, como cidadão da sociedade democrática brasileira, digo-lhe que a fase da democracia pós-didatura não foi um presente dos deuses, mas foi uma ação de coragem de entidades e movimentos que derramaram sangue em busca de uma transformação social com sentido real de viver bem e com dignidade. Assim, não basta apenas falar e pensar, e sim transformar o que foi dito e pensado.

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