Se o cheiro caracteriza as pessoas, o meu não tem
tanto perfume. O meu cheiro é mais de suor que de loção mesmo. Ficou espalhado
por aí. Ficou nos cadernos que dava aula. Num pão de melaço e farelo de trigo
que sovo numa prancha de mármore, nesse o cheiro purifica o ar, é mais de quem
passa. Mas há uns tipos de cheiros que me deixam pra baixo. Minha pele cheira
à casca de fruta já passada, mas o miolo da fruta ainda tem energia. E, se a
gente é só cheiro desde o momento em que se acorda ou que ele esteja em toda
parte, eu cheiro a tudo. Minhas meias cheiram a chulé. Minha carteira cheira a
salário esgotado. Os meus escritos têm odor de primos pobres, as músicas odor
de saudades emotivas, os filhos odor de recrutas novos, oh, ainda não terminei
meus dias cheiro, cada dia me espalho.
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