segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O FILME, A CHUVA E O FRIO!




Sentia frio deitado dentro da rede, sempre que estava assistindo a qualquer filme no qual se formasse tempo de chuva e me embrulhava dos pés à cabeça porque pensava que, assim, ficaria protegido. Também gostava de dormir com o barulho de chuva caindo em cima do zinco e das palhas que cobriam nossa casa no bairro da Betânia, pensando na casa em que moramos no  “Varre-Vento”, distrito do município de Itacoatiara.

No cinema, se assistia a filme com chuva também, só cruzava os braços sobre o peito para disfarçar que eu estava sentindo frio também. Os olhares sobre meu gesto eram indisfarçáveis. “Será que esse rapaz está com frio mesmo?”, deviam se perguntar os que para mim olhavam. É, estava mesmo sentindo frio, só que ninguém poderia saber, por isso cruzava apenas os braços por falta de cobertas no cinema, como existem em aviões.

A selva que via em filmes de Tarzan ou em qualquer outro que assistia com o mesmo cenário, lembrava-me do sítio em que residi em “Varre-Vento” por onde gostava de correr por baixo das árvores  em meio a chuva,  ouvindo os gritos de minha “menino, sai da chuva, você vai ficar doente”. E eu lá queria saber de atender minha mãe, queria era correr,  me divertir sozinho ou com os irmãos que em algumas vezes apreciavam minhas loucuras infantis e se divertiam ao meu lado.

Muitas vezes, parava para me deliciar com a água que escorria pela “biqueira” da casa. Diziam que a água que caía do céu pela chuva era uma das mais limpas que podiam existir, mas nunca bebi porque tinha medo, embora não tivesse medo de quase nada e sonhasse com dias melhores, apenas!

Deitado na rede, assistindo a um aparelho de televisão em preto e branco, com válvulas que demoravam a aquecer para surgir à imagem, como se fosse mágica, imaginava minha vida, não com frio da chuva dos filmes, não só correndo em meio aos pés de cacau nativo de meu avô, no Varre-Vento, muito menos colhendo folhas de fumo que José Raimundo enrolava em formato de corda e depois cortava em partes para preparar seus “cigarros de palha” enrolados em papelinhos, ou vendo meu irmão Roberto bebendo leite “direto da fonte”, socando o ubre da vaca como se fosse um bezerro com raiva; mas uma bem diferente, só não esperava que fosse tomando remédios todos os dias para combater duas infecções hospitalares ainda incuráveis para a medicina!

Ah, como era gostoso assistir aos filmes com chuva, sentir um frio gostoso e me embrulhar todo, dos pés à cabeça, mesmo quando estava fazendo calor, pensando nas peripécias que fazia quando morava no interior!



Um comentário:

  1. Lembranças de um tempo eternizado na memória nos fazem sorrir e pensar que a vida sempre valeu a pena!
    Dias de chuva pra mim é recordar quando pequena eu olhava pela janela os pingos se estatelando na vidraça... Eu ficava acompanhando cada desenho que se formava na minha mente imaginária...
    Meu cordial abraço,
    Yolanda

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