quinta-feira, 12 de abril de 2012

"MENINO JORNALEIRO"


O “menino jornaleiro” olhava para o alto e via tremular ao vento folhas de frondosas palmeiras imperiais; olhava para baixo e  visualizava, em suas lembranças, os trilhos de bonde que rasgavam a rua de paralelepípedo que enfeitava a Manaus de outrora.

Ah, quantos homens e mulheres apaixonados não devem ter sido transportados pelos bondes que o “menino jornaleiro” não chegou a vê-los!?

Nunca o “menino jornaleiro” há de saber por que tudo que ele escreve só ficou mesmo na sua imaginação de adolescente, pois as palmeiras, os trilhos de bondes, os paralelepípedos foram impiedosamente arrancados e deram  lugar ao “progresso” com a construção de uma grande estação de ônibus na Praça da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, a padroeira.

Foi sob aos olhos da Padroeira de Manaus que o progresso chegou sem lhe pedir a bênção. O prefeito Jorge Teixeira de Oliveira, em nome do progresso, mandou arrancar tudo e colocou um asfalto negro, como negra era a noite que embalava o coração dos apaixonados que se dirigiam à Matriz.  

Foi-se embora o romantismo e chegaram os problemas sociais que acompanharam o progresso! Prostituição, tráfico, ambulantes, bares e tudo o mais onde antes havia apenas zoológico, flores, palmeiras, trilhos de bondes...Ah, como era gostoso passear e tirar “retratos” na grama verde que cobria meu passado! Restaram apenas um relógio e um obelisco que marcaria o local da fundação da cidade.
Mas, hoje, vá saber se foi o local exato da fundação de Manaus, mesmo?

Desconfio que lá não teria sido porque uma cidade não surge com local demarcado, com certidão de nascimento e tudo. As pessoas simplesmente chegam, constroem suas casas e depois se procura um local para registrar, na história, onde teria se iniciado.  Só que no Marco Zero existe uma única edificação. Como ter certeza que Manaus surgiu naquele local mesmo? Não teria sido em outro?

O “menino jornaleiro” caminhou muito pela Praça da Matriz, o tabuleiro da baiana, o pavilhão São José, na década de 70. O menino sempre volta a esses locais para reencontrar sua juventude perdida, mas não a reencontra porque ela também se foi sem lhe dizer adeus!

Simplesmente se foi para dar lugar a um progresso que invadiu sua bucólica Manaus de apenas 270 mil habitantes para dar lugar aos graves problemas sociais em uma cidade de 1,8 milhões de habitantes.

Fica atônito, meio abobalhado e começa a recordar os ônibus de madeira que estacionavam de um lado e do outro do Pavilhão José! Eram duros, pulavam muito, mas pertenceram a uma época romântica de uma cidade que se viu sendo destruída pelo progresso!

O menino não era contra o progresso, até por que o sabia inevitável, mas este deveria chegar, ao menos, vir de uma forma ordeira, planejada e não desplanejada como ocorreu, destruindo tudo e não permitindo sequer que a geração de hoje relembre pelo menos, como era linda e bucólica a Manaus que o “Menino Jornaleiro” conhecera em 1969 a vira sendo destruída aos poucos.

Primeiro arrancaram as palmeiras, depois os trilhos de bondes, logo em seguida todos os paralelepípedos. Aliás, onde foram replantadas ou recolocadas todas as lembranças do menino jornaleiro?

Ah, que saudades sente do chafariz que existia em frente ao Olímpico Clube, retirado para dar lugar também à implantação de um projeto de corredor de ônibus pela antiga João Coelho, e nunca mais fora reencontrado!

Ah, tudo isso o “menino jornaleiro” sente falta hoje em suas lembranças e em seu coração! Foi um pedaço da história que foi arrancada, mas permanecerá viva em sua memória do menino que se tornou cronista!