segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

POEMA DO NOSSO PERFUME (para CARLOS COSTA) de João Pinto



Se o cheiro caracteriza as pessoas, o meu não tem tanto perfume. O meu cheiro é mais de suor que de loção mesmo. Ficou espalhado por aí. Ficou nos cadernos que dava aula. Num pão de melaço e farelo de trigo que sovo numa prancha de mármore, nesse o cheiro purifica o ar, é mais de quem passa. Mas há uns tipos de cheiros que me deixam pra baixo. Minha pele cheira à casca de fruta já passada, mas o miolo da fruta ainda tem energia. E, se a gente é só cheiro desde o momento em que se acorda ou que ele esteja em toda parte, eu cheiro a tudo. Minhas meias cheiram a chulé. Minha carteira cheira a salário esgotado. Os meus escritos têm odor de primos pobres, as músicas odor de saudades emotivas, os filhos odor de recrutas novos, oh, ainda não terminei meus dias cheiro, cada dia me espalho.

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