quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A ESPERANÇA



Depois daquele morro que se avista à frente, cercado de verde por todos os lados, e que ao fundo possui um lago tranquilo, existe uma cidadezinha, construída há muitos anos, mas que insiste em permanecer no mapa.

Dela, poucos se recordam com precisão e são raros os que dela sabem o nome – Esperança. Esse nome tem uma origem curiosa e ninguém afirma ao certo se o nome nasceu com a cidade se se passou existir desde que descobriram uma antiga moradora, talvez a última que insistia em permanecer no local.

Durante muitos ans aquela cidade viveu da esperança de um trem maria-fumaça que teimosamente passava por lá. Trazia notícias da cidade grande, gente curiosa e visitantes também. Levava de cá gente triste com a partida e deixava, na estação, além do barulho ensurdecedor da fricção das rodas do trem com os trilhos e do seu apito estridente, lágrimas teimosas dos que ficavam e dos que partiam. Também levava acenos de braços cansados e de mãos que abanavam chapéus e de braços longos que seguravam os lanços brancos.

Tudo era motivo de tristeza: a chegada de alguém para aquele fim de mundo e a partida de outrem em busca de melhorias na capital. A chegada era triste para os que chegavam da cidade grande e se deparavam com uma cidade calma, pequena, onde o tempo não passava e onde as coisas pareciam se repetir sempre.

Com a desativação da linha de trem, a cidade foi perdendo a razão de existir e as pessoas  começaram a ir embor.A rua rincipal estava
deserta, o cemitério estava abandonado e a igreja não abria mais. Era uma cidade quase fantasma, não fosse a existência de uma moradora que ainda restava em Esperança – se é que ele era o verdadeiro nome da cidade.

Na antiga estação de trem em ruinas, uma senhora de grande idade olhava  todos os dias para o relógio que ainda marcava a hora da chegada do trem e, talvez, a hora que marcou a sua última viagem.

- A senhora mora sozinha aqui? – perguntei, sem esperar uma resposta convincente.
- Não, eu não moro sozinha. Você mora aqui também, ou não mora.
- Não, eu não moro aqui – respondi.
- Você também veio esperar o trêm?
- Que trem?
- O trem que todos os dias vem aqui me trazer notícias da cidade, ora!
- Não há mais trem aqui. Ele deixou de vir há muito tempo!
- Como não há mais trem? Todos os dias eu o vejo chegar, sempre na mesma hora que o relógio ali – e apontou para o relógio, está marcando. Ele traz e leva pessoas daqui.
- A senhora espera alguem em especial?
- Sim. Eu espero a esperança?
- Quem é a esperança?
- Esperança, você não conhece a esperança? De onde  veio que não conhece a esperança?
- Desculpe-me, senhora, mas  não sei quem é essa esperança!
- Aqui todos conhecem a esperança. Ela é quem nos mantém vivos.
- Ela é o médica do lugar?
- Ela é mais que a médica do lugar. Ela é a vida desse lugar. Se não fosse a esperança nós não poderíamos viver!
- Afinal senhora, quem é essa esperança?
- Ela é quem nos guia, nos dá rumos, nos orienta, nos faz acreditar no futuro, nos faz acreditar que Deus existe e é poderoso, nos faz pensar em dias melhores...
- Continuo não entendendo quem é essa esperança que a senhora tanto espera.
- Desculpe-me moço, mas agora tenho que ir...
- O que aconteceu? O trem já chegou ou a esperança não veio?
- Ora, moço, como você é estúpido! O trem passou mas não parou porque enquanto eu conversava, você me fez perder a esperança e é sempre assim.  Se a gente esquece a esperança, as coisas passam em nossa vida e nós nem as sentimos!
A senhora idosa virou-se de costas, caminhou rápido e desapareceu  rápido naquela cidade quase fantasma.
Eu fiquei parado sem conhecer a esperança, ou melhor, eu também perdi a esperança!

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