quinta-feira, 28 de novembro de 2013

SAUDADES DE ONTEM



Crônica extraída do livro de Carlos Costa “CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA”, de 1979/1ª Edição, Imprensa Oficial, Manaus-AM e, segunda edição em 1990, Editora Nacional, Belém publicado no blog carloscostajornalismo.blogspot.com, com mais outras 30 crônicas.





Porque hoje é sábado, todos se reúnem na casa de alguém para, perguntando um a um e interrogando os que passam, descobrir na casa de quem será a festa, logo mais à noite. Hoje está definido, a festa não será na minha casa, mas na casa do João, que namorou minha irmã mais não namora mais, mas que tem uma irmã bonita que eu já namorei todos os meninos da rua. É fácil saber onde fica a casa do João.


Definido o local, a notícia corre rápida e até de bairros distantes aparece gente. Da sala principal da casa, foram afastados todos os móveis, que eram poucos, e transportados alguns para o terraço e outros para o quarto. Estava pronto o local da festa para receber os convidados.


O dono, como é lógico, ficou à porta, recebendo os que eram convidados e os que se convidaram porque conheciam alguém, que conhecia outro alguém, que era amigo de um amigo do dono da casa. Ao final, todos entravam, brincavam, dançavam, namoravam e terminavam se conhecendo mesmo.


Eu, tímido, ficava só olhando e ouvindo as músicas de Pepino de Capri, Y Santo California, Gilbert, Nazareth, Michael Jacksson, com seus 10 anos de menino prodígio cantando “Beem”e tantos outros sucessos bons que hoje não se escuta mais. A irmã do João, a única pessoa que interessava praticamente a todos os que lá estavam, dançava com outro e eu não tinha coragem de me chegar.


E a festa entrava noite à dentro, cada vez chegando mais gente. Em frente à casa, muitos jovens olhavam para dentro para ver se havia muitas garotas. Festa sem garotas não era festa. Também tentavam descobrir onde seria a festa da semana seguinte, na casa de quem, e se haveria muitas meninas.


O João, dono de tudo, deixou dar onze horas e parou o som da vitrola Nivico.  Ninguém entendeu nada. De repente, entrou na sua a sua mãe, dizendo que estava na hora. Na hora de quê, de terminar a festa? Foi o que todos se perguntaram ao mesmo tempo. Não, não era de terminar a festa, mas de cantar parabéns, afinal, havia um aniversariante na festa e era o próprio João.


O estranho é que ninguém sabia que ele estava aniversariando. Todos pensavam que aquela era mais uma simples brincadeira de final de semana, como era comum entre todos os jovens. Muitos esboçaram um sorriso e cantaram parabéns a você. Outros se encostaram pelos cantos, confidenciando alguma coisa nos ouvidos das garotas. Eu fiquei parado, esperando um tempo para me chegar à irmã do João. Veio parabéns e todos cantaram, recomeçando a festa em seguida, que só terminou depois das duas da manhã, um horário considerado já muito tarde para todos os jovens daquela época.


Terminada a festa, desci a rua acompanhado de um grupo de rapazes, ouvindo atentamente o falatório das conquistas. O que menos falava, dizia que havia tocado nas mãos de uma garota. Outros iam mais além e apostavam que tinham beijado fulana, irmã de outra fulana, que namorava com fulano. Já outro havia descoberto que uma garota não namorava mais com aquele rapaz e por aí afora.


Eu, calado, só pensava mesmo no dia em que eu poderia me chegar à irmã do João, que namorava minha irmã. Sabia que, em primeiro lugar, eu teria que aprender a dançar coisa que eu considerava muito difícil. Mas, afora isso, a festa tinha sido ótima, afinal, eu pude ver, mesmo de longe, a irmã do João!

TRÂNSITO: A ETERNA IRRESPONSABILIDADE E CONVIVÊNCIA




Para os Agentes de Trânsito João Batista Filho, de BH e Ivan Guimarães, no AM.

Fossem apenas motociclistas dirigindo bêbados e sem capacetes,  com pouca ou quase nenhuma fiscalização de trânsito, principalmente em municípios nordestinos, nada escreveria sobre o assunto. Mas não é só isso. Por trás, existem conivências de autoridades de trânsito, desculpas esfarrapadas  de quem deveria fiscalizar essa “motonificina”  - elevado número de mortes envolvendo motociclistas que não usam capacetes, transportando  famílias inteiras em cima de seus veículos de duas rodas, e, para piorar, descobriram e desbarataram uma quadrilha envolvendo auto-escolas que falsificam CNH, com a participação de autoridades dos departamentos estaduais de trânsito, para “motoristas” que tinham obrigatoriedade de frequentar aulas e fazer provas obrigatórias exigidas pela Lei 9.503, de 23 de setembro de 1977, que instituiu o CTB – Código de Trânsito Brasileiro.

Mas o pior é que em meio aos motociclistas irresponsáveis, há outros pertencentes a corporações militares que não usam seus capacetes ou os usam nos cotovelos, numa autêntica prática “cotovelar” irresponsável, além de policiais civis e militares dirigindo bêbados e dando “carteiradas” nos agentes municipais de trânsito, desrespeitando-os só porque estavam cumprindo o seu dever. Esquecem esses “carteiradores” que no trânsito só existem dois seres, ou uma autoridade legítima, os agentes de trânsito e o motorista, ou seja, os que fiscalizam e os que são fiscalizados, que não passam de simples motoristas atrás de um volante, mesmo que na vida civil seja alguma autoridade ou queiram se arvorar de “artoridades”, amigos de autoridades, mas que sequer tem importância no trânsito caótico e complicado das grandes cidades.

Por isso, não cabe qualquer tipo de arrogância vinda de motoristas militares bêbados, sejam de que patentes forem! A autoridade maior, no caso, é a do agente de trânsito no momento da abordagem! E fim de papo!

Há, ainda, motoristas que continuam dirigindo bêbados matando pessoas, entrando e saindo pela porta da frente das Delegacias, embora a Lei de Trânsito já tenha sido modificada, determinando “tolerância zero” para quem bebe e dirige, mas os delegados de trânsito nem sempre pensam da mesma maneira que os Ministros do STF.  Essa nova interpretação pelo STF não serviu para inibir a prática de beber e dirigir e nem para punir os motoristas irresponsáveis, principalmente porque os infratores têm sempre proteção de pessoas importantes ou são autoridades ou, ainda, amigos de algumas autoridades que deveriam se envergonhar de tê-los como amigos.

Depois da aprovação da Lei da “tolerância zero” aumentou o número de motoristas que dirigem embriagados, drogados, arrebitados, entrando e saindo pela porta da frente das delegacias e continuam como se não tivessem deixado uma família enlutada pelas suas irresponsabilidades. Isso já passou a ser um escárnio à Justiça! O que mais tenho visto são delegados, Detran’s, juízes, desembargadores, ministério publico e outras autoridades totalmente omissas no trânsito para fazer cumprir a Lei da “tolerância zero”. É uma autoridade passando a culpa e a irresponsabilidade para outra autoridade. Um não faz nada. O outro também não faz.

Voltemos para o tema de minha crônica inicial. É vergonhoso ver motociclistas dirigindo bêbados, sem o uso de capacites, destruindo lares e matando pessoas, entrando e saindo pela frente da porta das delegacias e ninguém faz nada e ainda dizendo que não estão bêbados, mesmo não se agüentando em pé.

Cidades pequenas, mesmo sem qualquer tipo de fiscalização ou pouca fiscalização de trânsito, não lhes são dadas o direito de desconhecer o texto da Lei, como a nenhum outro cidadão lhes é dado também. O que ocorre é que sem a municipalização do trânsito em cidades pequenas, muitos prefeitos ainda não visualizaram essa importância, como também não lhes é importante nomear comissões de fiscalizações de saúde, de erradicação do trabalho do infantil, de combate e educação sobre droga, de trabalho emprego e renda e outras, porque as Comissões, quando funcionam, não permitem que os prefeitos embolsem dinheiro do erário público.

É assim que a “humanidade caminha”! Lamentavelmente.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

PAIXÃO, AMOR E ÓDIO...



 
Sentimentos conflitantes e sempre antagônicos, a paixão, o amor e o ódio são todos ligados por uma fina linha que os separa, mas quando essa fina linha se quebra aparecem dores, sofrimentos, angústias, desesperos, solidão, tristeza e uma pitada de ódio entre os envolvidos.  Os três sentimentos, por incrível que possa parecer, têm origem em um só local: no coração das pessoas embrutecidas pela necessidade da sobrevivência no mundo do “ter individual”, hoje mais importante que o do “ser coletivo”. No mundo “ter individual” passa-se a que acreditar não sobra tempo para se pensar no “ser coletivo”. Mas é um engano!


As pessoas que pensam assim se importam cada vez menos com o bem estar do outro, se embrutecem e passam a acumular ódio e inveja dentro de seus corações. Mas, será que isso se faz necessário: o individualismo, a inveja do outro e tanto ódio o coração das pessoas, prejudicando-as? Não seria mais perfeito se a sociedade e a vida fossem mais simples, menos complexa e cheia de disputas para ver quem chega à frente ou quem chegará por último? Tudo simples, assim!


O individual está se impondo ao coletivo dentro da sociedade que deveria ser plural, representando um grave retrocesso social, moral e ético! Mas podemos recuperar esse processo, adicionando uma pitada de carinho coletivo, um pouco de perfume de flores e acrescentando uma pitada de racionalidade no pensar coletivo. Tudo é possível para se transformar o mundo, como sempre diz e acredita o professor de história, jornalista e escritor goiano de Uruana, Dhiogo José Caetano.  Mas, essa mudança deve e tem que começar dentro de cada ser individual, como uma bola que gira em destino a um gol depois de chutada. Também como uma bola, ela pode ir depressa ou lenta demais, ao ponto do goleiro agarrá-la porque não se transforma nada se os valores sociais, éticos e morais também não forem transformados. Depende de cada um!


Se todos olhassem mais para dentro de si e deixassem de ficar procurando defeitos nos outros, que também lhes são natos e inatos embora desconheçam e transportarem para dentro de seus corações essas diferenças individuais; se cada um se assumisse como é: gordo, magro, esquelético, se bebe, se não bebe ou outro tipo de bobagem superficial e desqualificada, sem temer críticas da sociedade que impõe escravagista que impõe valores a serem seguidos – mas esquece que o principal valor é o ético, moral e a crença em qualquer coisa, Deus ou no que acredita de verdade os membros da sociedade –, que findam se transformando em raiva, briga entre desafetos que se tornaram as pessoas, o mundo já seria um pouco melhor, com mais amor entre todos. Mas nem sempre as pessoas estão preparadas para aceitar e conviver bem com os diferentes e buscam encontrar em um espelho imaginário de suas mentes, um bem ou modelo ideal imposto pelos valores da sociedade que mudam a toda hora, só para fazer comparações ridículas e inúteis do que poderia ter sido se tivesse seguido as regras impostas.


Os três sentimentos – paixão, amor e ódio – não se misturam, mas também não se separam. Andam sempre juntos e de uma hora para outra, o que era paixão se transforma em ódio e o que era amor se esvai em raiva mútua. Nessa hora, temos que parar e pensar, respirar fundo e fazer uma prece pelo que acredita e continuar seu caminho como se nada tivesse acontecido. Acredito em transformação na sociedade, a partir do momento que se a conhece e os próprios membros da sociedade queiram e aceitam as mudanças propostas. Como dizia K. Marx, “não basta ver e conhecer, tem que transformar”, frase usada para diversas propagandas de inúmeros produtos, como a que diz uma delas: “não basta ser pai, tem que participar”, etc.


Mas como disse a leitora carioca Clarice Clarice, no Facebook, comentando a publicação de uma frase publicada do livro “Mestre dos Magos” dizendo: “algumas vezes, o melhor jeito de convencer alguém que está errado, é deixá-lo seguir seu próprio caminho”. Nessa frase, deixei o comentário “errar é humano, permanecer no erro é burrice e justificar o erro é tolice! É melhor calar”!


 Clarice Clarice respondeu ao meu comentário, com dizendo: “explicar é permitido porque as visões são diferentes; mas mudar a explicação; não, porque a verdade é uma só!”.  Como você Clarice, eu acredito que a verdade seja uma só. Mas, infelizmente, na sociedade individualista de hoje, quando várias mentiras repetidas seguidamente, se transformam em verdades absolutas e incontestáveis até mesmo para quem mente sem pensar que o amanhã vai revelar a verdadeira verdade, está muito difícil mudar alguma coisa se os valores éticos, moral, social e político, com bons exemplos para a sociedade segui-los, também não forem mudados!


É uma pena!


Mas não acredito em qualquer tipo de mudança na sociedade que não surja como resultado de uma total e completa “implosão social”, de dentro para fora!