quinta-feira, 24 de abril de 2014

SÍNTESE DA HISTORIA DA POLÍCIA FEMININA NO AMAZONAS


Era o comandante da PM no Amazonas, o coronel de Exército Wilson Ribeiro Raizer, religioso convicto, quando passei a registrar os constrangimentos que as mulheres sofriam por terem que ser revistadas por homens da PM no Juizado de Menores, Tribunal de Justiça, Penitenciária Feminina e outros locais públicos que mantinham aquela prática. Registrei tudo em fotos, com minha máquina Olympus Trip 35 que a usava no Jornal como um complemento do trabalho, sem que ninguém percebesse porque ela era pequena, leve e podia ser facilmente transportada em bolsa e servia muito bem para o que me interessava.


Com as fotos reveladas mostrando os constrangimentos sofridos pelas mulheres, principalmente as que visitavam os maridos na prisão da Rua 7 de Setembro, a única e a mais antiga de Manaus, a matéria assinada foi publicada em um domingo, nas páginas de “A NOTÍCIA,”. Na terça-feira, recebi uma carta oficial assinada pelo Secretário de Interior e Justiça, empresário, político e deputado federal, Mário Haddad e pelo seu subsecretário José dos Santos Pereira Braga, do Governo José Lindoso, parabenizando-me pela publicação que fizera. Era a primeira vez que recebia um elogio oficial por matéria assinada que fazia sempre aos finais de semana.

Devido à grande repercussão que a matéria teve junto a sociedade manauara, o então deputado estadual Átila Lins, três vezes presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas, apresentou um projeto de lei propondo a criação e implantação da Polícia Feminina no Amazonas, incorporando-a à Polícia Militar, exclusivamente para acabar com os constrangimentos que mostrara na matéria. O então deputado estadual e agora Federal com várias legislaturas seguidas, contou com inestimável apoio da Primeira Dama do Amazonas, Amine Dou Lindoso, que era a presidente da Central de Voluntários do Amazonas e requisitou muitas policiais femininas para ajudá-la em seu trabalho, sendo atendida pelo governador que era um grande humanista.

Ainda lembro com emoção nomes de algumas pessoas que fizeram parte da primeira turma do concurso aberto pela Polícia Militar para selecionar as policiais femininas que usariam sapatos baixos, saias plissadas, cabelos presos por uma toca e não poderiam usar armas e nem compor qualquer batalhão, como as soldados  Lambeck, que era irmã do advogado criminalista Miguel Lamgbeck Soares no escritório de quem sempre me fazia presente depois que deixava a redação do Jornal, no Palácio do Comércio, mais as soldados Arlene e Sandra. As duas primeiras colocadas no concurso seriam enviadas para fazer o curso superior de polícia na Academia. Arlene e a Sandra, receberam como prêmio do Governo José Lindoso  esse mérito o direito de cursarem a Academia.

Informa o blog do coronel Roberto que “no ano seguinte, a PMM enviou as duas primeiras para enfrentar o curso de habilitação ao oficialato, em SP. Novamente a sargentos Arlene de Oliveira conquistou a primazia de ser a primeira colocada, tornando-se a primeira mulher a alcançar na PMM a patente de oficial (2o tenente). Ela, todavia, não permaneceu na corporação, quando a deixou, foi secundada pela tenente, foi secundada pela tenente Sandra Bulcão que, no corrente ano, alcançou a última parente hierárquica, sendo a primeira coronel da corporação.”. Com a parente de sargentos, as duas foram nomeadas para exercer o comandado da Creche da Polícia Militar, no bairro de Petrópolis. 


Pelo blog do coronel PM Roberto, “Catando Letras & Escrevendo Histórias”, dedicado a registrar fatos históricos relacionados à Polícia Militar, sou informado que no Curso Superior de Polícia, foi concluído em dezembro de 1980 e que as PMs femininas do Amazonas, Antônia Arlene Silva Oliveira e Sandra Regina Bulcão Bringel, conseguiram permanecer com os dois primeiros lugares, entre as 32 formandas, também no curso e que, a coronel Janete Ribeiro Fiuza, comandante das policias femininas de São Paulo, se fez presente à solenidade de entrega de faixas às duas aspirantes, com a presença do comandante-geral da PM no Amazonas, o coronel de exército Wilson Ribeiro Raizer. 

Também fiquei sabendo que foi o coronel PM Wilson Martins, então Chefe da Casa Militar, quem assinou no dia 17 de abril de 1989 a ordem de fechar e incorporar o efetivo feminino aos Batalhões masculinos, quando as então elegantes e discretas policiais femininas passaram a usar coturnos e armas como os homens, acabando com o  “primeiro núcleo das policiais que constituía o Pelotão da P Fem, até o ano de 1986. Com mais efetivo, alcançou o nível de Companhia, constituindo (em) um quadro separado. Três anos depois, no entanto, o comando da PMAM, entendendo que as mulheres deveriam possuir os mesmos direitos e obrigações do efetivo masculino, decidiu incorporá-las ao mesmo quadro. Desaparecia assim a autonomia e, de certa maneira, a essência da Polícia Feminina que, apesar dos entraves, prossegue no contexto geral da PMAM”,  garante o blog do coronel Roberto,  um em historiador dos fatos da Polícia Militar no Amazonas.

Masculinizadas, embora usando batom nos lábios e uma arma na cintura, acabou o meu encanto pelas Policiais Femininas, mas não meu respeito e admiração por também ter participado do processo de criação da Polícia Feminina, que passou de tantas mudanças desnecessárias e acabou com todo o glamour que existia na época! 

Mesmo que com uma matéria apenas, também participei indiretamente da criação da Polícia Feminina no Amazonas, mas o mérito todo foi do hoje deputado federal Átila Lins, que se sensibilizou com os dramas vividos pelas mulheres no início da década de 80 e apresentou o Projeto de Lei! 

5 comentários:

  1. Carlos Coutinho É vivendo e aprendendo com o Literato Carlos Costa. Adorei a matéria, é muito interessante para a história da Polícia Feminina do Amazona

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  2. pretty nice blog, following :)

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  3. Skyne Spirit, Thanks for following my blog

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  4. 25/04/2014 08:46 - Sô Lalá
    Bom dia carlos costa. Com sua discreta máquina fotográfica e a força jornalística, acabou com a prática atípica humilhante com as mulheres nas prisões, onde agentes masculinos procuravam drogas nas genitálias das mulheres. Fizeste um trabalho social de alto relevo. Um abraço.

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  5. 29/04/2014 12:02 - paulo rego
    Caro amigo e bravo jornalista, Carlôs. Uma histórica página, companheiro. São fatos assim, que facilmente seriam esquecidos, que, afinal, compõem a nossa história e que, uma vez registrados, ganham a eternidade. Como sempre, sua crônica enfoca, com sabedoria, uma flagrante da vida do seu Estado, da sua cidade. Um gde abç

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