sábado, 5 de maio de 2012

NAMORO ADOLESCENTE I

NAMORO ADOLESCENTE!

Um anel exibido em um dedo qualquer do rapaz para exibí-lo aos colegas; passeio de mãos dadas com a provável namorada, mas sem olhar para a garota; fotos na carteira também para sair mostrando e confirmar que estava “namorando com a garota”; beijos, só no rosto, mesmo quando estavam dentro dos escuros dos cinemas entre uma e outra passagem dos chamados “lanterninhas”

Estes atos indicavam e davam início aos namoros dos adolescentes, nos anos 70, sem beijo de língua porque seria considerado “namoro sério” e a moça poderia não gostar “dessas saliências”...
O namoro sério mesmo, só era considerado depois que o rapaz pedisse à mão da moça em namoro, ao pai dela. Nesse momento, as coisas se davam mais ou menos assim:
- Quero pedir a mão de sua filha para namorar?
- Em que você trabalha meu filho?
-Vendo picolé, mas estudo muito e quero ser alguém!
- Você acha que vai conseguir sustentar minha filha com o emprego que tem?
?
- Está autorizado o namoro, mas terá horário, viu? No máximo, até as 21 horas e não pode passar disso. E se quiser...!
Nos anos 80, uma música romântica oferecida em arraias de igrejas  era considerada uma forma de paixão explícita. Mas continuava sem beijo de língua porque a moça “é direita” e não “é dada a essas intimidades imorais...”

As músicas eram sempre oferecidas pelos autos falantes das igrejas, geralmente durante festejos juninos. Com o locutor impostando a voz, anunciava:

 – “O fulano de tal, trajando a roupa tal, com os quatro pneus arriados pela fulana de tal, presente aqui na festa, vestida com a roupa tal...” e a moça era toda descrita, “oferece essa linda página musical”. O rapaz tinha a certeza que a moça estava presente no arraial da Igreja porque já a tinha visto, anotando todos os detalhes  de como se encontrava para poder descrevê-la por escrito ao locutor.

Era o máximo para quem anunciava e para quem escutava o anúncio. Era o início de um provável namoro de um casal adolescente. Depois, se frequentava a casa da moça e pedia sua mão ao pai. Ruim era quando o pai, na maior cara dura, não atendia aos desesperados pedidos de namoro.

Era como desse uma tapa na cara do ex-provável quase galã da filha! 

Contudo, nos anos 70, lembro-me de quando comprei minha primeira bicicleta usada, sem freio,  cheia de ferrugem  e com pneus carecas e, ansioso para mostrá-la para todo mundo, pedalei mais de 3 km até a residência da namorada que havia conhecido na Escola Dorval Porto.
Fui recebido pelo pai da moça, muito bonita, cabelos longos, um dente de ouro na boca. Como eu nunca a tinha encontrado antes, se todos os dias eu frequentava as aulas?
- Por que você está todo molhado, meu filho?
- Vim de bicicleta!
- Isso aí é uma bicicleta, pensei que fosse apenas uma sucata!
- O que você faz na vida?
- Estudo na mesma Escola que sua filha e vendo jornais na rua!
- O senhor acha que com isso vai conseguir dar um conforto adequado à namorada que você quer?
- Não autorizo não porque minha filha é uma moça direita!
E quem disse que casaria com aquela namorada?
Fiquei meio sem jeito, inventei a desculpa que estava com dor de cabeça e pedalei mais 3 km de volta para casa. Cheguei em minha casa e fui dormir!

Era assim que as coisas aconteciam naquela época, muitas vezes davam certo; de outra forma, como este decepção, não! Mas o que valia mesmo, era a tentativa de se aventurar nos amores da ocasião.